segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

pt. 5

- Propina com donos de jornais?
- Não. Ainda não.
- Desistiu de forjar o assassinato?
- Não. - Fez breve silêncio. - Ainda não.
- O que eu tenho que fazer pra você dizer um sim?
- Pergunte se eu quero ficar sozinho.
- Você parece chateado hoje. - Buscou os olhos de Arthur, porém este abaixou a cabeça. - Não está gritando nem nada.
- Ela me desanimou.
- Eu não disse? Você nunca me contaria nada se...
- Sério, que ser desprezível.
- Ela?
- Sim.
Antoine sorriu ao ouvir o "sim". Estava sentado sobre uma mesa, em uma sala pequena, de frente para uma poltrona preta, de couro macio. Uma garrafa de cerveja em sua mão, outra na mão do homem a sua frente, que parecia desolado, afundado no estofado. O lugar estava frio e porcamente iluminado por uma lâmpada amarelada que pendia do teto rodeada de fios soltos. O jovem balançava os pés, esfregando um dos dedos no gargalo, e observava cuidadosamente a bagunça ao seu redor. Muitas fotografias de Agatha, anotações, jornais, livros e mais livros e um armário - talvez a única coisa organizada - onde estavam os vídeos gravados pelas câmeras escondidas, identificados um a um por etiquetas brancas e azuis. Na frente da bancada, junto a parede, cortinas cinzas e manchadas escondiam uma tela realmente grande, de onde mais uma vez se via o quarto espelhado e a cama espaçosa.
- Mudou os planos?
- Pra ser sincero, eu sempre tenho mais de um plano para uma mesma situação. - Arthur arrastou com os pés, para perto da poltrona, uma caixa de isopor um tanto pesada. Levantou a tampa, pegou mais uma garrafa verde do gelo e empurrou a caixa para baixo da mesa.
- Larga de ser miserável e compra um frigobar.
- Não me incomoda.
- Você bebeu demais já, está falando enrolado.
- Pago você pra calar a boca, não pra ser minha mãe.
Antoine insistiu em colocar a ponta do polegar para dentro do gargalo, fazendo um ruído desagradável. Recebeu um último olhar de reprovação, que chegou acompanhado de uma proposta:
- Leve a menina pra casa e convença-a a voltar.
- Oi?
- Persuasão, meu caro. Você tem que aprender a ditar a verdade.
- Eu faço isso com as mulheres...
- Os bons negócios não acontecem sempre com jogadores novos e inexperientes, em noites regadas a bebida e sexo, garoto.
- Você pretende me ensinar a jogar?
- Não, é claro. Você monta o seu próprio jogo, com a sua estratégia. - Arthur acariciou o queixo, como se beliscasse uma barbicha imaginária. Os olhos brilhavam de um jeito maldoso.
- E o que o resto faz?
- Resto?
- Você tem muita gente, milhares de diretores e contatos, gente rica, de poder, gente que...
- ...que não vê a hora de pôr as mãos no que é meu.
- É tão visível assim?
- A Lorah, por exemplo... - Suspirou. - Esperando o Rudolf morrer de infarto ou qualquer coisa dessas...
- Ele é o que, seu sócio?
- Eu sou o dono de tudo. Sozinho. Deixo ele no controle, quando não estou.
- Ele tem cara de babaca.
- Ele é.
- Se é essa a imagem que você quer que tenham dele, então você está blefando ou... hum... - Antoine apoiou a garrafa da mesa, ao seu lado, e olhou curioso para o homem a sua frente.
- Errado. A resposta para sua dúvida é muito simples, meu caro: ele é o único que teme.
- Então ele não seria um alvo fácil para os outros, que querem pegar o lugar dele e o seu?
- Eu o ensinei a temer a mim, convencendo-o de que é muito mais vantajoso e seguro ser leal a uma só pessoa...
- Ele nunca me deu ordens, mas ouvi dizer que não é muito rígido.
- Ele é trouxa. Aquele gordo repugnante... só serve para entupir minhas narinas com charutos e gastar dinheiro com putas.
- Me admiro de você querer um cara assim no seu lugar...
- Hey, garoto, eu não disse isso. Dose suas palavras. - Arthur inclinou a cabeça, de forma a encarar Antoine por cima dos óculos, que estavam limpos dessa vez. Sua expressão mudou; estava sério e sóbrio. Sustentou a posição por uns segundos, então se rendeu ao conforto da poltrona mais uma vez. Prosseguiu descontraído:
- Eu também quero ver aquele balofo num caixão logo logo...
- Você é estranho. - Antoine fez uma careta, fechou os olhos e saboreou o último gole de cerveja.
- Não entendeu meu plano ainda?
- Eu entendi que isso é um treinamento.
- E você sabe que deve provar ser melhor do que eles.
- Hum, é. - O jovem evitou o rosto sombrio do chefe, se ocupando em tirar a poeira da calça, com tapinhas leves. - Isso aí...
- Você entendeu quem são eles?
- Eles... o seu pessoal.
- Também. - Consentiu, tossindo de maneira simpática.
- Tem mais gente na disputa?
- Depende de quem você incluiu no 'meu pessoal', Thomas...
- Eu não...
- Eu sei, eu sei, Antoine... não tenho mais a sua idade, tenho o direito de esquecer algumas coisas. - Dito isso, a sala ficou silenciosa por poucos minutos. Antoine pulou da mesa, deu poucos passos e optou por se escorar na parede, sustentando-se na perna que dobrara. Mexia nos cabelos como se estivesse nervoso e olhava apreensivo para Arthur.
- A garota, a Agatha... ela não serve mais, é isso?
- Não.
- Pensei que ela fosse tipo "a escolhida" ou algo do gênero.
- Eu também. - Riu ao ver a cara assustada de Antoine. - Mas não é.
- Você ia mimá-la e ensinar a liderar os seus projetos?
- Não. Você mesmo disse que ela era uma cobaia. - Riu mais uma vez. - Eu não sou exatamente o cara que sustenta pessoas para fazê-las felizes. - Pegou um chaveiro que estava na bancada, onde havia um pequeno botão preto, que rapidamente foi acionado, projetando uma luz vermelha. Apontou-o na direção de Antoine, que parecia querer entrar na parede, tamanho era seu nervosismo. - Tudo tem seu preço, meu caro.
- Quanto custa o meu trabalho aqui?
- A sua vida... - Pigarreou, virando os olhos. - Você sabe.
- É injusto, eu não sou como a Lorah ou nenhum desses...
- Agora você sabe como Rudolf se sentiu.
- Você faz chantagem com ele, mas com os outros...
- Os outros provam do próprio veneno. - Silenciou. - Veja você mesmo. - Arthur bateu uma mão na outra duas vezes, então puxou as cortinas para os lados. Um novo quarto apareceu na tela, dessa vez muito branco e sem escada. Havia uma porta em um dos cantos e uma cama magra, onde uma mulher estava adormecida. Os cabelos muito vermelhos contrastavam com a frieza do ambiente.
- Mas... Arthur, essa é a Lorah... - Antoine parecia tremer enquanto falava.
- Era, garoto... era.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

pt. 4

Arthur subiu os degraus platinados, até reconhecer o lugar exageradamente iluminado. Em questão de segundos, as linhas imateriais vermelhas que mantinham a segurança desapareceram. Não soaria alarme e o barulho de seus passos seria amenizado pelo material que forrava a sala. Era exatamente um cubo espelhado por todos os lados, sem janelas ou enfeites. A luz de uma vela, por exemplo, tomava grande intensidade ao se expandir.
- Muito frio? - O homem sorriu. Caminhou até a cama alta e confortável, onde uma garota repousava. Dois travesseiros de penas de ganso, fronhas e lençóis dos mais finos e macios.
Agatha estava acordada, fitando seu reflexo no teto. Viu o homem se aproximar sem a necessidade de mover a cabeça em sua direção. Sentou-se na cama, cruzando as pernas sob o emaranhado de tecidos e pegou um travesseiro para abraçar. Apesar das formas exuberantes, se comportava como uma criança. As mechas loiras caiam bagunçadas por sua face. Passou os dedos no cabelo, de forma a ajeitá-lo atrás de uma das orelhas.
- Você deve ter perguntas, eu imagino. - Ele insistiu num diálogo, mas ela mais uma vez não respondeu. - Eu realmente espero que exista interesse em saber o que está acontecendo.
- É, tem razão. Eu não entendi porque estou aqui. - Ela observou cada canto da sala, então apoiou o queixo nas mãos, com os braços sobre o travesseiro - que, por sua vez, estava sobre as pernas. Olhou para o homem que, com prazer, consentiu. - Eu fui seqüestrada?
- Depende. Pode ser encarado desse jeito. Você prefere assim?
- Eu estou confortável aqui, não acho que isso deva ter um nome tão batido.
- Eu não te causo medo?
- Não. - Ela esboçou um sorriso vendo Arthur enrijecer o rosto.
- Pois deveria!
- Sabe, você não é a primeira pessoa que eu vejo aqui...
- Isso muda alguma coisa?
- O Antoine, ele é legal. Não me disse muito, mas me senti segura.
O homem bufou. Começava a sentir certo arrependimento. Procurava uma pessoa normal, não uma jovem adulta que parecia encontrar o realismo nas fábulas. Não era exatamente um assassino, ainda que não se encaixasse no pensamento padrão. Gostava de tentar entender os sentimentos alheios, ora com ar de admiração, ora zombaria.
- Vou começar de novo. Não me venha com esse sorriso meigo patético. - Ele virou as costas, mas era inútil perder de vista a garota. Lá estava ela, refletida na parede à sua frente. Fechou os olhos impaciente, então voltou-se para ela:
- O seu amigo motoqueiro, ele está gravemente ferido no hospital. - Se satisfez ao ver a expressão assombrada no rosto da menina.
- Mas...
- É mentira. - Ela manteve a boca aberta, apenas apertou os olhos, como se sentisse dificuldade ao enxergar nitidamente. Arthur inclinou o rosto, de forma a lançar um olhar interessante por cima dos óculos pretos. - Viu, mocinha? Você está sob o meu controle.
Ela manteve a careta azeda, encarando o homem com curiosidade e arrogância. Ele era alto, não muito velho e nem tão magro. Se vestia formalmente e mantinha um penteado peculiar. A franja parecia estar sempre comprida e suja, atrapalhando sua visão. Era tingida, numa mistura de preto e amarelo. Tinha dois, três anéis prateados em uma mão. Na direita, apenas um maior, de pedra exuberante.
- Antoine trabalha pra você?
- Sim, óbvio. - Ele sorriu com desdém, balançando negativamente a cabeça. - Pergunta besta. - Acrescentou, olhando o próprio nariz no chão espelhado. Caminhou até a ponta da cama, onde se acomodou. Continuou se observando com interesse. Tinha um sinal médio e escuro na maçã do rosto, sobrancelhas espessas e pele não tão clara como a de Agatha. - Me conte sua história, criança.
- Como? - Ela parecia ter acordado de um transe e falou em tom de voz mais acentuado.
- Sua história. - Ele aguardou o silêncio que sucedeu sua frase, então recomeçou. - A moça que cozinhou o que você comeu hoje, ela tem uma história. Ela foi abandonada grávida pelo namorado e teve um aborto espontâneo durante uma sessão de cinema.
- Credo. Por isso você a contratou?
- Não, é claro. Ela cozinha bem. - Explicou, com seriedade, voltando a encarar a garota. - Só isso.
- Tá, se a história de uma pessoa não interfere em nada, não tenho que te narrar a minha.
- O Thomas, um dos caras que trabalha comigo, ele é um desgraçado. Mas conhecer a vida dele foi fundamental para decidir o salário...
- Eu não vou trabalhar pro senhor.
- Mas é claro que não, você é minha refém. - Ele abriu uma das mãos e começou a examinar as linhas do palmo. Viu a jovem por trás do ombro, no momento em que essa fez beiço com os lábios. - E não me chame de senhor.
- Sua refém... é, tá certo. - Ela descruzou as pernas, esticando-as sobre os lençóis. Vestia uma túnica comprida, fina e branca, que parecia estar muito larga para seu corpo. - O que eu tenho que fazer?
- Eu ainda não sei. Tudo depende do seu perfil.
- E pra isso você precisa da minha história, né?
- Isso eu já tenho. - Ela apertou o travesseiro, assustada não só com o que tinha ouvido, mas com a rapidez com que ele falara. Percebendo o desconforto da menina, ele mais uma vez sorriu. Fechou a mão, mas continuou analisando-a. - Preciso do que você sabe e eu não vejo.
- Você vai me matar?
- Vou te estudar antes.
- Porque você me escolheu?
- Poderia ser qualquer uma.
- Então porque eu?
- Me diga você.
- Eu estou te perguntando.
- Bem no fundo, você sabe a resposta. - Ele tirou os óculos, equilibrou-os na mão ainda fechada.
- Você não pode saber mais do que eu.
- Darling, eu já te disse que você está sob o meu controle.
- Você sabe o meu nome. Deve saber meu endereço, o que eu faço, no máximo isso.
- Todo mundo sabe que é possível saber mais do que isso, querida. - Vendo-a frígida, lançou um falso olhar fraternal.
- Eu quero ir pra casa.
- Não pode ir. Você viu o meu rosto.
- Isso é ridículo! Quando eu sair daqui, eu... - Ela parou de falar por um momento, pensando no que Arthur acabara de dizer. - Ei, porque você fez isso? Sério, que burro...
- O que você vai dizer pra polícia? - O homem se levantou e começou a gesticular tudo o que dizia. - "Oi, senhor, eu queria fazer uma ocorrência... é esse o nome, né? Pois é, eu cheguei em casa agora, eu tinha sido raptada. Você acredita que eu acordei numa sala cheia de espelhos e tinha um cara estranho dizendo que aquilo não era um seqüestro e que ia me matar?" - Falou isso em voz aguda, piscando os olhos freneticamente e dando pulos baixos com leveza, numa performance-caricatura da garota a sua frente. Ela ficou séria, muito séria: ofendida e intimidada.
- E então, vai dizer o quê? Isso é, "quando você sair daqui"... como se isso fosse possível sem a minha ajuda. - Ele estava berrando, ela mordendo os lábios internamente. Fazia isso quando se sentia nervosa.
- Você disse que ia me estudar...
- Estou pensando seriamente em pular essa etapa. - Ele virou as costas, com os braços cruzados, andando rumo à escada que o levou à sala cúbica.
- Te deixei irritado? - Ela engatinhou pela cama, até alcançar a ponta. O colchão muito macio dificultou a locomoção. Acompanhava a expressão do rosto do homem pelo reflexo na parede. Viu-o baixar os olhos e coçar a testa.
- Entediado. - Evitou encontrar o olhar da jovem, começando a descer os degraus. Antes de desaparecer, jogou, por cima da cabeça, um embrulho minúsculo, que caiu próximo ao pé da cama.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

pt. 3

Batidas na porta. Lorah olhou instantaneamente para ela, descruzando as pernas e apagando o fogo do cigarro com os dedos. Não se importou com a dor. Uma mão no ar, espalhando a fumaça, a outra preocupada em esconder o cinzeiro e o controle remoto, que acabou voltando para a gaveta. Um homem entrou com passos ligeiros.
- Quem você pensa que é para ir entrando assim?
- Olha, você tentou falar comigo mil vezes, "com urgência". - Enquanto falava, ele fez sinal de aspas com os dedos. - Não acho que seja hora de me ensinar etiqueta.
- Quem decide o que e quando fazer sou eu, Antoine.
- É claro, milady. - Sorriu ele, irônico, se curvando diante da mesa da mulher.
- Quanto atrevimento, menino... só fazes essas coisas porque o Arthur não está aqui para ver... - Ela estava acostumada com o jeito dele e não se importou de vê-lo deitar-se em seu sofá branco. O terno azul-marinho muito bem ajustado, as meias esportivas que brigavam com os sapatos luxuosos... via em Antoine algo encantador. Tinha idade para ser sua mãe, sabia da concorrência que deveria enfrentar caso tentasse aprofundar sua relação com o rapaz, mas não sentia culpa alguma por isso. Não era casada, nem tinha filhos: vivia com a cabeça no escritório. - Falando no Arthur, você sabe o que ele anda fazendo?
- Ah... o de sempre: encontrando vítimas para destruir seus sonhos.
- Hum... e o caso atual? Do que se trata?
- Não sei direito... - Ele olhou para a ruiva, que mordiscava a ponta de uma caneta. - Me joga um cigarro.
- Querido, eu não fumo. - Ela apoiou o corpo nos cotovelos, sobre a mesa, levantando rapidamente o colo e jogando os cabelos para trás, de forma a deixar o pescoço branco à mostra.
- Eu sei que eu pareço não ter cérebro, mas meu olfato funciona. - Replicou, deitando a cabeça nos braços e esboçando um bocejo.
- Me diz o que você sabe da garota. - Ignorou-o, como se assim ele fosse descartar qualquer imagem submissa dela.
- Não sei nada. Só sei que ela não é de se jogar fora...
- Você mesmo disse que não conhece ela, como isso é possível?
- Eu não sei você, mas eu falo de sexo casual.
- Que horror, Antoine! Ela é muito jovem para... - O telefone tocou, interrompendo o que Lorah estava dizendo. - Alô?
- Ela está subindo, senhora. Você pediu para eu te ligar quando ela chegasse.
- Obrigada, Karen, muito obrigada. - Lorah gesticulou para o homem, pedindo a ele que se ajeitasse no sofá. Ele se levantou, arrumou o nó da gravata e passou a mão nos cabelos. Desconfiada, a chefe lançou um olhar sério. - Estamos aqui a trabalho. Ela, agora, é sua colega... co-le-ga.
Em quatro segundos as batidas na porta recomeçaram, desta vez mais fracas e lentas. A moça que esperava do lado de fora espremia os olhos pela fechadura, a fim de ver se o cliente já tinha chegado. Quando viu alguma sombra se aproximando, recuou alguns passos e fingiu estar ocupada com um cisco no olho.
- Oi. - Cumprimentou Antoine, sorrindo. Estendeu a mão, num gesto convidativo. Para sua surpresa, a moça a sua frente ficou parada, com uma expressão séria.
- É a minha barriga, né?
- O que tem ela? - Ele se ergueu, estufando o peito e mexendo a boca estranhamente, como se isso fosse alguma estratégia de sedução.
- O vestido está marcando tudo, fala a verdade. - A garota viu Lorah sentada, logo atrás de Antoine. Correu em sua direção, jogando na mesa a pasta pesada. - Eu não achei o contrato, ele não está comigo! - Arfou.
- Não está? - Levantou, mostrando sua autoridade.
- Eu não lembro de ter ficado com ele... sinceramente, nem toquei naquelas folhas...
- Querida, você não está entendendo... eu preciso do contrato. Não quero suas desculpas. - A porta foi fechada com força. Espantada, Lorah correu atrás de Antoine - que falava no celular. - O que está acontec... - Ele colocou a mão na boca da mulher, fazendo uma careta.
- Tudo certo, então. Na prateleira 1905, código 02; confirma? - Ele apertou um botão e colocou o aparelho no bolso. - Era o Arthur, milady. Preciso te dar as instruções. - Olhou para a jovem que esperava no meio do escritório. - Vou te poupar de mais sermão, gata. - Então puxou a ruiva pelo braço e dirigiu-a até o final do corredor, onde uma parede de vidro era a única barreira entre o céu e o edifício. Estavam no vigésimo-quarto andar.
- Não entendo porque o Arthur insiste em te manter mais informado do que eu. Eu faço parte da Direção, você não.
- E é por isso que você vai fazer a Agatha assinar o papel que eu te der.
- Que papel? Qual é o plano dessa vez?
- Eu sei tanto quanto você.
- Antoine, se aquela garota que está no meu escritório sumir do mapa como já aconteceu, a gente pode ir parar atrás das grades...
- Então acho bom que ela assine o papel. Sem ler, só assine.

[CONTINUA]
(tri que ninguém agüenta mais minhas tentativas de historinhas)

pt. 2

- Alô?
- Não vai trabalhar hoje?
- Lorah? Olha, eu já estou indo para o escritório... - A garota pressionou o telefone entre a orelha e o ombro, enquanto abria apressada gavetas e caixas.
- A reunião começa em quarenta minutos.
- Eu sei, só estou procurando uns papéis...
- Você o quê? - Lorah pigarreou, tirando da boca o cigarro que fumava.
- Uns papéis, eu...
- Eu entendi. Escuta, esse cliente é realmente importante. Eu espero que ele não custe sua demissão. - Ela era ruiva, estava na faixa dos quarenta e poucos anos. Vestia um conjunto de calça e tailleur rosa-cereja, que destacava sua boa forma. A maquilagem não estava exagerada e os sapatos reluziam. Ainda assim, não era exatamente uma mulher bonita. A obsessão pelo cargo mais alto da empresa não era disfarçada por nenhum perfume francês.
- Hey, calma. Eu tenho acesso à segunda via... - O telefone voltou para a mão delicada que o segurava antes.
- Isso é um documento importante, não apareça com xerox vagabundo.
- Tá, tudo bem, eu já estou indo... já achei minha pasta. - Ela abriu uma pasta vermelha, despejando no chão seu conteúdo: folhas e mais folhas - e uma lapiseira verde sem grafite.
- Ótimo. Elegante e pontual, não esqueça! - Frisou. - Você não pretende usar seu cachecol lilás, não é?
- Bem, eu... - Desenrolou desajeitada o cachecol do pescoço, atirando-o sobre o travesseiro, com o mesmo olhar de quem se livra de uma granada. - Não. Estou com aquela saia azul...
- ...que tem uma mancha amarelada na coxa? Nem pensar! Meu cliente não precisa saber o que você come no almoço pela gordura das suas roupas. - Apesar da arrogância, a mulher se divertia ao batucar os dedos num pequeno aquário que enfeitava sua mesa.
- Bem, e... - Sentiu raiva, mas sabia que a chefe não estava mentindo. Sentada no chão, procurou qualquer sinal de roupa preta - peça-coringa em qualquer ocasião. - ...aquela camisa branca com a gravata azul-marinho?
- Negativo! Eu quero que ele te veja como uma mulher, não como um espelho.
- Puxa, me ajuda! - Ela estremeceu. O contrato não estava na pasta.
- O vestido verde. Eu odeio admitir, mas você fica ótima com ele. Capriche no batom.
- Hum... ok. Chego em vinte minutos, tudo bem?
- Me faz um favor.
- O que foi?
- Nada, esquece. Vem logo. - Colocou o telefone no gancho, sem esperar uma resposta. Pensou em pedir para a assistente comprar flores no caminho, para presentear o tal cliente esperado, porém temeu que a jovem usasse os mesmos critérios na escolha das plantas e das próprias roupas - isso seria uma catástrofe.
Analisou a sala ao seu redor, como se procurasse encontrar alguma resposta em um móvel ou quadro. Voltou a pegar o telefone.
- Sra. Mouk?
- Me direcione para o 03-B, com urgência.
- Ok, um segundo. - Respondeu a telefonista. - A linha 03 está ocupada.
- Merda. - Os olhos fitaram rapidamente os peixes do aquário. - Tenta de novo.
- Senhora, o sinal continua inativo...
- Ah, pára! - Gemeu emburrada. - Trate de falar com esse infeliz e fazê-lo entender que eu preciso dele agora, na minha sala. - E mais uma vez fez estrondo com o aparelho, ignorando qualquer resposta.
Girou uma pequena chave, que já estava encaixada na fechadura da primeira gaveta sob o tampo da mesa. Pegou um controle remoto pequeno e o acionou. Na televisão, que estava sobre um suporte distante, rapidamente apareceu a imagem de um quarto bagunçado. "Essa menina insiste em usar esse cachecol", pensou.

[CONTINUA]

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

pt. 1

- É ela? - A voz não assustou o homem que estava sentado na cadeira, em frente aos monitores. A sala estava muito escura, senão pela luz das telas. Passou a mão pela testa encharcada de suor,por onde caía - sobre os olhos - uma franja amarelada e suja. Os óculos não estavam retos. Alguns botões da camisa amassada, desabotoados devido ao calor do pequeno aposento, completavam a imagem de cansado do sujeito.
- É.
- Não me surpreendo que seja bonita. Suas cobaias sempre são escolhidas a dedo. - O vulto continuou parado, observando os diversos ângulos que as câmeras projetavam da jovem. - Você não tem medo do plano falhar?
- Não me perturbe, Antoine. E mais do que isso: não me insulte!
- A probabilidade de dar...
- De dar certo é de cinqüenta por cento, já sei! - Berrou o homem, girando a cadeira de forma a encarar o rosto do outro. - Não quero ter a péssima visão do seu rosto bufando. Por favor, eu insisto, se retire!
- Vim apenas checar se as coisas estavam nos conformes.
- E estão. - Grunhiu, muito sério, erguendo uma sobrancelha.
- Olha, ela está olhando pra câmera... - O vulto apontou para um dos monitores, que mostrava uma garota sonolenta, escovando os dentes em cima da cama, em pé, de onde observava a pequena máquina na sua parede. - Quem instalou isso?
O homem sentado voltou à posição inicial e deu um murro na mesa. - Fui eu, Thomas, fui eu! Tem um armário suspenso ali, eu escondi a câmera na lateral... - Explicou ele, impaciente. Não quis admitir, mas ficara nervoso com a hipótese da moça ter descoberto o objeto.
- Meu nome não é Thomas, senhor.
- Hum... Antoine, que seja. - Disse o homem, esfregando o dedo sob o lábio inferior. - Olha, ela só estava tentando alcançar a maçaneta da porta do armário... Nem viu nenhum fio.
- Mas tu deixou os fios para fora, idiota?
- Não me atrapalha, imprestável. - Ambos pararam de falar quando a jovem tirou a camiseta velha com que dormia.
- Droga! - Suspirou o sujeito que atendia por Antoine. - Quem é que dorme de sutiã?
- Cala a boca. Eu me certifiquei de que ela não seria tão exposta...
- Você já sabia disso?
- Meu serviço é bem feito.
- Mas... deixa. Você escolhe garotas bonitas, magras, escolhe a cor do cabelo e dos olhos e depois não quer vê-las sem roupa? Que tipo de...
- Que tipo de homem eu sou? Meu caro, dentro de poucas horas ela vai estar no meu quarto, mais precisamente na minha cama... No meu lugar, duvido que você faria diferente.
- Eu gosto que invejem o que eu tenho.
- Pra mim, isso se chama complexo de inferioridade.
- E qual o sentido?
- Você não ouviu? Na minha cama! Minha, não na sua. Não me desconcentra, eu estou trabalhando.
- Que triste, você se contradiz. - Disse, em tom de reprovação. Fechou os olhos por um segundo, então observou o homem procurar a garota nas diversas telas a sua frente. - Ela está na cozinha.
- Onde?
- Aqui. - Apontou. - Sabe, ela pode estar na sua cama, mas não vai fazer nada com um velho cego feito você.
- Antoine, eu ainda sou seu chefe.
- Ok. Entendi. Olha, se precisar de alguma coisa me chama. Estou na linha 03. - Ele avisou, sem receber resposta. Antes de fechar a porta, perguntou qual era o nome da jovem. Ignorado, balançou a cabeça e mordeu os lábios.

[CONTINUA]


Apagão

De repente, eu já falei disso por aqui. Quer dizer, eu escrevi about em uma comunidade falida, dessas onde a foto e a descrição são péssimas, talvez escritas num mix de letras maiúsculas e minúsculas, com o número de membros inferior a cinco. É... faz tempo que eu falei disso. Aconteceu em Bento [Gonçalves], na casa de uma amiga minha. Quando a gente viajava pra lá, costumava ficar na casa da avó dela, que tinha um jardim florido e falava colonês. É realmente engraçado lembrar de certas coisas... tipo ela me xingando em italiano e oferecendo polenta num horário bizarro. Ah sim, ela acordava realmente cedo para ver a missa na televisão. Era muito engraçado. A gente dormia tri tarde e acordava com os passos da velha no assoalho. Ela era realmente fofa e baixa - vejam que eu não devo ter crescido muito de lá pra cá (sobre meu crescimento ou a falta dele eu falo em outro post).
Nem sei há quantos anos atrás isso ocorreu... eu sei que a casa era realmente digna de filme. Ela era preta por fora (wow!) e grande. Quer dizer, eu não sei o quão grande ela era, porque dava muito medo de andar por lá. Entendam que eu estava na idade de reunir amigas para ver Pânico e coisas do gênero. Agora ignorem isso e valorizem o lado cagado que todo mundo tem ou deveria ter, como sinal de bem... humanidade (ou sensibilidade). A casa foi comprada com a mobília, que por sinal era bem bonita. Por dentro também era escura, com os móveis escuros e antigos. Cara, tinha tudo clássico: cortinas gigantes, espelhos do nada, mil portas e salas escondidas, vidros embaçados, portas vai-e-vem, vermelhos do nada, carpete, tapetões, sofás de couro, muito marrom e preto, um banheiro enorme, com cortininha e banheira e, enfim... não lembro se tinha um piano preto ou isso já é obra da minha imaginação, mas não duvido: tinha uma coisa que não era mesa na ponta de uma das salas ( um caixão! digo...). E aqueles lustres lindos de cristalzinho. Sério, cara, estantes maravilhosas e 'penteadeiras'. Muito próprio para cenário de filme.
Quem estava lá? Eu (dã), a garota-minha amiga-"dona" da casa e mais duas meninas, os pais da garota, a irmã dela
(que, modéstia parte, tem um nome lindo...), que é uns cinco anos mais velha que ela, e o respectivo namorado. As mocinhas moravam em Bento mesmo e uma delas não queria dormir lá nem a pau. Tipo a gente chegou e ficou muito com cara de bunda, porque ficamos um tempo sozinhas e era realmente muito escuro e silencioso e grande. E tiveram momentos de dar sustos, então não me animei muito. Cara, espelhos no corredor são coisas muito intimidantes. Tinha uma parte iluminada lá que eu nem quis pisar. Onde tinha o tanque e o setor de vidraças embaçadas. Uma garota se assustou com uma lagartixa quando a gente passou por lá. Enfim, nem a dona do lugar estava muito à vontade. A gente ficou brincando de experimentar sapatos amarelos e outras roupas bizarras que tinham no armário. Acho que eram da avó dela. Chegamos a comer algo, brincar de esconde-esconde na sala. Fiquei com medo mesmo quando minha amiga resolveu encarnar uma sei-lá-o-quê. Aquilo de parecer uma morta, andar toda errada e falar toda sombria, com uma boneca feia na mão. Cara, lá tinham bonecas horríveis. Muito medo de todas elas. Nossa, eu sou cagada pra caralho, mas não seria muito diferente com ninguém, te garanto.
Eu sei que os "adultos" chegaram e, sei lá, do nada começou uma brincadeira que foi durar horas. Eu não lembro o que eles tinham na mão - acho que lanternas. A gente (grupo das quatro meninas indefesas) se armou com cabos de vassouras e coisas do gênero. Tipo um esconde-esconde com pega-pega, porque todos recuavam e avançavam e corriam. A gente correu da garagem até algum lugar que eu não sei o que era, no escuro total. A única luz vinha das frestas das portas (quatro, nessa sala: duas lado a lado, uma na parede oposta e outra do ladinho). Devia ser um depósito, sei lá. Era na altura da garagem, abaixo dos andares (no final eu não entendi, talvez a casa tivesse três andares). Fiquei bem feliz quando saí de lá. Enfim... correria e gritos pra lá e pra cá. Era realmente divertido, apesar de ser desconfortável. Tipo tu tá morrendo de medo, mas sabe que não tem porquê e que, enfim, são pessoas legais e tu tá acompanhado das tuas amigas. E correndo.
O momento-chave foi depois de muito tempo, quando a gente entrou no tal lugar e os adultos fizeram silêncio total. A coisa mais estranha é tu não saber onde está, tipo sem ver e nem ter entrado lá antes. A gente sabia que os quatro estavam por ali... se eles fossem gênios teriam se dividido... daí começou... barulho em uma porta. "Ohh, eles estão lá." Na porta da garagem não poderia ter ninguém, afinal a gente veio de lá. Se a gente quisesse se esconder (?) ou sei lá ainda teriam duas portas fechadas... Foi uma amarração para a gente decidir abri-las. Se não me engano, eu fui com uma das garotas de Bento para a porta da direita e as outras duas foram na outra. Eu lembro de ter tido um impulso de gostosona, porque a guria aparentava estar mais amedrontada que eu. Eu juntei toda a minha coragem de pessoa anã e meu cabo de vassoura para abrir uma porta de uma casa estranha e preta, de noite e... nhec... fez um barulho muito clássico. Tipo silêncio total. Era um banheiro menor e eu olhei direto pela fresta da porta que se abria... cara, foi muito rápido. Eu vi a mãe da guria sentada na privada, fazendo algo com a mão (não sei se tinha alguma coisa ou era um "não se aproxime", sei lá, mal deu tempo de pensar...). Eu não sei se cheguei a terminar de dizer "desculpa", porque eu achei que ela tava cagando ou fazendo xixi, algo do gênero (ela tava sentada na privada), ainda que eu tivesse rindo muito. Por uns dois segundos...
Enquanto eu ficava naquele riso nervoso, com a garota atrás de mim, a porta terminou de abrir sozinha. Tinha um homem barbudo (o pai da guria), com um esqueleto de plástico na mão. Quer dizer, eu soube disso depois, porque eu dismaiei. Hahahaha. Ah, pára! Foi a coisa mais tosca do mundo. Eu sei que acordei e as luzes estavam acesas. Eu fiquei olhando reto (mas eu estava deitada, então eu via o teto) e fiquei muito 'ãhn?'. Daí aos poucos apareceram cabecinhas e eu fiquei pensando. Putz, eu sentei muito torta, com uma dor na cabeça. O cabo tinha quebrado, cara, e ele era muito forte... eu tenho o pedaço menor dele no meu quarto, trouxe de recordação. Putz, foi hilário. Todo mundo começou a rir muito, eu chorei de rir. Me disseram que eu dei um berro muito gigante e caí dura. Bah, sei lá. Que bizarro (momento sem ter o que falar, onde você pensa e só diz gírias)... eu sei que morro de medo quando meu coração começa a disparar. Passei um tempo evitando filmes mais "assim", ou jogos de computador. Sério, tem uns muito aterrorizantes. Eu fico nervosa por qualquer coisa, desde esperar meu nome ser chamado por professores até, sei lá, músicas com muito batuque. Enfim, foi realmente muito engraçado ficar off por algum tempo.
O nome da comunidade, a propósito, era algo do tipo "já desmaiei com um susto". Hahaha...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Gravando!

Sexed Up (Sexualmente envolvidos) - Robbie Williams

Loose lips sunk ships
Falar bobagem só piora as coisas
I'm getting to grips with what you said
Estou me acostumando com o que você disse
No, it's not in my head
Não, isto não é imaginação minha
I can't awaken the dead day after day
Eu não posso fazer milagres o tempo todo

Why don't we talk about it?
Por que não conversamos sobre isso?
Why do you always doubt that there can be a better way?
Por que você sempre duvida de que possa existir uma saída melhor?
It doesn't make me wanna stay
Isto não me faz querer ficar

Why don't we break up?
Por que a gente não termina de uma vez?
There's nothing left to say
Não há mais nada pra dizer
I've got my eyes shut
Estou de olhos fechados
Praying they won't stray
Rezando pra que eles não espiem
And we're not sexed up
Nós não sentimos mais atração pelo outro
That's what makes the difference today
E hoje em dia é isso que importa
I hope you blow away
Eu quero que você desapareça

You say we're fatally flawed
Você diz que estamos destinados a falhar
Well, I'm easily bored
Bem, eu fico entediado facilmente
Is that ok?
Tudo bem?
Write me off your list
Risque meu nome do seu caderninho
Make this the last kiss
Faça deste o nosso último beijo
I'll walk away
Eu vou embora

Why don't we talk about it?
Por que não conversamos sobre isso?
I'm only here, don't shout it
Eu estou bem aqui, não precisa gritar
Given time we'll forget
Com o tempo a gente esquece
Let's pretend we never met
Vamos fingir que nunca nos conhecemos

Why don't we break up?
Por que a gente não termina de uma vez?
There's nothing left to say
Não há mais nada a ser dito
I've got my eyes shut
Estou de olhos fechados
Praying they won't stray
Rezando pra que eles não espiem
And we're not sexed up
Nós não sentimos mais atração pelo outro
That's what makes the difference today
E hoje em dia é isso que importa
I hope you blow away
Eu quero que você desapareça

Screw you
Vá se catar
I didn't like your taste
Eu não gostava do seu gosto mesmo
Anyway, I chose you
De qualquer maneira, eu havia escolhido você
And that's all gone to waste
E agora tudo se foi
It's Saturday:
Hoje é sábado:
I'll go out
Eu vou sair
And find
E encontrar
Another you
outra como você

Why don't we?
Por que não terminar?
Why don't we break up?
Por que a gente não termina de uma vez?
There's nothing left to say
Não há mais nada pra dizer
I've got my eyes shut
Estou de olhos fechados
Praying they won't stray
Rezando pra que eles não espiem
And we're not sexed up
Nós não sentimos mais atração pelo outro
That's what makes the difference today
E hoje em dia é isso que importa

I hope you blow away
Eu quero que você desapareça
I hope you blow away
Eu quero que você desapareça
I hope you blow away
Eu quero que você desapareça
I hope you blow away
Eu quero que você desapareça

Blow away
Desapareça
Away
Pra bem longe
 
 
 _
Eu sempre confundo o cara que canta essa música - que, por sinal, eu realmente adoro e me faz pensar coisas - com o ator, que tem o nome parecido (Robin), e confundo o cantor com um ator lá, que faz propagandas de perfume e protagoniza "The Tudors" (que é tri legal e eu perdi os dois últimos episódios). Enfim. Essa música é de alguma novela e eu nunca entendia o que o cara falava, porque eu estou acostumada com músicas meigas, não um tio dizendo que perdeu o tesão. Mas, ok, isso acontece. Daí colei essa tradução do Vagalume.
Sabe, hoje na Casa de Cultura, mais precisamente no elevador, aconteceu algo engraçado. É que houve uma inversão da minoria, só naquele instante, e isso foi algo bom para se pensar. Ok, filosofia de boteco à moda Ivy. E, olha, o psiquiatra do Big Brother é gay. Ando ouvindo tanto sobre a ligação de psic-profissões com coisas assim... do tipo manifestações de diferenças. A minha psicóloga fala um monte nisso de que muita gente busca a auto-análise cursando psicologia, que tem uns surtos no caminho, enfim, que busca nesse meio uma solução para seus problemas ou desencontros individuais.
Ah, eu fiquei pensando em tantas coisas por esses dias. Vontade de falar com gente que não vejo há muito tempo. Eu não gosto de quando as coisas ficam forçadas, principalmente porque existe algo pendente. E é difícil ser natural depois de uma situação extrema ou complicada, sei lá. Talvez eu não tenha o tato que eu desejo ter. Já me disseram isso, como também já ouvi o contrário. No fundo, é realmente delicado mesmo lidar com os outros. Todo mundo é tão infinitamente estranho - não no sentido de 'esquisito', mas de 'diferente'.
Eu não sei a hora de me preocupar. Porque às vezes eu olho e é tarde demais. Ou, quando é cedo, a cena vira um dramalhão. Não gosto de sentir a água passar por entre meus dedos sem que eu consiga ter noção na hora do que aquilo significa. Também não estou exatamente me arrependendo de algumas coisas. É só que cada um sente diferente. Sente os efeitos e sente as ações que deve fazer. Eu acho incomum eu não me explicar. Talvez eu goste de (tentar) parecer uma pessoa estável, pelo menos em relação a mim. É, não acho que eu consiga.
Eu adoro ouvir música e lavar louça. Nossa, adoro mesmo. Eu peguei chuva por uns poucos minutos, caminhando da rua da Anita até aqui, e foi tão legal. Lembrei de um post que eu li outro dia. Sabe, banho de chuva é realmente bom naquele dia em que você está pensativo e feliz, ou não necessariamente alegre, mas sei lá. Eu adoro dias cinzas. Eu gosto de pensar que existe sempre uma câmera por trás das coisas, que certas cenas poderiam ser editadas e ir para os filmes. De novo a frase "Ivy, Ivy, a vida não é um filme de duas horas"... mas, sabe, podia ser um desses filmes gigantes e legais. Ok, deleto a hipótese. A moral não é viver de forma cínica ou dramatizando tudo, mas eu gosto desses pequenos momentos que me fazem pensar nessa coisa da câmera. Também não é válida a idéia de ser algo exposto. É um filme com capa monótona, desses que tu não espera ver na tevê e que, talvez, encontre em VHS nessas locadoras mais velhas.
Eu acho muito engraçado me ver chorando. Muito mesmo. Aquilo de ir pro banheiro e pensar "puta merda, olha essa cara vermelha. Como tu tá torta, guria, olha teu olho. Fica um maior que o outro e o teu nariz fica fungando..." (ok, foi constrangedor expor minha meia dúzia de pensamentos). Eu não sei o que eu queria falar. Eu estou com uma sensação tão ... desde o início do post. Ainda não consegui dizer o que eu pretendia. Talvez se as pessoas não comprassem tanto a idéia geral as coisas fossem realmente melhores. Se eu fosse uma dessas adultas de novela, engoliria essas palavras e ia comprar sapatos no shopping. Odeio sandálias em mim.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Florais e monotonia.


...passando a praça, o chafariz dos flamingos enamorados, atravessando a rua, encontravam-se as pequenas mesas redondas do Café Brishtann - cobertas por delicadas toalhinhas de renda inglesa. As cadeiras - de ferro antigo - tinham estofado claro, com motivos florais, contrastando com o guarda-sol que sombreava cada mesinha. Ao canto, próximo da esquina, estavam sentadas as irmãs Foster: duas jovens feias, que dialogavam redundâncias. "Você ouviu? Johan vai se casar!" "Ah, sim, ouvi falar que eles noivaram..." "Vão viver como marido e mulher..." Todos sabiam da infelicidade da dupla, do desejo de sair da casa do pai, bem como sabiam que não eram boas ofertas: não sabiam cozinhar direito, não tinham gosto pela leitura nem pelo bordado, tampouco arrumavam a casa.
Ornelas também era chata. Chata, mas tinha uma herança gorda. O pai era banqueiro, trazia as mais diferentes jóias para a filha. Ao contrário das Foster, não passava o dia em uma mesa de cafeteria, tomando chá e procurando nos olhos dos andarilhos um futuro marido - com bigode e um chapéu sem graça, o máximo de afeto que poderia oferecer. Ornelas não era simpática, mas tinha bom gosto para roupas e sapatos. Desejava morar no interior e cuidar de porcos e cavalos e, para isso, pretendia encontrar um homem velho e caído, que não tivesse mais paciência para tentar travar os seus impulsos.
Nastácia, por sua vez, era bonita e bem-humorada, mas um problema de saúde na infância livrou-a dos movimentos da perna esquerda. Andava pela cidade apoiada na criada, Rufínia, uma morena invejosa que se portava como se fosse irmã de Nastácia. Gostavam de cruzar a praça e se sentar em frente ao café, onde jogavam pipoca para as pombas e... (puta merda, que vida chata. hoje não é meu dia de escolher cenários para pequenas histórias. muita vontade de avacalhar, mandar um caminhão ou o godzilla pisotear todo mundo no café, ou um jovem com um fuzil. só ia deixar viva a ornelas porque ela ia matar o velho com quem ia se casar pra ficar livre dele logo e ganhar mais dinheiro. ai que horror.)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Pane

Ah, tô meio estacionada. Tipo aquela pessoa que sabe daonde veio, sabe para onde vai (quer ir), mas não sabe onde está ou o que fazer por enquanto - "enquanto o tempo não passa" seria algo péssimo a ser dito. Tudo bem, ultimamente falei coisas meigas, falei em ajudar pessoas, pensei como sempre na filosofia Carpe Diem e nas coisas que eu tenho que fazer, por 'dever' ou prazer. É estranho se definir ou responder com precisão algumas questões que exigem realmente o desapego a algumas (tantas) opções... A questão não é não querer se decidir, mas desconhecer os novos critérios. A minha cabeça muda, a minha visão sobre o mundo e as pessoas não fica estática. Sendo assim, porque eu não mudo algumas coisas também - intencionalmente, visando benefícios e coisas assim? Ah, tem gente que relaciona isso com falta de vontade, embora eu não concorde. É realmente estranho olhar pra frente e só ver neblina. Sabe, algum dia tu vai ter que mexer o barco, seguir pelo mar e saber se virar... Isso em vários sentidos, não só pensando no fator independência em relação aos pais. É preciso se posicionar sempre: na hora de entrar numa loja e comprar alguma coisa, pedir uma informação, apresentar suas idéias, saber lidar com a indiferença e os insultos dos outros... isso é muito cruel. Ou não, dependendo de como cada um se conhece. Saber os próprios limites, os defeitos e as qualidades é fundamental. Eu me perdi nessa rota também. Que poder(es) eu tenho? É fácil encarar a vida com o olhar "relaxa e goza" por um ou dois segundos, mas na prática é diferente, é esquisito. Eu fico feliz com coisas "trouxas" e pequenas, fico mesmo. Talvez eu devesse me libertar de algumas coisas que me prendem demais ao chão, mas eu não gosto de como é imposto que a felicidade está nas besteiras. Ok, isso soa careta... mas besteira pode ser qualquer coisa. Claro que ninguém pode me dizer o que vai me fazer bem; isso é uma verdade minha. Eu não gosto de me sentir assim desiludida. Tem personagens de filmes com quem tu se identifica mas que, no fundo, são tristes. Pelo menos não são vazios, mas sei lá. Eu não consigo sair da cadeira de roteirista para sair dançando e cantando tipo a protagonista da história, é muito inseguro. Tudo bem, eu deveria correr atrás dos meus medos e enfrentá-los, mas se isso só servir de lição para não repetir a dose? "Ah, melhor tentar do que ficar na imaginação..." Será que todo mundo tem noção do que é isso e pára para pensar? Talvez eu recomece a viver de verdade, talvez eu leia todos os livros que eu quero, veja todos os filmes, conheça todos os lugares... mas é estranho começar por mim, pelo ponto inicial. "Vamos lá, Ivy, descreva a sua ilha." Pra começar eu não sei nem se algumas coisas eu digo meramente por impulso ou se realmente acredito nelas. Oh god, fui corrompida! Eu tinha medo de falar por falar e fazer por fazer e eu tenho feito isso tanto... acho que é falta de chocolate.




Mais do que nunca, os tic tac's do relógio parecem bombas.
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