Arthur subiu os degraus platinados, até reconhecer o lugar exageradamente iluminado. Em questão de segundos, as linhas imateriais vermelhas que mantinham a segurança desapareceram. Não soaria alarme e o barulho de seus passos seria amenizado pelo material que forrava a sala. Era exatamente um cubo espelhado por todos os lados, sem janelas ou enfeites. A luz de uma vela, por exemplo, tomava grande intensidade ao se expandir.
- Muito frio? - O homem sorriu. Caminhou até a cama alta e confortável, onde uma garota repousava. Dois travesseiros de penas de ganso, fronhas e lençóis dos mais finos e macios.
Agatha estava acordada, fitando seu reflexo no teto. Viu o homem se aproximar sem a necessidade de mover a cabeça em sua direção. Sentou-se na cama, cruzando as pernas sob o emaranhado de tecidos e pegou um travesseiro para abraçar. Apesar das formas exuberantes, se comportava como uma criança. As mechas loiras caiam bagunçadas por sua face. Passou os dedos no cabelo, de forma a ajeitá-lo atrás de uma das orelhas.
- Você deve ter perguntas, eu imagino. - Ele insistiu num diálogo, mas ela mais uma vez não respondeu. - Eu realmente espero que exista interesse em saber o que está acontecendo.
- É, tem razão. Eu não entendi porque estou aqui. - Ela observou cada canto da sala, então apoiou o queixo nas mãos, com os braços sobre o travesseiro - que, por sua vez, estava sobre as pernas. Olhou para o homem que, com prazer, consentiu. - Eu fui seqüestrada?
- Depende. Pode ser encarado desse jeito. Você prefere assim?
- Eu estou confortável aqui, não acho que isso deva ter um nome tão batido.
- Eu não te causo medo?
- Não. - Ela esboçou um sorriso vendo Arthur enrijecer o rosto.
- Pois deveria!
- Sabe, você não é a primeira pessoa que eu vejo aqui...
- Isso muda alguma coisa?
- O Antoine, ele é legal. Não me disse muito, mas me senti segura.
O homem bufou. Começava a sentir certo arrependimento. Procurava uma pessoa normal, não uma jovem adulta que parecia encontrar o realismo nas fábulas. Não era exatamente um assassino, ainda que não se encaixasse no pensamento padrão. Gostava de tentar entender os sentimentos alheios, ora com ar de admiração, ora zombaria.
- Vou começar de novo. Não me venha com esse sorriso meigo patético. - Ele virou as costas, mas era inútil perder de vista a garota. Lá estava ela, refletida na parede à sua frente. Fechou os olhos impaciente, então voltou-se para ela:
- O seu amigo motoqueiro, ele está gravemente ferido no hospital. - Se satisfez ao ver a expressão assombrada no rosto da menina.
- Mas...
- É mentira. - Ela manteve a boca aberta, apenas apertou os olhos, como se sentisse dificuldade ao enxergar nitidamente. Arthur inclinou o rosto, de forma a lançar um olhar interessante por cima dos óculos pretos. - Viu, mocinha? Você está sob o meu controle.
Ela manteve a careta azeda, encarando o homem com curiosidade e arrogância. Ele era alto, não muito velho e nem tão magro. Se vestia formalmente e mantinha um penteado peculiar. A franja parecia estar sempre comprida e suja, atrapalhando sua visão. Era tingida, numa mistura de preto e amarelo. Tinha dois, três anéis prateados em uma mão. Na direita, apenas um maior, de pedra exuberante.
- Antoine trabalha pra você?
- Sim, óbvio. - Ele sorriu com desdém, balançando negativamente a cabeça. - Pergunta besta. - Acrescentou, olhando o próprio nariz no chão espelhado. Caminhou até a ponta da cama, onde se acomodou. Continuou se observando com interesse. Tinha um sinal médio e escuro na maçã do rosto, sobrancelhas espessas e pele não tão clara como a de Agatha. - Me conte sua história, criança.
- Como? - Ela parecia ter acordado de um transe e falou em tom de voz mais acentuado.
- Sua história. - Ele aguardou o silêncio que sucedeu sua frase, então recomeçou. - A moça que cozinhou o que você comeu hoje, ela tem uma história. Ela foi abandonada grávida pelo namorado e teve um aborto espontâneo durante uma sessão de cinema.
- Credo. Por isso você a contratou?
- Não, é claro. Ela cozinha bem. - Explicou, com seriedade, voltando a encarar a garota. - Só isso.
- Tá, se a história de uma pessoa não interfere em nada, não tenho que te narrar a minha.
- O Thomas, um dos caras que trabalha comigo, ele é um desgraçado. Mas conhecer a vida dele foi fundamental para decidir o salário...
- Eu não vou trabalhar pro senhor.
- Mas é claro que não, você é minha refém. - Ele abriu uma das mãos e começou a examinar as linhas do palmo. Viu a jovem por trás do ombro, no momento em que essa fez beiço com os lábios. - E não me chame de senhor.
- Sua refém... é, tá certo. - Ela descruzou as pernas, esticando-as sobre os lençóis. Vestia uma túnica comprida, fina e branca, que parecia estar muito larga para seu corpo. - O que eu tenho que fazer?
- Eu ainda não sei. Tudo depende do seu perfil.
- E pra isso você precisa da minha história, né?
- Isso eu já tenho. - Ela apertou o travesseiro, assustada não só com o que tinha ouvido, mas com a rapidez com que ele falara. Percebendo o desconforto da menina, ele mais uma vez sorriu. Fechou a mão, mas continuou analisando-a. - Preciso do que você sabe e eu não vejo.
- Você vai me matar?
- Vou te estudar antes.
- Porque você me escolheu?
- Poderia ser qualquer uma.
- Então porque eu?
- Me diga você.
- Eu estou te perguntando.
- Bem no fundo, você sabe a resposta. - Ele tirou os óculos, equilibrou-os na mão ainda fechada.
- Você não pode saber mais do que eu.
- Darling, eu já te disse que você está sob o meu controle.
- Você sabe o meu nome. Deve saber meu endereço, o que eu faço, no máximo isso.
- Todo mundo sabe que é possível saber mais do que isso, querida. - Vendo-a frígida, lançou um falso olhar fraternal.
- Eu quero ir pra casa.
- Não pode ir. Você viu o meu rosto.
- Isso é ridículo! Quando eu sair daqui, eu... - Ela parou de falar por um momento, pensando no que Arthur acabara de dizer. - Ei, porque você fez isso? Sério, que burro...
- O que você vai dizer pra polícia? - O homem se levantou e começou a gesticular tudo o que dizia. - "Oi, senhor, eu queria fazer uma ocorrência... é esse o nome, né? Pois é, eu cheguei em casa agora, eu tinha sido raptada. Você acredita que eu acordei numa sala cheia de espelhos e tinha um cara estranho dizendo que aquilo não era um seqüestro e que ia me matar?" - Falou isso em voz aguda, piscando os olhos freneticamente e dando pulos baixos com leveza, numa performance-caricatura da garota a sua frente. Ela ficou séria, muito séria: ofendida e intimidada.
- E então, vai dizer o quê? Isso é, "quando você sair daqui"... como se isso fosse possível sem a minha ajuda. - Ele estava berrando, ela mordendo os lábios internamente. Fazia isso quando se sentia nervosa.
- Você disse que ia me estudar...
- Estou pensando seriamente em pular essa etapa. - Ele virou as costas, com os braços cruzados, andando rumo à escada que o levou à sala cúbica.
- Te deixei irritado? - Ela engatinhou pela cama, até alcançar a ponta. O colchão muito macio dificultou a locomoção. Acompanhava a expressão do rosto do homem pelo reflexo na parede. Viu-o baixar os olhos e coçar a testa.
- Entediado. - Evitou encontrar o olhar da jovem, começando a descer os degraus. Antes de desaparecer, jogou, por cima da cabeça, um embrulho minúsculo, que caiu próximo ao pé da cama.
- Muito frio? - O homem sorriu. Caminhou até a cama alta e confortável, onde uma garota repousava. Dois travesseiros de penas de ganso, fronhas e lençóis dos mais finos e macios.
Agatha estava acordada, fitando seu reflexo no teto. Viu o homem se aproximar sem a necessidade de mover a cabeça em sua direção. Sentou-se na cama, cruzando as pernas sob o emaranhado de tecidos e pegou um travesseiro para abraçar. Apesar das formas exuberantes, se comportava como uma criança. As mechas loiras caiam bagunçadas por sua face. Passou os dedos no cabelo, de forma a ajeitá-lo atrás de uma das orelhas.
- Você deve ter perguntas, eu imagino. - Ele insistiu num diálogo, mas ela mais uma vez não respondeu. - Eu realmente espero que exista interesse em saber o que está acontecendo.
- É, tem razão. Eu não entendi porque estou aqui. - Ela observou cada canto da sala, então apoiou o queixo nas mãos, com os braços sobre o travesseiro - que, por sua vez, estava sobre as pernas. Olhou para o homem que, com prazer, consentiu. - Eu fui seqüestrada?
- Depende. Pode ser encarado desse jeito. Você prefere assim?
- Eu estou confortável aqui, não acho que isso deva ter um nome tão batido.
- Eu não te causo medo?
- Não. - Ela esboçou um sorriso vendo Arthur enrijecer o rosto.
- Pois deveria!
- Sabe, você não é a primeira pessoa que eu vejo aqui...
- Isso muda alguma coisa?
- O Antoine, ele é legal. Não me disse muito, mas me senti segura.
O homem bufou. Começava a sentir certo arrependimento. Procurava uma pessoa normal, não uma jovem adulta que parecia encontrar o realismo nas fábulas. Não era exatamente um assassino, ainda que não se encaixasse no pensamento padrão. Gostava de tentar entender os sentimentos alheios, ora com ar de admiração, ora zombaria.
- Vou começar de novo. Não me venha com esse sorriso meigo patético. - Ele virou as costas, mas era inútil perder de vista a garota. Lá estava ela, refletida na parede à sua frente. Fechou os olhos impaciente, então voltou-se para ela:
- O seu amigo motoqueiro, ele está gravemente ferido no hospital. - Se satisfez ao ver a expressão assombrada no rosto da menina.
- Mas...
- É mentira. - Ela manteve a boca aberta, apenas apertou os olhos, como se sentisse dificuldade ao enxergar nitidamente. Arthur inclinou o rosto, de forma a lançar um olhar interessante por cima dos óculos pretos. - Viu, mocinha? Você está sob o meu controle.
Ela manteve a careta azeda, encarando o homem com curiosidade e arrogância. Ele era alto, não muito velho e nem tão magro. Se vestia formalmente e mantinha um penteado peculiar. A franja parecia estar sempre comprida e suja, atrapalhando sua visão. Era tingida, numa mistura de preto e amarelo. Tinha dois, três anéis prateados em uma mão. Na direita, apenas um maior, de pedra exuberante.
- Antoine trabalha pra você?
- Sim, óbvio. - Ele sorriu com desdém, balançando negativamente a cabeça. - Pergunta besta. - Acrescentou, olhando o próprio nariz no chão espelhado. Caminhou até a ponta da cama, onde se acomodou. Continuou se observando com interesse. Tinha um sinal médio e escuro na maçã do rosto, sobrancelhas espessas e pele não tão clara como a de Agatha. - Me conte sua história, criança.
- Como? - Ela parecia ter acordado de um transe e falou em tom de voz mais acentuado.
- Sua história. - Ele aguardou o silêncio que sucedeu sua frase, então recomeçou. - A moça que cozinhou o que você comeu hoje, ela tem uma história. Ela foi abandonada grávida pelo namorado e teve um aborto espontâneo durante uma sessão de cinema.
- Credo. Por isso você a contratou?
- Não, é claro. Ela cozinha bem. - Explicou, com seriedade, voltando a encarar a garota. - Só isso.
- Tá, se a história de uma pessoa não interfere em nada, não tenho que te narrar a minha.
- O Thomas, um dos caras que trabalha comigo, ele é um desgraçado. Mas conhecer a vida dele foi fundamental para decidir o salário...
- Eu não vou trabalhar pro senhor.
- Mas é claro que não, você é minha refém. - Ele abriu uma das mãos e começou a examinar as linhas do palmo. Viu a jovem por trás do ombro, no momento em que essa fez beiço com os lábios. - E não me chame de senhor.
- Sua refém... é, tá certo. - Ela descruzou as pernas, esticando-as sobre os lençóis. Vestia uma túnica comprida, fina e branca, que parecia estar muito larga para seu corpo. - O que eu tenho que fazer?
- Eu ainda não sei. Tudo depende do seu perfil.
- E pra isso você precisa da minha história, né?
- Isso eu já tenho. - Ela apertou o travesseiro, assustada não só com o que tinha ouvido, mas com a rapidez com que ele falara. Percebendo o desconforto da menina, ele mais uma vez sorriu. Fechou a mão, mas continuou analisando-a. - Preciso do que você sabe e eu não vejo.
- Você vai me matar?
- Vou te estudar antes.
- Porque você me escolheu?
- Poderia ser qualquer uma.
- Então porque eu?
- Me diga você.
- Eu estou te perguntando.
- Bem no fundo, você sabe a resposta. - Ele tirou os óculos, equilibrou-os na mão ainda fechada.
- Você não pode saber mais do que eu.
- Darling, eu já te disse que você está sob o meu controle.
- Você sabe o meu nome. Deve saber meu endereço, o que eu faço, no máximo isso.
- Todo mundo sabe que é possível saber mais do que isso, querida. - Vendo-a frígida, lançou um falso olhar fraternal.
- Eu quero ir pra casa.
- Não pode ir. Você viu o meu rosto.
- Isso é ridículo! Quando eu sair daqui, eu... - Ela parou de falar por um momento, pensando no que Arthur acabara de dizer. - Ei, porque você fez isso? Sério, que burro...
- O que você vai dizer pra polícia? - O homem se levantou e começou a gesticular tudo o que dizia. - "Oi, senhor, eu queria fazer uma ocorrência... é esse o nome, né? Pois é, eu cheguei em casa agora, eu tinha sido raptada. Você acredita que eu acordei numa sala cheia de espelhos e tinha um cara estranho dizendo que aquilo não era um seqüestro e que ia me matar?" - Falou isso em voz aguda, piscando os olhos freneticamente e dando pulos baixos com leveza, numa performance-caricatura da garota a sua frente. Ela ficou séria, muito séria: ofendida e intimidada.
- E então, vai dizer o quê? Isso é, "quando você sair daqui"... como se isso fosse possível sem a minha ajuda. - Ele estava berrando, ela mordendo os lábios internamente. Fazia isso quando se sentia nervosa.
- Você disse que ia me estudar...
- Estou pensando seriamente em pular essa etapa. - Ele virou as costas, com os braços cruzados, andando rumo à escada que o levou à sala cúbica.
- Te deixei irritado? - Ela engatinhou pela cama, até alcançar a ponta. O colchão muito macio dificultou a locomoção. Acompanhava a expressão do rosto do homem pelo reflexo na parede. Viu-o baixar os olhos e coçar a testa.
- Entediado. - Evitou encontrar o olhar da jovem, começando a descer os degraus. Antes de desaparecer, jogou, por cima da cabeça, um embrulho minúsculo, que caiu próximo ao pé da cama.
7 comentários:
Parte nova, tenho que ler...
Cara, antigamente, sempre que ias escrever um texto/livro/conto, tinhas uma Lorah.
uhasuhahusahu
Agora tá dando certo.
Aliás, aquele post, Bile, foi baseado no filme irreversível - o longa tem uma cena de estupro em plano contínuo de onze minutos. É muito real, é horrendo. Ficas onze minutos parado olhando a Monica Bellucci sendo violentada por um cafetão gay. Algumas das pessoas que estavam comigo na sala, sairam nessa cena.
O filme é todo louco, é de trás pra frente. Tenho visto bastantes filmes Europeus, ultimamente.
Nhé!
Não consigo achar sexys as coroas!
auhshuahsuashuahus
=*
Beijo!
Cara, eu terminei de ler todas as quatro partes - li agora... acabei de acordar e tô comendo Pizza - e acho que precisas aumentar isso.
Não sei qual o tamanho original do teu projeto, Ivy, mas tenho plena certeza que podes transformá-lo em um livro. Evoluistes muito em relação à escrita. Até confesso que tenho certa inveja: consegues fazer uma narrativa natural, onde os personagens realmente falam coisas que pessoas "de verdade" falariam. Entonações, ênfases como "Co-le-ga" dão um ar todo teu ao texto.
Sei lá, tô tri embasbacado.
Só continuo com medo dos nomes estrangeiros...
UHAHSAHUSAHUSHUAHHUSUHAHUS
xD
Beijos, guria!
=*
Meu Deus, que coisa maluca! Eu fiquei com medo pela Agatha, esse Arthur é muito muito cruel...hááá seu malvadão!
espero que ela consiga sair dai...tipo, fiquei imaginando uma organização secreta de carinhas maus que sequestram jovens pra fazer pesquisas macabras e até pegam algumas pra trabalhar com eles e fazer seus serviços macabros e assim crescendo o numero de membros dessa organização e...
uashuahsaushasuhau
sério, já imaginei todo o esquema hahahahaha...
beijão!!
eu não sei ser nacionalista :x
sahsuisaiashiuas
terão que se acostumar com meus nomes bregas americanizados.
i can't do it!
\o/
ahuahiusi
:DDDD weeee
:****
Go pt. 5 !!!! hááááá
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
XD~
Eu hesitei bastante em começar um blog... acho que passei muito tempo escrevendo para os outros e não para mim, então tudo o que eu escrevia me parecia falso e superficial demais.
Agora sinto que estou sendo um pouco mais "eu" no que escrevo... e fico feliz que o meu ócio criativo possa fazer bem pra alguém mais além de mim.
"Gostava de tentar entender os sentimentos alheios, ora com ar de admiração, ora zombaria."
Estou deveras intrigada e fascinada com esse personagem.
E também estou bastante curiosa pra saber a continuação dessa história... =D
hauhauhau sim sim, já percebi que o meu perfilzinho sempre aparece lááá em baixo e eu nem sei porque...:( mas eu me referia aos erros de pagina que dá com o Internet, fora que todo o perfil, links de blogs e links de textos mais antigos, assim como as listas que tinha, ficavam todas desfiguradas, com as palavras uma em baixo da outra...uma coisa muito estranha mesmo. E há, a imagem tb aparece fora do lugar
uma coisa bem bizarra. Eu queria arrumar mas não entendo nada de HTML :/
beijão Ivysaura!
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