terça-feira, 29 de julho de 2008

Dry Martini

"É assim que não se prova nada a ninguém. Pegar mais duas, três, seis, sete taças - morder a azeitona e deixar o líquido escorrer, sem censura. Dançar num vestido prateado, com purpurina, purpurina! Gastar o batom e a sola do sapato, não se preocupar com o cabelo desarrumado e seguir desenozando gravatas. E, ainda assim, continuo provando que me importo. O viver em sociedade é tão chato e demodê. Não sei se o que assusta mais é a visão da voracidade ou do quarto escuro e silencioso, eu realmente não aprendi nada esses anos todos. Quebrar saltos, unhas, ilusões... ai, que rotina! Eu acho que estou mais perto do desperdício de mim mesma. Isso se reflete em cada gole de saudade das verdades que eu nunca fui. Me confundem com frascos, me procuram em espelhos, mas a verdade é que não me encontram em lugar algum.

Ainda consertam-se gaitas segundo a placa da esquina. Talvez eu apareça por lá à procura da minha identidade.
Aceita um gole?"



segunda-feira, 28 de julho de 2008

Gelo Seco.

- Eu sou melhor do que vocês.
Disse o que disse e saiu da sala, sem escrúpulos, sem últimos olhares, sem mais frases de efeito. A porta não foi violentada; sequer emitiu ruído o giro da maçaneta. Cruzou os corredores trazendo uma mensagem no semblante - uma verdade em carne viva. Passos apressados se aproximaram, seguidos de palavras impensadas, pronunciadas em tom histérico, que diziam nada além do esperado.
- Não importa.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Copos se quebram todos os dias.

Pode até ser que a grandeza de uma pessoa seja reconhecida no modo como ela se levanta, mas essa idéia é manjada demais. Assoar o nariz em público pode dizer muito mais, uma vez que entram em jogo a necessidade e falta de privacidade, o que faz com que o sujeito se reprima de forma a tentar ser o mais breve e silencioso possível, uma vez que os demais não aprovam o gesto geralmente. Ou não. Grande merda também. Quer dizer, eu não entendo esse drama todo. Viva os índios de novo! Não esconder as "vergonhas", como diriam os portugueses, tampouco fazer escândalo de coisas tão cotidianas (tá, eu não tenho base alguma para falar disso, nem tenho saco para continuar).

Essa coisa de grupo, amigos unidos, etc. pode ser muito bonitinha e tudo o mais, porém - andei pensando - e realmente não acho necessária a existência integral desse convívio (? - ok, vocês entenderam). Esta não é exatamente uma promoção da autosuficiência, mas da independência em suas devidas proporções. Minhas palavras não estão me agradando por hoje e eu estou tentando ser o menos fria possível. No fundo, esse emaranhado de sentimentos pode ser ainda resquício de tetos anteriores, onde a idéia do coletivo se chocava com o individual.

Eu gosto de ser sozinha; eu cresci assim. Não que eu queira dar início a um drama, mas eu brincava sozinha e coisas assim, então não é difícil - muito pelo contrário - me ver bem nessa situação. Não se trata de "negar" amigos, mas preferir o meu jeito, o meu mundo, o meu ritmo sem interrupções. Egoísmo em parte, por nem sempre buscar o outro lado da moeda, mas ainda assim um hábito inofensivo. E, do mesmo jeito que isso não é entendido na maioria dos casos, não sou eu quem vai entender aquela vida de profunda alegria, mil estranhos conhecidos em volta, agitação, stress e mundo compartilhado. Sinceramente? Eu vejo tudo isso com desgosto, muito desgosto. Talvez nem tanto. Só não gosto das afirmações de que minha vida é em vão se eu não fizer isso ou aquilo. De novo: grande merda. No mínimo, respeito pelas diferenças. Não resolvendo, todos os golpes de artes marciais que você aprendeu ao longo da vida, seja na tevê ou com alguém, podem ser postos em prática. Ou não.

E eu cansei de repensar atitudes, tentar mudar conceitos, aceitar que "tudo poderia ser melhor se eu me portasse de outra forma". Ao invés de me ensinar a me comprometer, aprenda a não se importar. Não falo de indiferença, mas falta de dependência - ainda mais quando as coisas não são sólidas. Eu sinto falta do que pode me preencher, não do que pode vir a sobrar. Eu preciso de ar, preciso de tempo que alimente a saudade. Preciso do que é original e não me causa chaga sofrer abuso de quem aprecio. Mas está cada vez mais raro o gosto de apreciar...

Aliás, o filme do Coringa foi tipo assim eternizado.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Sprouts of Time

Ela chegou com as mãos meladas de algodão-doce, daqueles rosas que têm cheiro bom, com aquele sorriso inocente de gente que espera. Espera, simplesmente espera - espera porque tem medo de enfrentar a verdade cinza e sóbria de que as coisas não são todas rosas e doces.

Eu me acomodei no banco de forma a deixar um espaço bastante grande para que ela se espalhasse, como eu sabia que ela ia querer fazer. Ela usava aqueles vestidos com a saia rodada e demorava um bocado de tempo para se sentar, procurando não amassar o tecido. Era sempre assim, sempre assim. Eu mentiria se dissesse que isso não me aborrecia, mas dessa vez foi diferente.
Quando nós sabemos que algo vai ocorrer pela última vez ele sempre ganha um gosto especial. É como ver as pombas na praça: às vezes você joga pipocas no chão, às vezes se enfurece com aqueles pontos brancos e pretos, em degradê, que sobrevoam sua cabeça. Nesse dia eu até cheguei antes do horário marcado a fim de prestar mais atenção nas coisas que nunca me chamaram a atenção - ou eu que não permiti, devido a correria do dia-a-dia.

Eu conclui que não poderia sentir falta do que eu nem sabia que existia em alguns segundos, quando um senhor passou com uma bengala, desviando meus pensamentos de nostalgia. Eu estava embriagado com aquela história das pombas e das árvores e tudo o mais e o velho s
urgiu com aquela bengala de madeira marrom e ponta bicuda de ferro. Parecia um bom homem até chutar para longe uma bola que passou pela frente dos seus pés.

Nesse meio tempo eu retomei à minha cara de insignificância, concentrado em planejar tarefas óbvias, numa tentativa frustrada de economizar as horas que eu não tinha. Ela, então, apareceu surpreendentemente do nada, como a neblina que percorre o abismo. Não fossem os olhos amendoados, poderia descrevê-la como uma daquelas camponesas virgens que enfeitam alguns quadros, tapeçarias... É sempre difícil imaginar que algumas meninas um dia crescem e acabam com caras tipo eu. Tá, eu não quis dizer isso.
Ela ficou sentadinha do meu lado, comendo aquele tufo colorido e lambendo os dedos. Parecia realmente uma criança. Eu fiquei pensando se despejava de uma só vez todas as palavras que eu tinha ensaiado, mas de repente ficou tudo mais difícil.

Eu abri a jaqueta e do bolso interno tirei um frasquinho prateado, desses que quase todo mundo tem e funciona quase como um fetiche. Um gole daquilo já me fez sentir melhor, embora custasse muito ainda para eu me sentir pronto. Pronto. 'Pronto' simplifica muita coisa, mas também esconde o real sentido, como um eufemismo. Esconde o gaguejar, o suar frio, o cravar de unhas na
s palmas das mãos e todos essas coisas que tendem a fazer com que nós homens nos sintamos menos fortes - eu não vou nem explicar a vergonha que eu sinto em falar essas merdas. Já basta.

Ela me trouxe uma caixa pequena de madeira, consideravelmente pesada. Envernizada, escura, em formato de baú. Me disse para abrir quando chegasse da viagem, antes ou depois de descansar. Não sei reagir muito bem com esse tipo de situação, uma vez que a gente fica com cara de idiota quando está com o presente na mão e não pode agradecer porque não podemos dizer que gostamos dele - não com sinceridade. Eu disse que não tinha comprado nada para ela, mas era mentira. A verdade é qu
e eu não queria que ela entendesse aquilo como uma intenção - era apenas um anel.

No final da tarde ela me levou na estação, o que foi um tanto desconfortante. Era eu quem deveria levá-la até o trem, eu que deveria dizer que sentiria saudade, eu que acenaria alegremente e depois partiria sozinho com cara de dor - mas foi ela quem o fez. Eu apenas respondi - respondi com todos os movimentos que os meus músculos do rosto podem fazer, mesmo quando eu não falo nada. Ela me entendia, eu sabia disso. Por baixo daquele vestido rodado tinha um ser muito forte, capaz de me desarmar como poucos.

Ela não fez menção de chorar, o que me deixou meio atordoado. Eu não ia saber o que fazer mesmo e talvez até achasse chato esperar o tempo passar tendo que dizer que tudo bem, que em breve nos veríamos de novo, essas bobagens. Ela não era tola e sabia esconder muito bem todas as emoções que eu não sei bem como nomear. A verdade é que o abraço que eu dei nela não foi o su
ficiente longo e que eu até me arrependi de algumas queixas que vez ou outra eu fizera - a gente sempre se acha chato quando sente que está no prejuízo, então o que foi perdido passa por nossos olhos repleto de defeitos e, finalmente, damos um jeito de esquecer tudo de vez.

Eu não prometi que ia voltar, nem esperei promessa alguma da parte dela. Ela me entregou uma carta, que ficou melada de algodão-doce. Eu beijei os seus dedos delicados e coloquei, num deles, o anel que eu tinha comprado. Ela sorriu, mas não disse nada. Foi melhor assim, com esse segredo todo. Eu nunca entendo muito bem o que as pessoas querem dizer quando fazem uma ou outra careta, mas aquele sorriso nunca me ferira.

Eu subi no trem, dormi, olhei as poças de água que a lua iluminava e, umas três horas depois, resolvi que chegara o momento de abrir a caixa. Eu estava com aquela sensibilidade de quem está ansioso com a novidade e se esquece do que parecia ser bom na antiga vida - de um minut
o atrás.

Eu esperava qualquer merda - uma foto, uma bailarina dançante que fosse.
Esperava, simplesmente esperava - esperava com medo de me compreter com aquele passado, de tornar inesquecível algo que sequer me encantara meses antes. Fiquei ali, encarando a caixa com olhos de gato. A janela estava aberta, eu ainda podia escolher entre a curiosidade e o refúgio de nunca saber nem nunca lembrar.

Pensei melhor e decidi realizar seu último pedido. Talvez fosse o único em que eu não tivera falhado
.


terça-feira, 1 de julho de 2008

O Mesmo Erro

Então enquanto eu me reviro nos lençóis
E, mais uma vez, não consigo dormir
Saio porta fora e subo a rua,
Olho as estrelas sob os meus pés
Relembro coisas certas que eu transformei em erradas
E aqui vou eu

Olá, olá

Não há nenhum lugar onde eu não possa ir
A minha mente está turva mas
Meu coração está pesado, não se nota?
Eu perco a trilha que me perde
Assim aqui vou eu

E então eu mandei alguns homens à luta,
E um deles voltou na calada da noite,
Disse que tinha visto o meu inimigo
Disse que ele se parecia comigo
Então eu me preparei pra me ferir
E aqui vou eu

Não estou pedindo uma segunda chance,
Estou gritando com toda a força da minha voz
Me dê razão, mas não me dê escolha,
Porque eu cometerei o mesmo erro outra vez

E talvez um dia nós nos encontremos
E talvez possamos conversar e não apenas falar
Não acredite nas promessas porque
Não há promessas que eu cumpra,
E minha culpa me inquieta
Assim aqui vou eu

Enquanto me reviro em meus lençóis,
E mais uma vez não consigo dormir,
Ando para fora da porta e subo a rua
Olho as estrelas
Olho as estrelas, caindo
E eu me pergunto, onde é que
Eu errei?

_
Same Mistake, James Blunt.

A música é daquelas calmas que te fazem enjoar de ouvir tanto, mas eu gostei tanto da letra. Exceto pelo que se entende no contexto - do lado amorzinho - eu me identifiquei e tals. Ok, eu adoro músicas dramáticas. Enfim. Cara, não fui exatamente mal nas provas do concurso. Quer dizer, eu tenho um cérebro. Se pá voltarei a ter fotos novamente. Tenho que responder um scrap do Gui e seguir baixando músicas. Depois organizo minha lista "Filmes/Seriados/Animes/Etc. que eu tenho que ver" (sugestões aceitas). Aliás, eu aceito qualquer coisa. Livros também. Um dia eu ainda sigo essas listas. Ah, acordei tão meiga hoje. E eu estou na fase de auto-avaliação, onde eu fico pentelhando conhecidos por análises, então é o período certo para me jogarem tomates (a princípio estou mansinha). Tá, eu tô meio besta, então estou escrevendo essas coisas. Contando os dias para estreiar o esmalte preto (y). Kisses.

Eu gosto da temática amorzinho, por influências de filmes e diálogos imaginários e eu não gosto do que algumas coisas aparentam ser. Nem de idosos em filas... enfim.

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