segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sobre preconceito com homossexuais. II

          Primeiramente, vou deixar aqui um link para um texto muito bom sobre a temática homossexual escrito por uma amiga. Na verdade, acho que não tenho muito a dizer nesse exato momento. O post anterior rendeu comentários interessantes e, nos últimos tempos, tenho pensado mais do que o normal sobre o assunto.
          Eu não sabia da distinção entre homossexualidade e homossexualismo. Ok, presume-se que palavras diferentes tenham significiados diferentes, mas igual eu nunca busquei saber a hora adequada para dizer uma coisa e outra. E, me conhecendo bem, sei que tratarei as duas como sinônimos ora ou outra. Quanto a isso, deixo aqui outro link. Nesse texto, fica exposta uma coisa que eu não gosto: os mil e um cuidados a mais para com pessoas vítimas de preconceito - uma forma exagerada de tentar eliminar o preconceito de tudo o que pode ser "moldado" pelas mãos humanas, restando "apenas" a parte da conscientização (que depende muito mais do indivíduo do que das forças externas). Talvez eu mesma faça uso dessa tática. Ainda que sirva como um instrumento de preparação da sociedade "para o futuro", não deixa de ser uma forma de enfrentamento um tanto passiva. É utopia pensar que tudo vai mudar em um segundo ou dois a partir da adoção de um novo vocabulário que deixa de fora certas injustiças. Há um tempo atrás, encontrei na internet uma cartilha com instruções de como devemos nos dirigir, por exemplo, a um travesti. Eu realmente não acho que um artigo, dizer "A travesti" ou "O travesti", vá fazer muita diferença. Mas aí são outros quinhentos... Em resumo, como a Marianna disse, homossexualismo implica doença.
          A questão do orgulho - eu disse que achava "desnecessário" ou algo assim o orgulho da sua sexualidade - foi criticada por uma amiga. Segundo ela, "o orgulho gay não vem do fato de tu ser gay, mas de sentir-se bem contigo e ter conseguido se assumir para todos, mesmo sabendo que há muito preconceito". Disse ainda que "é impossível ter orgulho de ser heterossexual, pois, teoricamente, todos nascem assim". Na conversa, afirmei que, para mim, esse "orgulho gay" seria isso de se assumir, mas que a idéia de orgulho parece envolver um sentimento de superioridade (é ele quem eu reprovo). Ela seguiu falando sobre como todo dia esse "assumir-se" é constante. "Todo dia tu se assume de novo, quem é gay está sempre saindo do armário (quando vai em um lugar novo, conhece alguém, etc.). [...] O orgulho vem de algo que é difícil de ser feito, e pronto: tu gosta do resultado e de como o trata. É como tu ter orgulho da tua vida". Eu entendi o que ela quis dizer e, dentro do possível, acho que entendo bem esse "assumir-se diariamente". Meus amigos mais próximos não são heterossexuais e pude ver de perto as dificuldades encontradas. Discordo da parte do "não-orgulho heterossexual". Se existe um, existe outro. É como fazer uma "Parada Gay" (tá, o nome não é bem esse, mas é assim que eu costumo chamar) e proibir uma "Parada Heterossexual", por mais que a idéia de realizá-la pareça um tanto infantil. Eu não simpatizo tanto quanto poderia com essas manifestações pois, como um amigo meu disse, "elas esfregam na cara do preconceituoso o objeto por qual ele tem preconceito". Não acho que isso seja 100% positivo. Acredito até que contribui para a formação de um estereótipo exagerado. Tudo bem que, nesses eventos, o público costuma ser numeroso e diversificado, mas penso que a imagem que fica guardada é a da minoria que se expõe em carros e fantasias e etc. Eu não penso que isso seja necesariamente uma imagem negativa - pelo contrário, viva a liberdade! -, mas já imagino pessoas mais conservadoras utilizando-a para justificar seu preconceito para com todos os não-heterossexuais. Enfim.
          A pergunta que eu considero mais difícil e polêmica e originadora de idéias deturpadas é justamente a que o Roberto fez, a da escolha: "É uma escolha? Ser "hetero", "bi", ou "homo" é uma escolha?". O que eu penso é que a escolha está em adotar um comportamento "fiel a sua sexualidade" ou não. Eu não escolho sentir atração por um sexo ou outro (ou os dois), mas, ao saber qual é a minha orientação sexual, decidir se vou ou não "me moldar" ao meu desejo. Esse "me moldar" soou como algo ruim, mas não era pra ser. Como é frisado no texto da Anita, é muito difícil o processo de libertação do que é esperado socialmente, na família, com pessoas próximas. No contexto do que eu disse, esse "moldar-se" se refere a assumir para si mesmo a sua sexualidade e tomar alguma atitude quanto a isso. Eu sinceramente desprezo qualquer teoria de que tal gene pode ser influente no comportamento sexual... soa como "tornar doença" a não-heterossexualidade. Enfim, sou resistente nesse ponto: a ciência não pode ter a pretensão de controlar minha subjetividade. Acredito que a ação de reconhecer-se como não-heterossexual tem influência do ambiente, da forma como a pessoa se relaciona com as outras, de seus pensamentos construídos a partir da crítica aos valores familiares e da sociedade como um todo, enfim. Pode parecer um tanto contraditório o que eu digo... falo em sentir atração pelo sexo oposto (num sentido extremamente físico), mas busco justificar isso com o entendimento do papel da pessoa dentro de sua família. Reluto ainda em aceitar a idéia de que existe uma predisposição para a pessoa se tornar gay ou enfim. As pessoas são mais complexas que isso, mais complexas do que a interpretação de um gene ou de um determinado fato ocorrido na infância. Acho engraçado como a não-heterossexualidade não é  vista como natural.

sábado, 1 de maio de 2010

Sobre preconceito com homossexuais.

Estou escrevendo motivada pelas observações que venho fazendo principalmente de meus colegas de aula. Na última semana, em especial, este assunto provocou uma série um tanto maior de comentários desprezíveis. Uma palestrante falava sobre homens terem um inconsciente feminino e mulheres terem um inconsciente masculino, algo do gênero. Uma menina perguntou como isso se dava "no caso dos gays". Não achei nada de mais a pergunta,a não ser pelo fato de que eu achei que ela queria dizer "pessoas que desejam mudar de sexo, pois não se enquadram psicologicamente e enfim no corpo em que nasceram". Mas tudo bem. Depois, lembrei de outra colega, que tinha a concepção de que os homossexuais, além de "serem assim em função da genética", eram, na verdade, homens que desejavam ser mulheres e vice-versa. Não podendo ter o desejo atendido, essas pessoas se comportavam como pessoas do sexo oposto e, assim, "como esperado", sentiam atração do modo heterossexual (e, logo, praticavam seu homossexualismo). Notei que os exemplos dados pelas pessoas geralmente são masculinos e que esses homens figurados são exemplos bem porcos de um estereótipo de homens extremamente afeminados, como se todos os gays se restringissem a essa imagem. A resposta da palestrante me satisfez: "isso não varia conforme a sexualidade, mas conforme o gênero. E só. Homens homossexuais ainda são homens." - claro, não foram essas as palavras exatas, só a mensagem. E essa pergunta deu início a uma agitação em considerável parte da turma (parecido com quando se fala de futebol), em especial aos meus colegas do sexo masculino. Já não são muitos, mas os que se fazem presentes parecem carregar o preconceito de todo um mundo. Sem exagero. Acho que minha maior crítica seria aos estudantes que não se esforçam para cumprir bem sua tarefa profundamente. Tenho que ter cuidado ao dizer isso, pois não compreendo bem os religiosos e costumo não ter paciência com homofóbicos. Falha minha. Religião eu respeito, mas homofobia é algo que eu não entendo e nem vejo razão para tal. É frisado durante o curso de Psicologia que, diante de um caso que não nos achamos capazes de cuidar, repassemos o paciente para outro psicólogo. E eu meio que torço para os meus colegas terem essa atitude. Torço mesmo. Tudo tem limite: brincadeira é brincadeira quando não se torna ofensiva. E, sinceramente, o que me incomoda mais é que não consigo levantar nenhuma hipótese plausível para explicar essa aparente perturbação que a idéia do homossexualismo traz a alguns, a não ser pensar que os homens que se afligem com isso não estão seguros de sua sexualidade. E não vejo problema nessa insegurança: o problema está em descontar isso nos outros. Ouvi de um colega, no ano passado, que sua repulsa estava no fato de que a função do sexo era a reprodução e que, assim, a relação sexual homossexual violava esse fim. Acho estupidamente ignorante essa afirmação. Camisinha pra quê? Pílula pra quê? Enfim. Estamos no século vinte e um! Nunca se valorizou tanto o orgasmo feminino. As revistas incentivam a masturbação, diversas fontes explicam melhores e diferentes formas de obtenção de prazer. É só ligar a tevê à noite e ver o quanto foi enriquecida a idéia de relação sexual. Sexshop, Kamasutra, pompoarismo, whatever: quem ainda pensa que o sexo é mesmo para procriação? Ah, fala sério. Conversei com minha psicóloga e ela vê a homofobia como conseqüência de uma experiência (homossexual) não resolvida ou reprimida. E isso não necessariamente quer dizer que um cara quis beijar outro: eu acho um tanto irônico os homens não buscarem prazer em todas as suas zonas erógenas durante a relação (mesmo heterossexual). Bunda, ânus, períneo, próstata: farinha do mesmo saco. E, mais do que evitar "sentirem-se agindo como homossexuais", essas pessoas parecem ter a necessidade de zombar de quem se mostra diferente. Seria isso necessidade de autoafirmação? Há superioridade em ser heterossexual? Eu sou contra o orgulho, seja qual for a respectiva sexualidade a ele aliada. Orgulho gay não me diz nada, nem hetero, nem bissexual, nem nenhum. E não vejo sustentação na afirmação de que os heterossexuais constituem a maior parte do todo. Se fosse para chutar, diria que os bissexuais formam a maioria (e não, não penso que "toda mulher é bissexual", como insistem certas teorias - penso que os homens foram educados a competirem entre si e esconderem suas emoções). Me preocupo com a forma com que esse tipo de preconceito é escancarado e fortalecido à medida que poucas vozes agem em resposta. Aliás, eu não compreendo essa falta de respeito, que faz com que não-heterossexuais tenham que se mobilizar para provarem que não são extraterrestres, nem inferiores, nem aberrações ou qualquer coisa do tipo. Na verdade, eu acho ridícula qualquer imposição que implique "provar" algo para alguém - começando pela ação de julgar as pessoas como culpadas, fazendo com que elas justifiquem sua inocência. Dessa perspectiva, os homossexuais são vítimas. Mas pretendo não insistir nisso. Não são "coitadinhos" como pensa a minha colega. O papel de homossexual na sociedade ainda parece absurdo: deixa-se de lado o indivíduo e centra-se na parte sexual. Como se tudo o que ele fizesse da vida fosse sexo, e de forma pecaminosa. Não falarei de Catolicismo... que interpretem como quiserem a mensagem do "Salvador", mas que sejam coerentes e não permitam mesmo o uso da camisinha (meu problema quanto a religiões está relacionado com essa modernização ausente ou presente de certas crenças) - afinal, "sexo é para reprodução" e toda forma de prazer deve ser proibida. Enfim. Sei que futuramente terei problemas em relação a esse assunto: não me farei entender e não estarei aberta para críticas. E acho lamentável que, na profissão que eu vou seguir, existam pessoas com idéias mais do que ultrapassadas e ignorantes. 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...