sábado, 10 de fevereiro de 2007

Pausa

Acho que é o último post antes de eu viajar. Vou para SC nesse domindo, de noite. Volto dia 27.
Enfim.
Enlouqueçam.... a loucura canta e encanta.
(a figura é referente ao post anterior)

Pandora's Box

Esticou os braços de tal forma que sua camisola de flanela inglesa, reflexo da mais pura ingenuidade, deixou a mostra suas pernas de menina. Por um momento, se esquecera que o banco em que firmava os pés era frágil demais para seu tamanho... perdeu-se no doce sabor da curiosidade. Tão pequena e tão humana... tão certa e tão errada... A caixa, no topo do armário, não lhe chamava atenção alguma - até que um dia lhe foi proibida.
A madrugada fria não lhe impedira de tentar, mais uma vez, provar das maravilhas que se escondiam naquela caixa. Tanto silêncio era motivo de música. Tanto mistério tornou-se o estopim daquela travessura... maldita travessura. Os dedos magros e curtos, tomados de vontade e anseio, tateavam a prateleira numa busca incansável pelo desconhecido... desconhecido desejado.
A pele alva e sardenta, coberta por fios do cabelo acobreado, já não mais exalava a solidão. Pois, na busca dos prazeres, na construção do alicerce dos sonhos, Pandora descobriu o mundo. Pandora descobriu a vida e a morte... e a magia do surreal. A caixa agora deslizava por suas mão pequenas. Ganhara a cor vermelha, ao sair das sombras em que se encontrava.
A camisola de babados agora já não dizia nada. Rosa já não simbolizava a feminilidade nem o amor. Os olhos da menina fundiram-se com o brilho que se libertou da caixa. O laço de fita negro e a tampa envernizada que encerravam aquele segredo foram atirados ao infinito maravilhoso daquela sala, que já não era sala. Um cheiro de terra chegou ao estranho sorriso da menina. Sorriso de menina travessa.
O conteúdo do desconhecido pesou nos braços da pequena, que num ímpeto de desequilíbrio deixou que a caixa tocasse o chão. Tudo se libertou. Tudo o que não deveria ter se libertado agora voava com esplendor. Ganhava formas, ganhava asas... deixava, aos poucos, de ser fantasia.
Pandora sentiu medo da gargalhada sombria que ouviu. Era sua voz... que agora invadia seus ouvidos como rajadas de espinhos. A caixa estava agora distante... mais do que antes já estivera. O banco já não era o que separava o chão do céu, mas o que a limitava nas fronteiras do inferno.
"Se esconda, Pequena Criança. Se esconda, menina Pandora."
Seus sonhos nunca mais foram os mesmos.
Seu mundo, agora, é uma caixa vazia de sentimentos.
Vazio de sentimentos agora recheavam uma camisola de flanela... tão inocente e de olhos tão tristes. Pandora já não reconhecia sua voz, nem a pedra do anel de sua mão. Nem os dedos longos e a pele rosada nas maçãs do rosto. O tempo voara tão depressa... ganhara formas e cores... ganhara a inocência perdida, perdida naquela tarde de chuva.
E agora se sabe que a noite é uma criança... uma criança travessa, sem medo de ver. Pura curiosidade e desejo, pura brincadeira - mas toda brincadeira um dia acaba.
"Foge, Pandora, foge."

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Estrelas

É estranho ter que mentir para os olhos para evitar transformações dentro do coração. É estranho se acostumar com uma idéia que é puramente abstrata e alimentá-la com o que há de mais concreto. É estranho tentar evitar seu maior desejo.
-

Eu já não sou mais tão dedicada à poesia como eu já fui um dia. Agora eu leio e escuto música. Muita música. Tantas e a mesma, ao mesmo tempo. Hoje eu fiquei pensando muito. E é estranho quando duas pessoas se evitam querendo, no fundo, não se evitar. Tem horas que eu realmente não tenho o que dizer e hoje é um dia que eu facilmente ficaria em silêncio.

Ahh, mas esse vazio me cansa. Este é diferente: não precisa ser provocado, não precisa de razões - simplesmente as têm. Não são lembranças, nem frases na memória, nem melodias nem cenas que atordoam, mas o simples desejo de que sobre algum resquício. As vezes, eu penso que não conheci nada. Outrora, acho que já foi o bastante. Suficiente ou não, o que sei é que preciso. Simplesmente preciso. Do que eu já nem sei.

Dá uma estranha sensação de liberdade, uma sensação de que tudo vai dar certo. Mas não passa de sensação. Ontem foi um dia ótimo. Com festa, bebida e amigos. Música ótima. Lugar perfeito. Enfim... mas é estranho ver uma 'presa' na sua frente e não ter vontade de atacá-la. Não chega a ser desmotivação, mas algo do tipo 'porque?'.

Meus objetivos não são os mesmos e, no fundo, gostaria que fossem. Gostaria de resgatar em um beijo toda a paz que me foi roubada. Gostaria que todas as linhas tortas formassem a mais bela composição. Mas logo eu, que já nem sei o que eu quero... Fica a saudade do meu 'eu simples'. Agora me chamo complexidade. Emoção, aventura, veneno.

Quisera eu contornar a primavera... mas não, ela sempre volta. Por mim os dias seriam todos cinzas e gelados. Por mim. Mas 'por nós' eu já nem sei. Existe isso? É estranho quando tudo é plural e nem sequer é mútuo. E eu amo o fato de isso aqui ser um código. Um código só meu. Acho que ninguém entenderia o que se passa e isso é realmente gostoso. Podem ser delírios e sonhos de uma pessoa apaixonada, ou frustrações de uma criatura ranzinza e leiga. Tanto faz.

E hoje seria um ótimo dia para caminhar ao vento e encontrar um vampiro. Ouvir suas histórias e depois entregar o sangue. Ou não. Mas hoje também seria um ótimo dia para novas idéias. Abrir a cabeça e deixar a vida te embalar. Só não sei se estão prontos para mim. Você amaria um alguém sem condições de amar? E se, no seu pulso, estivesse cravado um símbolo... e você não pudesse subestimá-lo?

Muitos preferem morrer. Eu prefiro entender. Isso também é morte.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...