- Propina com donos de jornais?
- Não. Ainda não.
- Desistiu de forjar o assassinato?
- Não. - Fez breve silêncio. - Ainda não.
- O que eu tenho que fazer pra você dizer um sim?
- Pergunte se eu quero ficar sozinho.
- Você parece chateado hoje. - Buscou os olhos de Arthur, porém este abaixou a cabeça. - Não está gritando nem nada.
- Ela me desanimou.
- Eu não disse? Você nunca me contaria nada se...
- Sério, que ser desprezível.
- Ela?
- Sim.
Antoine sorriu ao ouvir o "sim". Estava sentado sobre uma mesa, em uma sala pequena, de frente para uma poltrona preta, de couro macio. Uma garrafa de cerveja em sua mão, outra na mão do homem a sua frente, que parecia desolado, afundado no estofado. O lugar estava frio e porcamente iluminado por uma lâmpada amarelada que pendia do teto rodeada de fios soltos. O jovem balançava os pés, esfregando um dos dedos no gargalo, e observava cuidadosamente a bagunça ao seu redor. Muitas fotografias de Agatha, anotações, jornais, livros e mais livros e um armário - talvez a única coisa organizada - onde estavam os vídeos gravados pelas câmeras escondidas, identificados um a um por etiquetas brancas e azuis. Na frente da bancada, junto a parede, cortinas cinzas e manchadas escondiam uma tela realmente grande, de onde mais uma vez se via o quarto espelhado e a cama espaçosa.
- Mudou os planos?
- Pra ser sincero, eu sempre tenho mais de um plano para uma mesma situação. - Arthur arrastou com os pés, para perto da poltrona, uma caixa de isopor um tanto pesada. Levantou a tampa, pegou mais uma garrafa verde do gelo e empurrou a caixa para baixo da mesa.
- Larga de ser miserável e compra um frigobar.
- Não me incomoda.
- Você bebeu demais já, está falando enrolado.
- Pago você pra calar a boca, não pra ser minha mãe.
Antoine insistiu em colocar a ponta do polegar para dentro do gargalo, fazendo um ruído desagradável. Recebeu um último olhar de reprovação, que chegou acompanhado de uma proposta:
- Leve a menina pra casa e convença-a a voltar.
- Oi?
- Persuasão, meu caro. Você tem que aprender a ditar a verdade.
- Eu faço isso com as mulheres...
- Os bons negócios não acontecem sempre com jogadores novos e inexperientes, em noites regadas a bebida e sexo, garoto.
- Você pretende me ensinar a jogar?
- Não, é claro. Você monta o seu próprio jogo, com a sua estratégia. - Arthur acariciou o queixo, como se beliscasse uma barbicha imaginária. Os olhos brilhavam de um jeito maldoso.
- E o que o resto faz?
- Resto?
- Você tem muita gente, milhares de diretores e contatos, gente rica, de poder, gente que...
- ...que não vê a hora de pôr as mãos no que é meu.
- É tão visível assim?
- A Lorah, por exemplo... - Suspirou. - Esperando o Rudolf morrer de infarto ou qualquer coisa dessas...
- Ele é o que, seu sócio?
- Eu sou o dono de tudo. Sozinho. Deixo ele no controle, quando não estou.
- Ele tem cara de babaca.
- Ele é.
- Se é essa a imagem que você quer que tenham dele, então você está blefando ou... hum... - Antoine apoiou a garrafa da mesa, ao seu lado, e olhou curioso para o homem a sua frente.
- Errado. A resposta para sua dúvida é muito simples, meu caro: ele é o único que teme.
- Então ele não seria um alvo fácil para os outros, que querem pegar o lugar dele e o seu?
- Eu o ensinei a temer a mim, convencendo-o de que é muito mais vantajoso e seguro ser leal a uma só pessoa...
- Ele nunca me deu ordens, mas ouvi dizer que não é muito rígido.
- Ele é trouxa. Aquele gordo repugnante... só serve para entupir minhas narinas com charutos e gastar dinheiro com putas.
- Me admiro de você querer um cara assim no seu lugar...
- Hey, garoto, eu não disse isso. Dose suas palavras. - Arthur inclinou a cabeça, de forma a encarar Antoine por cima dos óculos, que estavam limpos dessa vez. Sua expressão mudou; estava sério e sóbrio. Sustentou a posição por uns segundos, então se rendeu ao conforto da poltrona mais uma vez. Prosseguiu descontraído:
- Eu também quero ver aquele balofo num caixão logo logo...
- Você é estranho. - Antoine fez uma careta, fechou os olhos e saboreou o último gole de cerveja.
- Não entendeu meu plano ainda?
- Eu entendi que isso é um treinamento.
- E você sabe que deve provar ser melhor do que eles.
- Hum, é. - O jovem evitou o rosto sombrio do chefe, se ocupando em tirar a poeira da calça, com tapinhas leves. - Isso aí...
- Você entendeu quem são eles?
- Eles... o seu pessoal.
- Também. - Consentiu, tossindo de maneira simpática.
- Tem mais gente na disputa?
- Depende de quem você incluiu no 'meu pessoal', Thomas...
- Eu não...
- Eu sei, eu sei, Antoine... não tenho mais a sua idade, tenho o direito de esquecer algumas coisas. - Dito isso, a sala ficou silenciosa por poucos minutos. Antoine pulou da mesa, deu poucos passos e optou por se escorar na parede, sustentando-se na perna que dobrara. Mexia nos cabelos como se estivesse nervoso e olhava apreensivo para Arthur.
- A garota, a Agatha... ela não serve mais, é isso?
- Não.
- Pensei que ela fosse tipo "a escolhida" ou algo do gênero.
- Eu também. - Riu ao ver a cara assustada de Antoine. - Mas não é.
- Você ia mimá-la e ensinar a liderar os seus projetos?
- Não. Você mesmo disse que ela era uma cobaia. - Riu mais uma vez. - Eu não sou exatamente o cara que sustenta pessoas para fazê-las felizes. - Pegou um chaveiro que estava na bancada, onde havia um pequeno botão preto, que rapidamente foi acionado, projetando uma luz vermelha. Apontou-o na direção de Antoine, que parecia querer entrar na parede, tamanho era seu nervosismo. - Tudo tem seu preço, meu caro.
- Quanto custa o meu trabalho aqui?
- A sua vida... - Pigarreou, virando os olhos. - Você sabe.
- É injusto, eu não sou como a Lorah ou nenhum desses...
- Agora você sabe como Rudolf se sentiu.
- Você faz chantagem com ele, mas com os outros...
- Os outros provam do próprio veneno. - Silenciou. - Veja você mesmo. - Arthur bateu uma mão na outra duas vezes, então puxou as cortinas para os lados. Um novo quarto apareceu na tela, dessa vez muito branco e sem escada. Havia uma porta em um dos cantos e uma cama magra, onde uma mulher estava adormecida. Os cabelos muito vermelhos contrastavam com a frieza do ambiente.
- Mas... Arthur, essa é a Lorah... - Antoine parecia tremer enquanto falava.
- Era, garoto... era.
- Não. Ainda não.
- Desistiu de forjar o assassinato?
- Não. - Fez breve silêncio. - Ainda não.
- O que eu tenho que fazer pra você dizer um sim?
- Pergunte se eu quero ficar sozinho.
- Você parece chateado hoje. - Buscou os olhos de Arthur, porém este abaixou a cabeça. - Não está gritando nem nada.
- Ela me desanimou.
- Eu não disse? Você nunca me contaria nada se...
- Sério, que ser desprezível.
- Ela?
- Sim.
Antoine sorriu ao ouvir o "sim". Estava sentado sobre uma mesa, em uma sala pequena, de frente para uma poltrona preta, de couro macio. Uma garrafa de cerveja em sua mão, outra na mão do homem a sua frente, que parecia desolado, afundado no estofado. O lugar estava frio e porcamente iluminado por uma lâmpada amarelada que pendia do teto rodeada de fios soltos. O jovem balançava os pés, esfregando um dos dedos no gargalo, e observava cuidadosamente a bagunça ao seu redor. Muitas fotografias de Agatha, anotações, jornais, livros e mais livros e um armário - talvez a única coisa organizada - onde estavam os vídeos gravados pelas câmeras escondidas, identificados um a um por etiquetas brancas e azuis. Na frente da bancada, junto a parede, cortinas cinzas e manchadas escondiam uma tela realmente grande, de onde mais uma vez se via o quarto espelhado e a cama espaçosa.
- Mudou os planos?
- Pra ser sincero, eu sempre tenho mais de um plano para uma mesma situação. - Arthur arrastou com os pés, para perto da poltrona, uma caixa de isopor um tanto pesada. Levantou a tampa, pegou mais uma garrafa verde do gelo e empurrou a caixa para baixo da mesa.
- Larga de ser miserável e compra um frigobar.
- Não me incomoda.
- Você bebeu demais já, está falando enrolado.
- Pago você pra calar a boca, não pra ser minha mãe.
Antoine insistiu em colocar a ponta do polegar para dentro do gargalo, fazendo um ruído desagradável. Recebeu um último olhar de reprovação, que chegou acompanhado de uma proposta:
- Leve a menina pra casa e convença-a a voltar.
- Oi?
- Persuasão, meu caro. Você tem que aprender a ditar a verdade.
- Eu faço isso com as mulheres...
- Os bons negócios não acontecem sempre com jogadores novos e inexperientes, em noites regadas a bebida e sexo, garoto.
- Você pretende me ensinar a jogar?
- Não, é claro. Você monta o seu próprio jogo, com a sua estratégia. - Arthur acariciou o queixo, como se beliscasse uma barbicha imaginária. Os olhos brilhavam de um jeito maldoso.
- E o que o resto faz?
- Resto?
- Você tem muita gente, milhares de diretores e contatos, gente rica, de poder, gente que...
- ...que não vê a hora de pôr as mãos no que é meu.
- É tão visível assim?
- A Lorah, por exemplo... - Suspirou. - Esperando o Rudolf morrer de infarto ou qualquer coisa dessas...
- Ele é o que, seu sócio?
- Eu sou o dono de tudo. Sozinho. Deixo ele no controle, quando não estou.
- Ele tem cara de babaca.
- Ele é.
- Se é essa a imagem que você quer que tenham dele, então você está blefando ou... hum... - Antoine apoiou a garrafa da mesa, ao seu lado, e olhou curioso para o homem a sua frente.
- Errado. A resposta para sua dúvida é muito simples, meu caro: ele é o único que teme.
- Então ele não seria um alvo fácil para os outros, que querem pegar o lugar dele e o seu?
- Eu o ensinei a temer a mim, convencendo-o de que é muito mais vantajoso e seguro ser leal a uma só pessoa...
- Ele nunca me deu ordens, mas ouvi dizer que não é muito rígido.
- Ele é trouxa. Aquele gordo repugnante... só serve para entupir minhas narinas com charutos e gastar dinheiro com putas.
- Me admiro de você querer um cara assim no seu lugar...
- Hey, garoto, eu não disse isso. Dose suas palavras. - Arthur inclinou a cabeça, de forma a encarar Antoine por cima dos óculos, que estavam limpos dessa vez. Sua expressão mudou; estava sério e sóbrio. Sustentou a posição por uns segundos, então se rendeu ao conforto da poltrona mais uma vez. Prosseguiu descontraído:
- Eu também quero ver aquele balofo num caixão logo logo...
- Você é estranho. - Antoine fez uma careta, fechou os olhos e saboreou o último gole de cerveja.
- Não entendeu meu plano ainda?
- Eu entendi que isso é um treinamento.
- E você sabe que deve provar ser melhor do que eles.
- Hum, é. - O jovem evitou o rosto sombrio do chefe, se ocupando em tirar a poeira da calça, com tapinhas leves. - Isso aí...
- Você entendeu quem são eles?
- Eles... o seu pessoal.
- Também. - Consentiu, tossindo de maneira simpática.
- Tem mais gente na disputa?
- Depende de quem você incluiu no 'meu pessoal', Thomas...
- Eu não...
- Eu sei, eu sei, Antoine... não tenho mais a sua idade, tenho o direito de esquecer algumas coisas. - Dito isso, a sala ficou silenciosa por poucos minutos. Antoine pulou da mesa, deu poucos passos e optou por se escorar na parede, sustentando-se na perna que dobrara. Mexia nos cabelos como se estivesse nervoso e olhava apreensivo para Arthur.
- A garota, a Agatha... ela não serve mais, é isso?
- Não.
- Pensei que ela fosse tipo "a escolhida" ou algo do gênero.
- Eu também. - Riu ao ver a cara assustada de Antoine. - Mas não é.
- Você ia mimá-la e ensinar a liderar os seus projetos?
- Não. Você mesmo disse que ela era uma cobaia. - Riu mais uma vez. - Eu não sou exatamente o cara que sustenta pessoas para fazê-las felizes. - Pegou um chaveiro que estava na bancada, onde havia um pequeno botão preto, que rapidamente foi acionado, projetando uma luz vermelha. Apontou-o na direção de Antoine, que parecia querer entrar na parede, tamanho era seu nervosismo. - Tudo tem seu preço, meu caro.
- Quanto custa o meu trabalho aqui?
- A sua vida... - Pigarreou, virando os olhos. - Você sabe.
- É injusto, eu não sou como a Lorah ou nenhum desses...
- Agora você sabe como Rudolf se sentiu.
- Você faz chantagem com ele, mas com os outros...
- Os outros provam do próprio veneno. - Silenciou. - Veja você mesmo. - Arthur bateu uma mão na outra duas vezes, então puxou as cortinas para os lados. Um novo quarto apareceu na tela, dessa vez muito branco e sem escada. Havia uma porta em um dos cantos e uma cama magra, onde uma mulher estava adormecida. Os cabelos muito vermelhos contrastavam com a frieza do ambiente.
- Mas... Arthur, essa é a Lorah... - Antoine parecia tremer enquanto falava.
- Era, garoto... era.
2 comentários:
Hum...treinamento pra Antoine né. O teste fainal dele vai ser ter que provar que tem coragem para "matar" o Arthur.
Ah o Chefão é o persona mais tri da historinha, ele é totalmente sem nenhum escrúpulo, e isso o torna muito foderoso.
Boa história, mas tu me disse que ia colocar sexo e ação nos próxmos capítulos...huahauhahuaa.
uuuuuuuau! *.*
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