sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

ah, as portas...

as paredes que me perdoem, mas as portas são muito mais participativas. eu fiquei pensando nisso hoje, quando eu fechei a porta pra faxineira. nada contra ela (quer dizer...), mas eu fico tão feliz em saber que vou ficar em paz, sozinha em casa, que eu não posso disfarçar uma careta de "yeaaah" (às vezes acompanhada de algum gesto das mãos) quando eu rodo a chave. daí eu fiquei pensando que essa porta, se tivesse um cérebro ou outro meio de criar pensamentos, acharia previsível a minha reação - e seria uma ampla conhecedora de expressões (tipo um drew, do filme elizabethtown, em sua análise dos últimos olhares. ou tipo uma amélie poulain, embora eu não lembre direito o que ela faz).
as portas, reunindo os dados que coletam, devem ser realmente boas em prever situações (só observando, já que o sentido da audição é de exclusividade das paredes...). imagina uma enciclopédia disso! o olhar ansioso, quando se está esperando alguém vir com uma notícia ou quando se está com saudade, a cara de tédio quando você percebe que quem tocou a campainha é seu vizinho gordo que veio devolver alguma coisa ou o zelador querendo checar o treco do gás, a cara de surpresa quando chega uma encomenda, as mil faces que o efeito de uma pizza na porta pode produzir (desde flerte com o entregador até fome ao cubo, mau-humor pela demora, dúvida em relação ao paradeiro do dinheiro), enfim...
as portas servem de suporte para pessoas que choram desesperadamente escoradas em alguma coisa (pelo menos em filmes), para guirlandas natalinas e plaquinhas meigas de 'bem-vindo' ou 'lar doce lar', para aqueles que se sentem mais seguros se encostarem seus traseiros nas malditas depois de chegar em casa - depois de um dia cansativo, um quase assalto na rua, um vendaval. ah, as portas... *suspira* tão necessárias para se manter a privacidade, seja em qual peça se encontram.
as portas de banheiro, é claro, são as mais compreensíveis: não se importam se são maltratadas devido ao seu stress-pré-cagada (?) (veja, a sigla disso é SPC \o/), com o cheiro nem com o bafo after-banho. as portas dos quartos selam sons indesejáveis, tipo gemidos (alheios) e roncos, além de favorecer o sono lindo, leve e solto (em outras palavras, você pode dormir pelado). tudo bem, todas as portas auxiliam do seu jeito e evitam que sua música ligada no volume máximo incomode tanto sua mãe, que está vendo tevê... mesmo que, às vezes, você tenha desentendimentos com o sr. vento por ficar embalando suas queridas portas. coitadinhas, rangem de dor - quando não se torturam se jogando contra a parede.
valorize sua porta, afinal nunca se sabe o quanto ela pode dizer sobre você.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

pt. 9

Optou por correr, adentrando o labirinto macabro com passos largos. Olhava para os lados, procurando um vulto qualquer, porém ninguém encontrou. Tempo depois, avistou uma grande porta de bronze - no final de um comprido lance de escadas - um tanto familiar. Em questão de segundos, sentiu seus pés tocarem as lajotas de pedra da calçada. A luz do sol estava fraca, mas a ausência de nuvens e vento tranqüilizava aqueles que não tinham paixão pelos dias frios. "Liberdade!". Fechou os olhos por alguns segundos, tateou o cabelo e ajeitou um ou outro fio que saíra do lugar.
Era uma sensação esquisita sair daquele esconderijo, daquele mundo paralelo que Arthur construira, onde não se enxergava a vida em cores. Caminhou algumas quadras, não reconhecendo praticamente nada. Deveria existir um bar por ali, um lugar onde pudesse ficar livre do clima de confinamento. Passou por uma porta, numa esquina qualquer. Um balcão lustroso e preto, cadeiras brancas e altas e luzes levemente vermelhas.
Se dirigiu a um cara alto e gordo, afro-descendente, de gravata-borboleta vermelha e avental, que secava copos com certa impaciência. Para o horário que deveria ser, o número de clientes parecia bastante satisfatório. Pediu uma bebida forte e
sentou-se em um canto mais afastado, puxando em direção ao peito um cinzeiro marrom.
Assim que recebeu o copo em mãos, sentiu que alguém se aproximava. Reconheceu o homem que se sentou ao seu lado. Fisicamente semelhante ao atendente, porém trajando roupa social escura e justa: esse era Thomas, outro 'escravo' de Arthur. Demorou para saber se ele o percebera também, se agia com indiferença e, o mais importante, se a chegada dele representaria um problema.
- O mesmo de sempre, Tom?
- Não, Ralph. Quero um duplo dessa vez. - Ao concluir o pedido, virou-se para Antoine a fim de examiná-lo. - Você não deveria estar trabalhando?
- Não. - A voz saiu tremida e sua tentativa de inflar o peito e parecer maior também foi frustrante. Definitivamente não sabia como parecer mais imponente que um homem que mais parecia uma parede e que, provavelmente, o vencia também no número de informações sobre o assunto que unia os dois. - Ele me dispensou hoje.
- E porque ele faria isso?
- Ué, foi gentil. Anda ocupado, não precisa dos meus serviços. - Antoine ouviu as palavras saírem mecanicamente da sua boca, se arrependendo de cada uma delas, sentindo-se um completo idiota.
- Gentileza é algo que realmente não existe naquele corpo. - Ao contrário de Arthur, Thomas não sorria: franzia a testa, mesmo quando falava em tom de brincadeira. Estava desconfiado que o rapaz pudesse estar cometendo um grande erro. Era verdade que, desde que o chefe o colocara num cargo de confiança, representava certo perigo - exceto para aqueles que tinham papel realmente fundamental na história dos negócios de Arthur... como Thomas. - Pela lógica, se ele está ocupado é porque você o fez trabalhar em dobro ou... - Colocou a mão no queixo. - ...você deveria estar muito ocupado também.
- Ele pediu para ficar sozinho com a garota, só isso. Vão demorar, devem ter muito o que conversar. Resolvi espairecer, tomar um café, qualquer coisa. Um breve descanso. - Encarou os olhos fundos a sua frente, então acrescentou: - Você também não deveria estar aqui.
- O Arthur precisa de mim tanto quanto eu dele, Antoine. Não são laços afetivos, mas são mais fortes do que qualquer coisa.
- Eu imagino...
- Você ri porque ainda têm todos os dentes na boca. - Dito isso, Antoine se engasgou com a fumaça de seu cigarro. - Se tem coisa que eu não gosto é de gente do seu tipo.
- Hey!
- A troco de quê ele te contratou?
- Eu também não sei, não fica me culpando. - Odiava não entender direito os planos do velho, o que interferia diretamente na sua resposta a esse tipo de pergunta. Não estava convicto de que era bem-vindo.
- Só acho que mulheres levam mais jeito para ser babá.
O diálogo foi interrompido por um baque produzido pelo copo recém-entregue de Thomas. Apesar de parecer sério, seu humor estava neutro. Demonstrava arrogância, mas só queria se vingar pelas poucas vezes em que esteve com Antoine e este se mostrou antipático e asqueroso.
- Olha, falando sério agora. Não deixa ele controlar sua vida. Imponha limites.
- Ele é meu chefe, não posso ignorar essa hierarquia...
- Aí que tá: ele te ameaça, te faz trabalhar como um condenado, te corta o açúcar e, mais tarde, o cafezinho. O salário é alto, eu reconheço, mas não é tudo.
- Ele me mata se eu fizer algo errado. Literalmente.
- Ele não é tão radical assim, depende muito da merda que o sujeito fez. Talvez em fase de teste... mas você já passou disso, pelo visto. - Deu um gole e suspirou. - É muito fácil ameaçar, Antoine... mas você também representa um perigo para ele, você sabe. Qualquer segredo nos ouvidos errados e ele perde tudo.
- Eu não quero ganhar pelo medo, quero conquistar a confiança dele.
- Muito bonito da sua parte, mas não é bem assim que acontece na prática.
Ambos contribuíram para um silêncio triste, onde cada um acabou com o que restava em seu copo e apoiou o rosto nas mãos. Antoine não esperava que o segurança imenso que trabalhava para seu chefe pudesse se mostrar tão dócil e, inclusive, aconselhá-lo em relação ao patrão. Ainda lidava com um estranho (ou dois...), mas não se sentia tão desconfortável. Com dois dedos, iniciou um barulho chato sobre o balcão - que, por sinal, não durou muito: foi abafado pelo peso da mão gorda de Tom segurando seu pulso.
- Eu trabalho com a família há uns vinte e cinco anos. Acredita no que eu te digo.
- Nossa. Não que eu esteja duvidando disso, mas o Arthur não é tão velho assim, e nem você...
- Ele herdou tudo do pai: as empresas e a maldade. Mas não o culpo por isso...
- Como assim? Eu pensei que ele tivesse feito tudo sozinho, depois de conseguir grana. Quer dizer, ele já podia ser rico, mas eu achei que um psiquiatra do nível dele ganhasse bastante.
- Ah, é claro que a fama dele contribuiu. Ele foi uma pessoa pública, mas viu que com a imprensa em cima dele seria impossível realizar alguns feitos... então se deixou esquecer.
- Feitos? Tipo o quê?
- Tipo dar fins às coisas. Eu não sei o que você pensa que ele estuda, mas acho que já entendeu que ele não é muito... hum... normal.
- Você fala de sangue?
- Falo de tudo. Eu não gosto nem de pensar.
- E porque você insiste em trabalhar com ele se...
- Olha, rapaz, não pense que existe medo nisso. Não mesmo. Afinal, sou eu que protejo a vida dele. - Hesitou antes de concluir. - Bem... eu faço isso por gratidão. Não tenho família, não preciso de mais dinheiro do que já tenho, não faço questão de sair. Por mim é quase indiferente... mas existe o peso de protegê-lo, que é meu papel.
- É bonito isso, mas também não acho que na prática tudo seja tão correto. Você está correndo riscos por isso.
- Mas eu estou fazendo o que acho certo. - Cruzou os braços e olhou atento para o colega. - Porque não caiu fora? Eu sei que você já viu o que aconteceu com a Lorah...
- Mas ela era uma cretina.
- Você diz isso, mas foi ela quem te trouxe para a vida que você tanto gosta...
- Bebida e garotas? Ela sempre aparecia onde eu estava para queimar meu filme!
- Hum... não, eu quis dizer o seu emprego... sua vida pessoal não me interessa.
- Tá, então continua falando sobre o Arthur. O pai dele fazia o quê?
- Era um canalha. Deu um jeito de colocar a mulher num hospício, sabendo que ela não tinha nenhum problema.
- Nossa. O Arthur morava só com ele?
- Com o pai, a irmã menor e, sei lá, empregados.
- Essa irmã é aquela mulher quieta que trabalha na cozinha?
- Não, é claro que não... Morreu, morreu na juventude de Arthur. Ela nasceu com alguma doença dessas bem complicadas, sabe?
- Hum... que trágico. Por isso ele é todo esquisito.
- É, pode ser. - Consultou o relógio com um gesto exagerado, onde Antoine percebeu uma certa pressão para que fosse embora. Deixou a cadeira sem dizer nada, pagou pelo que consumiu e deixou o resto do cigarro no cinzeiro. Ao se despedir de Thomas, este o surpreendeu esmagando uma bisnaga de catchup sobre sua camisa branca. - Antes de voltar ao trabalho, não se esqueça de limpar bem isso... Sabe como é, - Ergueu a sobrancelha e a cabeça, numa tentativa de se mostrar superior. - o Arthur pode descobrir que você tem saído por aí e não gostar nem um pouco.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

pt. 8

- O que ela vai pensar de mim? - Com as palmas das mãos estendidas, sob a torneira aberta, apertou os olhos. Passou a água pelos cabelos, puxando-os com força. Depois de repetir o ato algumas vezes, olhou com atenção o rosto molhado no espelho, como se fosse irracional existir um reflexo.
A iluminação era propositalmente
precária: ele se sentia melhor assim. Alguma coisa deveria manter o caráter simples. Nem tudo que reluz é necessariamente bonito. Gostava da aparência gasta, do escuro e do cheiro de poeira - acreditava que era aconchegante. "Nada mais incômodo que elegância demais", pensava.
Respirou fundo, mantendo os olhos acinzentados nos opacos que o fitavam. A barba crescida, algumas marcas da idade, uns fios brancos na cabeça: sabia que não havia negócio a ser feito com o tempo - ele era o grande deus: não se tratava de um senhor dos justos, nem de um sábio, nem de um brincalhão; era a prova do poder em sua essência, sem compaixão e sem razão.
Abriu a boca, analisou os dentes. As sobrancelhas espessas chamaram sua atenção. "Droga, ela está chegando". Olhou para o relógio de pulso, que repousava sobre o assento de uma cadeira de madeira escura, trazida de um restaurante que não mais existe. Não teria tempo de trocar a roupa que vestia (um roupão comprido, velho, de listras marrons em fundo mais claro), nem de tomar seus remédios. Pensou em oferecer algum chocolate, mas não havia nada por ali que não fosse papel, móveis e mofo - e uma embalagem mediana, colorida, de algum presente inútil que recebera.
Escovava os dentes com fúria, ferindo a gengiva e o interior das bochechas. Gostava da sensação de ardência. O som de passos no corredor embalou as batidas na porta, que não tardaram a chegar. Olhou apreensivo para a maçaneta que, girando, produziu um estalo. Cuspiu tudo na pia, com desgosto. Dessa vez não se alegrou ao ver que a espuma que deslizava com o fluxo de água era rosada.
- Ô, desvairada! Ele é o chefe, merece o mínimo de educação. Não chega assim entrando... - Antoine puxou Agatha pelo braço, de leve, buscando um sinal de aprovação de Arthur que, por sua vez, parecia estar distante demais da realidade para se ocupar com um feito tão banal.
- Deixe-nos sozinhos.
- Arthur, teus olhos estão tão vermelhos, parece até que... - A voz do rapaz desapareceu assim que o homem a sua frente cruzou os braços e inclinou a cabeça para a direita, torcendo a boca para o outro lado. Nunca vira tal expressão, mas já sentira medo antes por muito menos. Recuou rapidamente e fechou a porta. Pensou em ficar ali e tentar ouvir a conversa, mas não desejava conhecer as conseqüências de tal infantilidade - ainda mais agora que estava lutando por um voto de confiança.
- Sente-se. - Apontou uma poltrona encapada com tecido salmão que ligeiramente dava um ar menos mórbido ao ambiente. Agatha sentia-se em um banheiro imundo que fora adaptado na tentativa de se tornar um escritório. Não pensou duas vezes antes de atender o pedido.
- Agora... - Disse ele, se acomodando em um aglomerado de almofadas fedorentas, que escondiam os rasgos de um colchonete. A diferença na altura dos dois ajudaria a garota a se soltar, visto que ela parecia ter alcançado certa autoridade ao ver o velho que destruira sua vida em um estado lastimável, jogado em trapos. - ... comece! Fique à vontade, não precisa correr.

- Hum... ok. - Esqueceu por um tempo do tanto que queria dizer a Arthur: xingá-lo, questioná-lo, ameaçá-lo... Ele parecia tão humano e fraco, tão pequeno. De repente, um erro da parte dele: uma risada baixa, mas maliciosa. Sua suposta fragilidade se dissolvera em um segundo, transformando-o num impostor da pior espécie aos olhos claros que o miravam. - Você é nojento! Sério... doente, doente! Um louco, um maníaco, um...
- Eu sei o que eu sou. Você não veio aqui me dizer isso.
- Pára! Eu quero falar, quero te fazer escutar tudo o que eu tenho vontade de dizer! Fiquei dias olhando para as paredes por sua culpa, o mínimo que mereço é...
- Pelo visto não aprendeu nada.
- E o que eu aprenderia? Que conversa de louco, você sempre...
- Imagem, imagem, imagem... Como é possível? - Ele levantou os braços e virou os olhos para cima por uns segundos. - Aprende a ver além do físico, menina. Horas e horas se vendo no espelho e nada... - Ela parecia não entender nada. - Eu quero te ver se odiando, não suportando mais se ver o tempo todo! Detesto te ver arrumar os cabelos de dez em dez segundos. Arranque-os, coloca tudo na boca e engole!
- Eu guardo meu desprezo para ti.
- Não, mocinha, não é assim que funciona. Você tem que se livrar dessa cegueira a que todos estão acostumados! O poder da visão do real é um privilégio para poucos...
- Quanto blablablá! Você fala como se fosse Deus, fala para eu me desligar das aparências mas não passa de um egocêntrico... você é uma farsa, uma mentira!
- A mentira pelo qual você vai lutar um dia.
Agatha não respondeu. Observou Arthur tossir compulsivamente - os olhos cada vez mais vermelhos, a mão batendo no peito, como se o ar lhe faltasse. Seis minutos de esforço, lutando contra a doença, foram suficientes para deixá-lo caído sobre as almofadas. O corpo perdia os movimentos com o passar dos segundos. A menina não se mostrou muito assustada. Pelo contrário: deixou escorregar para os dedos um estilete que trouxera escondido na manga.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Irritam (1)

Pessoas que:

- conversam (ou não), com chiclete na boca, fazendo barulhinho e semi-babando.
- chamam todo mundo de 'amaaado', 'amor', 'querido' e afins, principalmente se estão numa loja te atendendo.
- andam com guarda-chuva no centro.³
- estacionam o carro sobre a faixa de pedestres.
- realmente acreditam que o 'oi, beleza?' é agradável (e sincero).
- carregam crianças no ônibus e sentam com elas no seu (oi, você que está lendo) colo.
- direcionam a fumaça do cigarro (ou o que for) para seu rosto.
- brincam de arranhar talheres para fazer aquele rangidinho arrepiante.
- pingam no assento no vaso.³
- comem sua última (digite aqui alguma comida deliciosa, de preferência muito cara e rara - ?).
- mentem descaradamente.
- dividem o suor delas, sem ter a menor intimidade.
- te acordam.²
- chamam sua atenção na parte clímax da música (principalmente quando ela está tocando no rádio, depois de dois anos sem ter encontrado seus ouvidos). quem quer se emocionar fazendo performances ou afundar no momento poser-deprê, ou sei lá imaginar coisas diversas durante uma sessão musical não quer sair do transe (!).³
- sentam na rede onde você está quase dormindo.
- ocupam seu lugar quando você vai fazer algo rápido, do tipo xixi ou pegar algo. (e ainda dizem algo do gênero "dããã não tem teu nome aqui.")
- são inseguras demais, o tempo todo, ó meu deus, ahhhh!
- agem como se 100% das pessoas acreditasse em deus e coisas do gênero. aff!
- gritam ao falar no celular.
- são efusivas ao cubo.
- elogiam demais coisas que você detesta não-anonimamente.
- amassam suas folhas, livros, revistas, etc.
- mordem seus lápis. ou apontam demasiadamente. tá, eu confesso que meus lápis são mimados.
- não têm noção de que incomodam ao cantar do seu lado.
- te oferecem mil vezes uma coisa, até você se sentir obrigado a aceitar.
- choram por tudo e nada. o tempo todo.²
- são umas bostonas e se acomodam sendo assim.
- se sobressaltam ao ouvir palavrões de intensidade.
- perguntam se estão gordas / feias / etc. estão sim, sabem que estão. (ah tri)
- colocam fotos no orkut do gênero 'a dama e o vagabundo', 'a bela e a fera', onde você sempre representa o lado eca.
- se orgulham de não gostar de ler. oi, sou preconceituosa.
- não reconhecem a existência dos meio-a-meio. (protesto!) hetero + homo = bi. \o/
- metem a língua na garrafinha de água. (?)
- tossem com a língua pra fora.
- espirram em tom agudo.
- furam filas.
- usam roupas exageradamente menores que o número adequado. na praia então...
- não matam baratas para a ivy. x)
- contam que o carinha morreu no final do filme e foi a mulher lá que matou os dez desaparecidos que foram acampar.
- utilizam 'deusa', 'princesa' e 'são longuinho' (eu não sei se é 'longuinho') em seu vocabulário.
- te desprezam quando você tem cara de criança (y).
- "adorariam ter o seu cabelo. cabelo liso e sedoso é tão ruim...".
- digitam devagar.
- roncam.³
- pisam no seu pé e não se desculpam.
- durante um "jogo super sério" - na educação física -, fazem uma cagada realmente enorme e se divertem repetindo isso.
- chamam a atenção no msn.
- te adicionam do nada e perguntam daonde você surgiu... gata.
- insistem em te chamar pelo nome errado.
- se esforçam para não entender sua caligrafia.
- usam corretivo para tudo. na pele e no papel.
- param do nada no meio do caminho, adivinham seus futuros passos para ficar na sua frente ou retardam o movimento. se andar em diagonal eu mato.
- te ligam, dizem 'me liga' e desligam - com freqüência.
- estão fazendo algo muito mais produtivo/divertido e jogam isso na sua cara vinte vezes por segundo.
- te usam como ponto de referência.
- sabendo que você está assistindo ao big brother, à alguma coisa que você goste ou um filme, insistem em te incomodar.
- abrem todas as janelas, produzem todos os barulhos, puxam a sua coberta e insistem que o dia é lindo quando você ainda não tomou consciência de quem é e onde está.
- têm sutaque esquisito.
- te olham como se você fosse o et. pior ainda quando estão certas.
- babam no seu copo e/ou deixam restos de comida boiando no que sobrou do líquido.
- não puxam a descarga depois de soltar o marrom-bombom.
- exibem tatuagens mal-feitas (ok, isso me causa mais pena do que irrita).
- não gostam antes de conhecerem. só eu posso.
- têm a idade da sua avó e passam cantadas em feirantes.
- espalham areia e água com seus pés, ao caminharem.
- esquecem que suas crianças são diabinhos e merecem education.
- seguem, orgulhosos, a filosofia "a fila anda, vida loka, é nóis, fala mal mas paga pau, sou mais eu".
- jogam lixo na rua.
- analisam de cima a baixo todo mundo, com cara de bunda e uns resmungos chatos.
- assobiam alto e mal.
- nunca te viram antes, mas opinam sobre tudo.
- iniciam depoimentos com 'o que dizer do...' ou 'o topo é meu'.
- mandam beijo para dezoito pessoas nas rádios.
- vão para o auditório do programa da márcia dar lição de moral.
- te tocam a cada cinco segundos durante um diálogo.
- apertam sua mão sem força alguma.
- concordam exageradamente quando você comenta algo. principalmente se for defeito seu...
- te deixam beijando o ar, na hora dos cumprimentos.
- levantam os braços o tempo todo, te deixando com a visão das axilas mega pentelhudas.
- se descrevem com elogios ao time de futebol.
- fazem biquinhos em todas as fotos.
- reclamam de tudo. (a)

_
esqueci agora, mas tem bem mais. a gente começa a escrever e broxa.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Hall of Mirrors


(The Distillers)


I come down like
A hurricane sucked up inside
I spit out the suffer

You say you want
A revelation,
Revel in this my lover

You're free at liberty
Is this what you want?
Sometimes i wonder

There's a highway to
To the edge
Once a night you will
Drive yourself there
At the end of the road you will
Find the answer
At the end of the road you will
Drink the fear

I come down
Like a bloody rain cuts
Up flesh sky, pulse beating under

Meat petals bloom
In a bone garden
Ain't no god, no ghost gonna save you now

I sell souls
At the side of the road
Would you like to take a number?
There's a highway to
To the edge
Once a night you will
Drive yourself there
At the end of the road you will
Find the answer
At the end of the road you will
Drink the fear

Take your time come on get
What you come for done
Waste my time come get what you come for done
Waste my time come get what you come for done
Waste my time come get what you come for...

There's a highway to
To the edge
Once a night you will
Drive yourself there
At the end of the road you will
Find the answer
At the end of the road you will
Drink the fear

I watched you burn
In the eye of my sun
In the eye of my sun yeah yeah

I fucked you in
In the eye of my sun
In the eye of my sun yeah yeah


 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

pt. 7

- Bad, bad server. No donuts for you.
- Hum?
- Que trabalho mais porco, Antoine! Eu te disse para convencê-la a voltar, não para ameaçá-la. Isso eu faço.
- Ah... o que importa é que ela está aqui.
- Eu digo o que importa. Você fica quieto.
Arthur levantou-se de imediato, dando passos pesados. Pisou numa barata que há muito tempo andava pela sala silenciosa. Chutou a pequena massa marrom para um corredor empoeirado que se formou entre duas caixas de papelão. Alisando a franja loira e cinza, caminhou por um tempo em volta da mesa e das cadeiras.
- Eu preciso saber do que se trata... não dá para trabalhar num projeto cujo objetivo é desconhecido...
- Não seja por isso, eu te deixo de fora.
- Ah, não incomoda, Arthur. Você sabe que é o mínimo que pode me oferecer...
- O mínimo? Menino, você já está indo longe demais... já não basta começar com uma função de nível médio?
- "Função de nível médio"?! Olha, levar comida para seus reféns, catar documentos e me disfarçar disso ou daquilo para seus amigos não me parece nada muito lucrativo...
- Você sabe da existência de reféns, conhece-os, sabe com quem tenho contato, tem acesso a quase todos os documentos que me colocariam atrás das grades... conheço muita gente que daria o sangue para estar no seu lugar.
- Grande merda.
- O que você deseja? Dinheiro, poder? O que exatamente você quer
?
- Eu quero fazer parte disso, do que você está criando. Se for para viver desse trabalho integral e correr riscos, prefiro saber o que estou fazendo.
- Até onde você vai, meu caro?
- Até onde sou capaz.
- Então use a cabeça e não as mãos. Siga o conselho que deu à menina.
- Do que você está falando?
- Fazer parte do meu plano depende de você, não de mim.
- Então é só isso? Descobrir do que se trata?
- E, claro, não se deixar incriminar. Você não é o único que quer sentar na minha cadeira, você sabe disso.
- Hey, eu não quero ocupar o seu lugar!
- Quer o lugar do gordo, eu sei.
- É.
- Sabe... se te conforta, garoto, pense que sou eu a Lei desse lugar. Não existe errado ou certo, existe a minha palavra. E eu te dou crédito, você sabe. - Arthur girou a maçaneta da porta, abrindo-a. - É só usar a cabeça...
Antoine continuou sentado, batucando os dedos no braço da cadeira velha. Esperou o barulho dos passos do chefe se perderem corredor afora, então se concentrou nas suas tarefas. Estava na hora de levar o almoço de Agatha. Há dois, três dias atrás, era ele quem voltara com ela do centro da cidade, onde ficava o apartamento pequeno do tapete de pelúcia. Agora - só percebera ao subir as escadas que davam para o quarto espelhado -, era ela quem parecia ditar as regrar: o lugar estava vazio. Nenhum sinal de vida sobre a cama muito-bem arrumada.
- Droga.
Desceu um, dois degraus. Do terceiro em diante, apenas a escuridão seria sua companhia. Conhecia aquele labirinto melhor do que qualquer pessoa. Voltando para a cozinha, percebeu uma luz fraca vindo de algum quarto ao fim de uma estreita estrada de pedregulhos. Sem janelas, refrigerada, subterrânea e silenciosa: assim era a casa misteriosa projetada por Arthur.
Chutou uma ou duas pedras pelo trajeto e seguiu até a saleta - onde uma silhueta familiar estava parada, sustentando um candelabro na mão. Os cabelos claros bagunçados caíam sobre o rosto angelical, que estava longe de retratar um sorriso: Agatha estava na ponta dos pés, olhando com atenção cada milímetro da parede coberta de papéis amarelados. Estava chocada, tremendo, com os olhos vidrados. Ao perceber Antoine, empurrou-o com força.
- Que porra é essa?
- Calma, calma! - Ele imobilizou-a, segurando-a pelos braços fortemente. - O que foi?
- O que foi?! O que foi?! E você ainda me pergunta o que foi?!
- Hey... - Ela se jogou no chão, sentou sobre os pés e largou o suporte das velas, colocando as mãos na cabeça. - Não arranque seus cabelos, não faz isso! - Antoine entendeu o porquê da cena dramática: os jornais forjados seriam usados em algum momento, isso era um tanto previsível. Segundo as folhas, Agatha morrera há dias, vítima de si mesma. "Tantas tentativas de suicídio não poderiam falhar eternamente...". O cadáver fora encontrado no chão da cozinha, por uma amiga mais velha que suspeitava das atitudes da menina. Nem família nem amigos procurariam seu corpo, sequer desconfiariam da autenticidade da notícia.
- Eu morri! Eu morri, Antoine! Como eu vou sair daqui se, lá fora, eu morri?
- Calma.
- Calma? Antoine, ninguém se importa! Você não entende? Não faz diferença nenhuma!
- Você tem uma vela e um pedaço de ferro enferrujado.
- Eu não vou morrer aqui, não assim!
- Tanto faz, para eles você não existe mais.
- O que eu faço?
- Volta pro seu quarto. Está na hora de você comer.
- Eu não quero, não quero! - Ajoelhou-se na frente do jovem, com olhos de súplica. - Me diz que eu vou sair daqui e tudo vai continuar normalmente, como se nada tivesse acontecido. Me ajuda... me ajuda...
- Isso não depende de mim.
- Me ajuda... - Os soluços irritaram Antoine, que puxou a garota pelos cabelos.
- Você vai levantar, voltar pra sua cama e parar de chorar. Isso não resolve nada.
- Me larga, me larga, seu doente! - Ela se desvencilhou do corpo musculoso do rapaz e recuou alguns passos.
- Agatha, eu quero que você fique bem tanto quanto você quer...
- Eu duvido! Duvido! Você e aqueles velhos, vocês querem me deixar louca! Louca!
- Isso seria fácil demais...
- Pára! Não agüento mais seu joguinho de palavras!
- O que eu falo é real. Se você quer insanidade, eu te ofereço numa pílula.
- Eu quero me ver livre desse lugar!
- Faça por merecer.
- Que droga, me deixa ir embora!
- Vai pro quarto! Você sabe o caminho.
- Eu não quero ir pro quarto! Eu tenho direito a uma explicação!
- Se você não faz perguntas, não pode ter as respostas.
- Basta, Antoine! - Uma voz ríspida invadiu o pequeno quarto. - Se ela quer falar comigo, é para isso que estou aqui. - A voz de Arthur ecoava, produzida pelas pequenas caixas de som que se espalhavam no teto do cubículo empacotado. Agatha, que continuava a tremer, encarou Antoine, apreensiva. - Vamos, criança, siga Antoine. Ele te conduzirá até a minha sala.


pt. 6

Girou a maçaneta e empurrou a porta, que rangeu. Apertou o interruptor. Com a luz acesa, deu alguns passos, dirigindo-se ao centro do quarto, onde um tapete peluciado rosa em formato de flor se escondia sob pilhas e pilhas de papéis. Jogou-se na cama desarrumada, desviando das roupas jogadas e de uma caneca suja e que ainda continha um pouco de um líquido escuro.
- Que nojo, você põe um quilo de açúcar no café!
- Ponho? - Agatha entrou no quarto distraída, chutando um ou dois pés de sapato pelo caminho. - Ah, eu devia estar ansiosa... Sabe, né? A gente toma água com açúcar nessas horas. Dizem que isso é bom para se acalmar...
- Superstição besta. - Juntou as mãos, apoiando-as sobre a barriga. - Funcionou?
- Você me viu lá no escritório... Até a hora de assinar o contrato com o cliente aquele eu estava bem tranqüila.
- Você ainda não caiu na real? - Olhou incrédulo para a moça à sua frente, achando-a uma completa idiota. - Foi uma farsa, não existe cliente... O tempo que você trabalhou para Lorah foi necessário para fazermos mais alguns testes... Nada daquilo era real.
- Eu entendi, Antoine. Não sou tão trouxa quanto você imagina. - Ela mirou-o com uma expressão séria. Ele demorou para dizer alguma coisa. Parecia estar pensativo, com os olhos vazios e a mente cheia de visões.
- Achei que fosse perguntar mais coisas para o Arthur.
- Eu também. - Mordeu os lábios. - Ele parece ser muito frio.
- Ele é um cara legal.
- Percebo...
- É sério, você deveria conhecê-lo. - Ao dizer isso, desejou esconder que estivesse prestes a rir.
- Mas é claro que sim! Como não pensei nisso antes? Vou procurar algum buraco entre os espelhos e gritar por ele!
- Não preciso aturar seu humor barato. Olha, eu entendo que...
- Entende? Eu não sei que dia é hoje, que horas são, porque você me trouxe pra casa, não sei se vou dormir e acordar, se...
- Eu te trouxe pra cá porque achei que você precisasse se sentir em casa. - Antoine falou com convicção, ainda que parecesse por um momento um jovem sensível.
- Se liga, você não entende nada! Não é você que, de um dia pro outro, acorda num lugar desconhecido e é ameaçado de morte.
- Mas eu vivo nesse mesmo lugar desconhecido, sob pena de perder a cabeça se eu abrir a boca.
Agatha duvidou das palavras que ouvira por um instante. Depois, caminhando lentamente em direção à cama, considerou verdadeira a afirmação do rapaz. Sentou-se ao lado dele, imitando sua posição. Observou o ambiente com pesar.
- Aquilo ali é uma câmera?
- Sim. Aquilo dentro do porta-lápis, na mesa, também. E mais aquele troço empoeirado em cima do armário.
- Com microfone e tudo?
- É claro.
- Vocês gravaram também minhas conversas telefônicas?
- Positivo.
- Hey, eu não sei mais o que pensar... Isso é loucura... Ele é o que, um psicopata?
- Não. - Pegou um cubo mágico que encontrou sob o travesseiro e começou a brincar com ele. - Você tomou um dos remédios que ele te deixou naquele embrulho?
- Ainda não. Não tive dificuldade para dormir... é só o que eu faço lá. - Sorriu, observando a expressão séria de Antoine. - Que foi?
- Sabe... você tem que ver que não é tudo como parece. Você olha pra mim como um amigo, acredita fielmente que as pílulas são calmantes... - Jogou o cubo para o lado e começou a gesticular com as mãos. - Olha pra você! Quem é que toma água com açúcar nos dias de hoje?
- Legal, estou sendo drogada. Você acha que estou surpresa? - Ela não parecia abatida. Pelo contrário, tratava realmente Antoine como um aliado. Era jovem o suficiente para não ter medo de arriscar, porém inocente o bastante para não farejar qualquer sinal de perigo. Há muito tempo não sabia o que era dar satisfação aos pais, ou manter um relacionamento sério com alguém, ou fazer programas aleatórios com os amigos. Era uma garota solitária, responsável, muito ocupada. Trabalhava, estudava, pagava as próprias contas e, quando podia, limpava o pequeno apartamento. A única pessoa que talvez recebesse considerável atenção era um motoboy, Romeu, que conhecera pelas inúmeras entregas de pizza em sua casa, nas noites de sexta-feira. Se falavam com certa freqüência e, vez ou outra, assistiam um filme ou jogavam sinuca.
- Acho que deveria ser cuidadosa.
- Como? Tem mil raios naquela escada que, aliás, é a única saída. Sem contar que a minha única fonte de comida é vigiada pelo Arthur. A única pessoa que eu vejo é você. Aquilo deve estar recheado de câmeras e monitoria 24 horas.
- Você está equivocada. Não acho que exista apenas uma saída. - Franziu a testa, como se perdesse a paciência a cada nova suposição da menina. - Você não está no corredor da morte... ainda.
- Você fala como o Arthur.
- Oh, obrigado. Eu tento. - Durante alguns segundos, deixou-se tomar por uma felicidade quase infantil. Então, reconstruiu a face pensativa. - Sabe, eu gosto dele. E você não deve ter sido escolhida por acaso. - Olhou para Agatha com interesse, procurando descobrir algum detalhe que confirmasse sua idéia. - Eu, sinceramente, não sei o que ele pretende fazer. O conheço há tanto tempo quanto ele conhece você... eu acho. Acompanhei seu caso desde o início sem saber do que se tratava.
- Sem medo? Porque isso é perigoso, é ilegal...
- Você não sabe do que se trata também, por isso considera perigoso. Acho cedo para ter alguma certeza.
- Então porque ser cuidadosa? - Se arrependeu do que dissera por um momento, se lembrando de que seu medo era fundamentado pelas palavras que ouvira de Arthur.
- Ora, não me pergunte algo tão ignorante! - Deu um tapa barulhento na própria coxa e parou de falar por algum tempo. - Olha, mesmo que eu soubesse algo além do que te disse, é óbvio que você não saberia. O que eu quero te fazer enxergar é que você não precisa ficar mofando em uma sala se o que você deseja está fora dela. Dá um jeito de sair usando a cabeça e não as mãos. É o que eu faria...
- Lamento te desapontar, mas o que eu queria já aconteceu: estou em casa. Não me importaria de fingir que nada aconteceu e retomar minha vida normalmente. - Deixou-se admirar pelo rosto nervoso de Antoine, que voltou a falar com tanta vontade que não pôde evitar que algumas gostas de saliva encontrassem o ombro de Agatha.
- Como você pode ser tão tola? Nada vai continuar normalmente! Ou você está dentro, cooperando ou, ao menos, tramando uma fuga do seu jeito, ou você está fora. - Fez um gesto de "cortar o pescoço" um tanto mau-feito.
- Eu estou na minha cama com um estranho. Posso chamar a polícia agora, se eu quiser.
- Não. Mesmo que você conseguisse me enfrentar, existem homens armados em posições estratégicas, as linhas telefônicas foram cortadas e você teria que, no mínimo, gritar muito, mas muito alto para alguém te ouvir... sendo que as paredes são duplamente forradas, a fechadura da sua porta ganhou reforço-extra e, bem, misteriosamente seus vizinhos foram passear...
- Que ridículo tudo isso. Até parece que eu ia fazer alguma coisa...
- Eu gosto de você acreditar em tudo que eu digo, dá até pra exagerar... - Riu Antoine. - Anda, você tem dez minutos para pegar o que quiser levar daqui. Vou te esperar na sala.
- Hey, como assim?
- Não acho que você vai querer estar aqui quando tomarem seu apartamento...
- Mas... você tá falando sério? Vai me levar de volta?
- Te dou quinze minutos, então. Agora pára de palhaçada, que eu não vou suportar sua voz aguda chorando no meu ouvido de novo.
- Como assim, o que eu pego?
- Qualquer coisa, menos roupa. - Caminhou em direção a porta, pisando numas folhas soltas de papel. - Nem pensa em levar aquele cachecol. Ninguém agüenta mais te ver com ele. - Frisou, se satisfazendo com a cara assombrada que a garota fizera.
Passaram-se uns onze minutos, quase doze. Antoine voltou ao quarto, bebendo um licor que encontrara lacrado na cozinha. Abriu a porta com estrondo, numa tentativa de assustar a garota. Ela deu um grito baixo, mas nada muito escandaloso. Estava encolhida, abraçando as pernas, sentada na cama. Ao que parecia, não fizera nada diferente disso na ausência do rapaz.
- Não vai levar nada então?
- Meu licor! Onde você pegou isso? - Ela parecia surpresa em ver a garrafa. Aguardou em silêncio a resposta de Antoine, que demorou para chegar.
- Ele tem razão, sabe. Você deixa qualquer um entediado.
- Que horror! Nunca ouvi nada assim.
- Pára, não faz essa cara de choro... - "Porque mulheres sempre choram por nada?" pensou.
- Eu achei que você fosse um cara legal...
- Eu sou legal, você que é uma chata. - Apesar de não estar mentindo, falou em tom de brincadeira. Ao ver a garota esconder o rosto nas mãos, chorando, estendeu a mão com a garrafa de licor. - Toma. Eu vou te levar pra casa.
- Eu não quero ir, não quero ir...
- Escuta, eu tenho que te levar de qualquer maneira... vai ser melhor pra mim se você não recusar o convite.
- Mas que cara-de-pau! - Ela ficou vermelha, vermelha de raiva. Chorava de um modo esquisito, que não despertava pena em quem a visse.
- Hey gata, eu estou sendo bonzinho. Te incentivei até a fazer jogos psicológicos para divertir o Arthur e poder passear por lá. - Ela pegou, enfim, a garrafa e bebeu um pouco do licor. - O certo seria eu te iludir e fingir que tudo será diferente quando você voltar. Poderia dizer que se trata de um programa de tevê, onde há muito dinheiro em jogo, mas... você sabe que só tem uma escolha a fazer: ou você vem comigo bonitinha ou dá adeus ao mundo cruel. Eu não vou mais te enrolar.
- Qual a diferença entre morrer agora ou depois?
- Você pode mudar o rumo das coisas.
- Mas se o final é o mesmo...
- Eu deixo você pegar o cachecol. Agora vamos embora daqui. - Ele pegou o cachecol e jogou sobre o ombro de Agatha. - Só me devolve o licor.


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