quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

J.D. Salinger

"Jerome D. Salinger, um dos escritores mais influentes dos Estados Unidos, completa 90 anos nesta quinta-feira, 1º de janeiro de 2009, imerso na reclusão pela qual optou desde o início de sua carreira, e sem publicar um trabalho há quatro décadas.
"Amo escrever", disse Salinger em 1974, em uma de suas raras entrevistas, ao jornal "The New York Times". "Mas, só escrevo para mim mesmo e para o meu prazer".
Este desdém pela publicidade e a obstinada defesa de sua vida privada, tão afastada do culto à exibição atual, rodearam Salinger de um "mistério" que a imprensa retratou em diversos artigos.
Salinger já tinha 32 anos de idade quando estreou em 1951, com "O Apanhador no Campo de Centeio", uma história de um adolescente rebelde e suas experiências quixotescas em Nova York, que elevou o escritor ao topo da cena literária.
Sua descrição da alienação do protagonista, Holden Caufield, e da perda de inocência dos adolescentes e sua passagem para vida adulta, provou sua resistência com o passar dos anos: até hoje são vendidos anualmente cerca de 250 mil exemplares.
A primeira edição do romance, que causou polêmica pela liberdade com a qual o autor descrevia a sexualidade e a rebeldia adolescente, pode ser encontrada no eBay a preços que superam US$ 1.300.
Salinger não publica um trabalho literário com sua assinatura desde o romance "Hapworth 16, 1924" em junho de 1965. E não concede entrevistas desde 1980."


http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL939989-7084,00-JD+SALINGER+CHEGA+AOS+ANOS+SEM+ESCREVER+HA+MAIS+DE.html

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

pré-reveillon

41 posts sem "marcadores" (essas palavrinhas soltas que eu coloco aí embaixo, apontando os principais tópicos do que eu escrevi). ok, falando assim parece algo muito importante. é só que eu queria fazer isso logo, tipo na próxima semana ou na outra, porque eu estou com a minha síndrome de organização apitando aqui dentro. o primeiro felizardo - ou vítima - vai ser o meu quarto. falando em felizardo, que palavra horrível. ela me lembra um adulto solteirão razoavelmente velho, com um nome esquisito e triste, tipo Horácio, ganhando um beijo babado com batom, na bochecha esquerda, da tia que usa dentadura. tudo bem, deixemos ele de lado. e as minhas manias também. quem lê deve pensar que eu sou mais uma daquelas meninas que deixam o lençol esticadinho e tudo devidamente no seu lugar. bem, poluição visual combina mais com meu quarto. mas eu gosto da mistura de cores.
*

sobre o reveillon, eu realmente acho que o meu vai ser legal. melhor, inclusive, do que foi o último. e eu espero, de verdade, que o dos outros seja bom também. não é que faça parte do meu gênio desejar (sempre) o contrário, mas é que de repente eu fiquei meio emotiva e, quando eu estou assim, as pessoas parecem tão merecedoras de afeto. isso começou ontem de noite, no final da aula de dança. por sinal, foi uma aula diferente. deve ser a vigésima professora que eu conheço (o melhor foi que eu demorei para entender que ela era também professora, porque eu conheci ela na última apresentação e, mesmo ela sendo do grupo das fodonas, eu não conhecia o lado teacher dela). apesar de ser uma aula para o nível um, tinham ali pessoas do intermediário e do avançado e, de certa forma, unir todas em movimentos iguais foi bem bonitinho. eu gosto de quando tem esses momentos de interação e a coisa funciona,
até por isso eu apreciei bastante o pessoal de lá. enfim. hoje foi o último dia de aula no cursinho e foi realmente estranho, uma vez que eu vou sentir mais falta desse um ano com 300 desconhecidos do que, sei lá, doze anos com as mesmas cabeças. e isso vem da sensação de bem-estar mesmo, não exatamente porque os professores são mil vezes melhores ou coisa parecida. até porque inexistiu a tranqüilidade de anos atrás - sabe, vestibular é uma palavra muito abrangente. foi bom ouvir os conselhos e verdades sobre isso, porque, de fato, não podemos tornar essa merda maior do que ela já é, tampouco alimentar sonhos de que a vida vai ser um mar de rosas depois de enfrentar as provas. não que passar seja uma obrigação, mas isso não fará ninguém melhor ou mais amado. e etc. tudo bem, isso funcionou para mim. eu não costumo gostar dessas coisas que as pessoas falam, mas eu fiquei realmente nervosa de uns meses para cá. e ter uma atividade paralela à todo o transtorno, com certeza é a melhor escolha.
*

sobre a minha parte mais hum afetiva, sei lá. eu estou feliz. eu continuo 'em um relacionamento' - de repente, o post anterior colocou isso em dúvida - e bem satisfeita com ele. quanto aos meus amigos, também não tenho muito o que dizer. parei de tentar agradar a gregos e troianos; penso que a naturalidade antevém a regra. é claro que eu acredito que é possível manter um laço forte sem muito contato, pela internet ou, enfim, com certa distância - desde que os dois estejam dispostos a superar as limitações. e, falando em internet, fico triste em ver que muita gente leva o Orkut muito a sério e interpreta i
sso como um retrato da vida ou coisa parecida. tenho até a minha mãe como exemplo de vítima desse tipo de problema. eu me surpreendi ao ver meus amigos se dispersando, cada um indo para um lado. não lembro da última vez em que eu vi meus amigos de escola reunidos, assim sem faltar ninguém. acho que ainda foi no início do ano, em época de calor. vestibular, faculdade, escola, curso de alguma coisa, enfim, cada um tem sua vida. encarar isso com maturidade é o ponto básico para evitar discussões desnecessárias, pensamentos que não condizem com o que acontece, tempestades em copos tão pequenos. a minha vizinha, por exemplo: eu vejo ela todos os dias pela janela e fui incapaz de ir lá e fazer uma visita. é claro que existem sempre caminhos alternativos, que a gente só enxerga depois que perdeu a chance, mas relevar é sempre uma possibilidade. apesar do meu jeito, de não ligar (telefone) e nem aparecer, e também do comportamente semelhante ou diferente das pessoas que eu conheço, o resultado de tudo foi positivo. quando eu saí, a maioria das coisas renderam. claro que existem idéias que eu nunca vou entender (nem sua origem nem sua consistência), mas eu prefiro tentar torná-las menos impossíveis à medida que buscarem me compreender também. não tentei levar isso pelo lado egoísta, mas pelo lado amor-próprio. então, eu vou continuar fazendo o que eu fazia e não fazendo o que eu não fazia, porque, independente de ser teimosia ou não, essa sou eu e me recuso, sem arrependimentos, a levar uma vida que não seja a que eu desejo. ...um feliz 2009 pra todo mundo! ah tri.


ok, esse foi meu texto de final de ano. não consigo fugir dele,
ó céus.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Slide Away

Ele não sabe o quanto me machuca quando deixa tudo passar assim, despercebido. Existem esses momentos em que a gente quer ir embora e não se trata nem de chamar a atenção daqueles que insistem em não nos compreender; a gente só quer ir embora. Se ver num daqueles filmes antigos, com um carro velho numa estrada, nuvens de poeira e música boa à toda altura. Ele não entende isso, sequer se passa pela cabeça dele isso. Essa incógnita me enche o saco, apesar de eu ver nela o grande diferencial. Se ele tivesse parado com seus acordes e acordasse um pouco para mim ou qualquer outra porcaria, sabe, mas às vezes parece que ele consegue ser pior do que eu nessa vida de se perder em outras dimensões. Eu me sinto dopada, me sinto num desses dias comuns, tipo madrugada de terça-feira, em que, por insônia ou pensamentos atordoantes, se passa a noite de olhos abertos, com uma caneca entre os dedos e pouca luz. A brisa noturna é de embriagar, entorpecer qualquer um. E eu não sei se sou eu quem não deixa os ponteiros do relógio seguirem seu destino - até que a bateria esteja completamente sem carga - ou se é ele, que enxerga tudo em tons monocromáticos. Pouco importa agora o contato físico: eu quero olho no olho. Esse jogo de indiferenças me agride, me agride como uma risada dada pelo tempo segundos depois de algum arrependimento. Me enche o saco essa porcaria de filme na televisão: o que eu quero com xerifes agora, que eu não tenho ninguém? Deitar na cama é tão perigoso, é como se ela me engolisse e me mastigasse com todos os meus defeitos. Dormir não é pra mim. Não é pra nós. Eu levantei hoje, achando que tinha despertado de um sonho, mas era verdade: ele só estava no meu quarto impresso numa foto. Nada de cheiro de jaqueta. Vou te dizer, ele tem cheiro de jaqueta. Jaqueta jeans. E isso me lembra as vezes em que, antes de sermos alguma coisa, eu esbarrava naquela jaqueta meio que de propósito. Ele sempre fora destraído, sempre fora de não entender as coisas óbvias. E, mesmo assim, tinha idéias ótimas e absurdas sobre as coisas que a gente geralmente não pensa. É uma porcaria ficar jogada na poltrona vendo como ele canta bem. Ele toca muito bem. E sempre com aquela jaqueta, caralho. E, pra ser sincera, eu não sei bem se isso é um desses momentos em que a gente quer ir embora. Eu tô cansada de tudo, cansada de como metade das minhas ações consistem em buscar explicações para as outras. Eu não tenho que me explicar quando só eu tenho interesse na minha biografia. Talvez seja meio deprimente encarar isso, mas é verdade. Foda-se o que aconteceu, ninguém quer ouvir a minha versão sobre como eu perdi o medo de escuro. Ninguém quer ouvir. Só se for a música dele, a maldita música dele, que eu não consigo parar de ouvir. E eu nem sei se ele sabe que eu penso essas coisas todas, mas eu também nem tenho como saber o que se passa lá enquanto estou aqui. Bem que eu queria me sentir turista daquele mundo, daquela cabeça, daqueles olhares silenciosos que me lêem sem responder. Eu já não sei se hoje é terça-feira, se ainda existe alguma caneca que eu não tenha atirado na parede, se... mentira, eu não atirei nada na parede. Eu não atirei nada na parede. E a jaqueta dele está aqui, por incrível que pareça. Ele é que não está. E, mesmo que estivesse, sentado na minha frente que fosse, eu não acho que ele estaria aqui inteiramente, sabe. Sempre em outra dimensão, ele está sempre do outro lado. Do outro lado e nunca do meu. A noite está boa, a brisa está boa e essa vai ser mais uma noite de insônia: ninguém pra me ouvir falar de como eu não entendo nada. Eu não pertenço a lugar algum.


"Slide away and give it all you've got
My today fell in from the top
I dream of you and all the things you say
I wonder where you are now
Hold me down, all the world's asleep
I need you now, you've knocked me off my feet
I dream of you and we talk of growing old
But you said: "please, don't!"
Slide in, baby - together we'll fly
I've tried praying, but I don't know what you're saying to me..."
Oasis



 

sábado, 20 de dezembro de 2008

Sobre dança e vestibular


Esses últimos tempos foram realmente constrastantes: de um lado, o esforço e o peso da responsabilidade e, de outro, toda a magia de conhecer arte e pessoas com muito e pouco em comum. Claro que eu não passava 20 horas por dia sentada na frente de um livro, mas também passei umas noites em claro terminando a roupa da apresentação de dança. Nessas horas, perfeccionismo sempre atrapalha. E agulhas fininhas para linhas grossas também. Ah, eu gosto de fazer essas coisas. Eu tenho tantos planos pras férias, tipo reaprender a fazer crochê, tricot, essas coisas de vó. E, no fim, quando tu vê o resultado final, tu se sente realmente feliz. E não deixa de ser uma atividade muito boa para relaxar, porque tu não precisa pensar em nada, é algo totalmente mecânico. E eu tive o prazer de ver muitos episódios de House, Márcia, filmes estranhos e programas bizarros dublados durante esse tempão que eu fiquei recheando de coisinhas brilhantes a roupa e tal. Tá, eu tô falando como se eu fosse a Virgem das Miçangas ou sei lá (tá, isso foi péssimo). É que foi bem diferente de como eu achava que fosse acontecer. Sabe, eu não queria me apresentar nem a pau até a metade do ano, e isso mudou depois de ver um show tri legal. E tinha a história do vestibular, das provas da UFCSPA que coincidiam com o final de semana das apresentações, com as mil e uma preocupações que envolvem as duas coisas. E é claro que pensar no futuro e se planejar para tentar entrar nuam faculdade é bem estressante. Apesar do clima de cursinho ser relativamente feliz, o tempo vai passando e você vai perdendo o controle. Métodos de estudo, livros péssimos como leituras obrigatórias, muita mas muita informação... é meio chato administrar tudo, até porque, no meu caso e no de muita gente, a oportunidade vem uma vez ao ano. E deu. Então não dá para levar com aquela indiferença o fato de acertar uma questão a mais ou a menos, ou deixar sempre para depois o estudo sobre as rochas dos planaltos sul-riograndenses. Sério, eu descobri o quanto geografia física me irrita e o quanto literatura pode ser muito, muito ruim. Eu gosto tanto de biologia, gosto tanto do funcionamento, de como tudo pode ser explicado, de como os critérios têm fundamento... haha, eu tô louca pra mandar o Machado de Assis à merda. Enfim, não tem outro jeito, a não sei engolir. E vai ser assim praticamente sempre, de agora em diante. Nesse ano ficou clara a idéia de que existem amigos e "pessoas úteis". Acho que são essas que eu vou encontrar na faculdade e por aí, até porque o competitivismo é grande e ninguém fica muito satisfeito em fazer o bem ao próximo sem se beneficiar. Falando em competir, eu me surpreendi bastante com o ambiente da aula de dança no geral. Eu não gosto de fazer esse tipo de atividade com pessoas do meu quotidiano, ou que sejam próximas mesmo. Porque eu crio essa coisa de competição na minha cabeça e porque eu acho interessante não estar sempre com as mesmas pessoas (ok, talvez isso seja novidade). Acho bom ter o grupo da dança, o grupo do inglês, o grupo do sei lá o que, uma banda, enfim. Não é que para cada um você vá ser uma nova pessoa, mas é que realmente existe essa diferença de comportamento naturalmente. Se eu ficar presa na primeira impressão que eu tenho dos outros, e eu descobri isso mesmo só agora, eu posso perder a chance de conehcer gente realmente muito mágica. E, nos últimos dias, com as apresentações e a festa para encontrar todas as pessoas do estúdio (a maioria, né), foi bem engraçado ver como a mulherada reage. É claro que cada uma é de um jeito, mas eu me surpreendi de ver que as categorias não foram empregadas à pessoas homogêneas. Tá, eu explico: é que você espera que aquelas mulheres mais velhas ou enfim sejam mais "mãezonas", que as mulheres do nível avançado sejam extremamente arrogantes, que as profissionais não fiquem nervosas e por aí vai... e, quando vai convivendo com elas, percebe que não existe um padrão para isso, e, muito pelo contrário, existem jeitos e jeitos de encarar aquele mundinho: grande parte das mulheres afirma aquelas frases nojentas, do tipo "vou dançar pro maridão", enquanto algumas fazem por vaidade, outras por ser um exercício físico e assim vai... e, nesse meio, é engraçado ver como existe gente superpreocupada em aparecer enquanto outras estão simplesmente se divertindo. Foi só um comentário. E o melhor talvez ainda seja presenciar as mesmas pessoas tomando um café e achando bizarro o Zombie Walk, com pose de educação e requinte, e dias depois com garrafas de cervejas nas mãos, falando as coisas mais absrudas sobre 'deus e o mundo'. Eu gosto de pertencer a essa mistura. E é legal ver que gente que tu não conhece sabe o teu nome e etc.
Ok, eu comecei a escrever aleatoriamente. Fugiu do que eu queria, mas é a vida.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O que não me dar de presente:

Tudo bem que "presente é presente", mas todo mundo tem o direito de refletir sobre o que desejaria evitar ganhar. E, nessa época de amigo-secreto em tudo que é setor da vida, nada mais adequado do que uma listinha do gênero.
Ok, vamos ignorar os preços e etc., eu estou apenas listando coisas - sem critério.

- Discografia do Ed Motta (cara, eu só lembrei desse cara porque hoje, da hora do almoço ao meio da tarde, eu e o Bruno fomos 'presenteados' com supersucessos desse cara e outros falidos da música brasileira por um grupo de pessoas estranhamente felizes na ESPM - eles fazem eventos bizarros para incomodar os vizinhos, acreditem!)
- Doce de batata-doce (nunca comi, mas a idéia de uma geleca marrom-alaranjada-sei lá que cor num pote com a tampa dourada não me agrada)
- Bonés de propaganda de alguma coisa. Eu já não uso boné, ainda mais com algum logotipo tosco.
- Limpador de língua (oi?)
- Descascador de batata (não funciona)
- Carvão Carvonette ou sei lá o nome.
- Giz de Cera (tá, não seria tão ruim assim)
- Sutian amarelinho (sei lá, eu não consigo imaginar nenhum do tipo que não pareça aqueles para quem está amamentando)
- Um daqueles presentes abacaxi que são comprados numa viagem (afinal, não existe possibilidade de troca)
- Lenços de tecido (e eles ainda existem, meu deus)
- Um pôster do Mrcelo D2
- CD de músicas de Natal da Simone
- Revistinhas de cifras (ou sei lá o nome) de algum instrumento bizarro/que eu nunca vá tocar
- T (aqueles trecos de botar vários fios em uma tomada. tá, eles são úteis e graciosos ao menos)
- Tony Garrido (náuseas)
- Algum filme do tipo que muita gente adora e eu não vejo graça, tipo Tempos Modernos
- O Evangelho segundo Jesus Cristo
- A G Magazine do Frota
- Algum perfume muito doce
- Amendoim
- Jogo da memória de oito peças
- Esmalte bege
- Roupa muito rosa, pior ainda se for daquele jeito 'gothic dark devil metal pink'
- Espinafre
- Colar de Hawaiana
- Saco de roscas de polvilho
- Agenda do ano, no fim do ano
- Um aparelho inútil, tipo contador de passos
- Óculos de natação pequeninho
- Mocassins
- Anjinhos, doendezinhos, e outros personagens de 1,99
- Biografia do Chico Buarque ou coisa que o valha
- Pano de prato
- Livro de autoria da pessoa que está dando o presente (você é obrigado a ler)
- Porta-retratos horrível
- Peso de porta em forma de galinha
- Cestinha com pequenas oferendas falsas, para dar sorte
- Cogumelo do Sol
- Creme Hidratante (tá, eu tenho implicância com creme, só isso)
- Tatuagens removíveis de picolé
- Cartões telefônicos
- Um retrato seu muito mal-desenhado
- Roupinha de dançarina de frevo

[continua]

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

96


Eu abri as portas com força, apesar da cena ser exagerada. Olhei para aquelas roupas e sapatos, as bolsas, a coleção de cd's, os boxes de dvd's com os mesmos seriados, as fotos com... bem, o meu piercing é do lado esquerdo. O dela é no lado direito do nariz. Aliás, tudo nela parece direito. Uma boa garota, com um ótimo gosto musical e tato para livros. E fiquei olhando as fotos, recheadas de cabelos ao vento, sorrisos espontâneos e algumas paisagens conhecidas: acho que nada nela me parecia novidade. Não se tratava de falta de originalidade, mas uma faixa de coincidências muito intensa... Coincidência?! Quem eu estou enganando? Ela era exatamente como eu. Exatamente como eu. Depois de constatar isso com meus próprios olhos, nunca tive tanta certeza da veracidade daquela coisa de "vou saír por aí e encontrar outro você". Eu pensava que aquelas coisas me fizessem especial, sabe. Não exatamente dividir o cabelo de um jeito ou de outro, mas toda aquela composição das coisas materiais. Quer dizer, isso é só o que eu sei dessa nova garota. Não conversei com ela, então não posso afirmar que somos tão parecidas assim, em personalidade e na forma de se mostrar ao mundo. Ao ver a escrivaninha, abrir as gavetas, folhear alguns cadernos, pude aceitar que ela era mais organizada. Talvez mais limpa. Sabe, parecia tudo impecável, como se ela fosse um reflexo melhorado de mim. Um alguém que fala outras línguas, além do clássico inglês mal-pronunciado. Um alguém que come doces e não engorda, porque entende de calorias e exercícios físicos e essas coisas que grande parte das mulheres parece saber. Um alguém mais independente e sem medo de parecer ridículo. Não é que eu tenha medo dos outros ou da imagem que é feita de mim, mas a idéia de fazer coisas sem saber por que não me parece muito agradável. Ela parece nem se importar. Talvez isso seja um defeito. E, talvez, eu me importar seja outro ainda maior. Se a gente se encontrasse, garanto que ela me cumprimentaria numa boa, até por não saber o que eu fiz. Não é sempre que se invade assim a privacidade de alguém. O quarto pode dizer muita coisa. E ela não é uma jovem-cor-de-rosa para acreditar inocentemente que eu quero a amizade dela. Eu não quero isso. Não quero. Quero mesmo é entender o que ele viu nela, que eu não percebi. O que temos de tão diferente, de tão incomum. Eu costumva ser a vítima de todo o assédio que hoje é dirigido a ela e só ela. Eles parecem felizes juntos. E não é que eu queira destruir isso. Eu não estou apaixonada. Acho que nunca estive. Lamento não saber tirar os pés do chão quando eu poderia ao menos tentar. Essas fotos não negam o quão alegre ele se sente ao lado dela. Mesmo que ela tenha uma falha na sobrancelha, ela faz ele feliz. E parece não querer nada em troca e se sentir bem com isso. Ele sempre do mesmo jeito, com aquele anel lascado no dedo de sempre. E ela não parece se importar se ele esquece de fazer a barba ou queima o arroz toda a vez que tenta fazer um carreteiro. Talvez seja realmente isso, sabe: ela não se importa como eu me importo. E isso me deixa presa nessa angústia de ver o que eu não vivi e, provavelmente, não vou viver. Tipo aquelas conchas que se tornaram órfãs há pouco e agora esperarão o pisoteio dos turistas nas areias das praias. De repente não parece tão triste. Mas é engraçado, sabe, porque ele podia ter escolhido qualquer pessoa, de qualquer jeito, mas escolhe alguém que defende praticamente as mesmas coisas que eu, que detesta iogurte de morango também e sabe se comportar perante a familia dele. Foi o que eu ouvi. Não que ele tenha me contado, ou que ele saiba que eu tenho conhecimento sobre a vida dele. De qualquer jeito, é tudo público. E, te juro, se eu não me conhecesse tao bem, depois desses anos todos de convivência com a minha aparência, poderia confundir o rosto dela com o meu. Só os olhos que não. Os olhos dela me intimidam. Eu não deveria estar aqui. Nunca foi o meu lugar. E, apesar de todas as semelhanças, ele não parece me notar nos gestos dela. Eu costumava tocar violão graciosamente, mesmo que canhota. Talvez eu seja o lado esquerdo dela. Ou talvez ela seja o que eu tentei ser e não consegui. O fato é que ela vê graça naquilo que eu perdi e isso eu realmente não entendo. Talvez, um dia, ele me explique.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Das coisas que eu não entendo

Eu acho que nunca vou entender - e eu não vou fazer o menor esforço para chegar perto disso - o que faz alguém trocar coisas certas e, sei lá, concretas, que realmente importam, pelo incerto, que não oferece garantias. Eu não falo de ousar, arriscar, fazer uma mundança radical na vida, mas simplesmente aplicar o que se aprende.

No fundo, a verdade é que as pessoas funcionam umas com as outras ou não. Simples assim. Um olhar torto no primeiro encontro mudaria tudo, mas ainda assim não seria definitivo. É difícil encontrar gente que pense parecido. Não exatamente "pensar" no sentido de querer salvar o mundo com uma ONG ou ter a mesma cor como favorita, mas pensar no sentido mais ação da coisa. Por mais que opostos se atraiam, as semelhanças sempre serão necessárias para a harmonia da relação. E, cada vez mais, eu vejo que dias e dias dialogando sobre como agir, na mais profunda paz, não substituirão o conforto que é não precisar explicar nada, só sair fazendo. Tipo aquela coisa de tu ver uma situação inusitada e olhar para o teu amigo na mesma hora em que ele te olha: por mais comum e inocente que isso seja, a sintonia no comportamento explica muita coisa.

Amizade é pra ser assim, confortável. Jogar videogame de moleton, comendo algum salgadinho fedorento e tendo a liberdade de falar o que quiser, sem se preocupar com opiniões divergentes. Às vezes, enxe o saco aquela coisa de falar manso e evitar se destacar porque isso pode ser entendido de maneira errônea por alguém. Incrivelmente, a ditadura ainda existe, infiltrada nessas pequenas condições das relações humanas. Como aquelas campanhas de televisão, que buscam de alguma forma trazer informação ou minimizar o preconceito com algum assunto... elas podem englobar muita gente, mas ainda assim não são cento por cento eficientes. Hoje, prevalecem os grupos. Grupos variados, grupos de qualquer coisa - mas, ainda assim, alguma coisa que sirva de critério para unir pessoas diversas. E quando surge algum questionamento, ainda que em tom de dúvida e não de crítica, ele é visto como uma ameaça e, muitas vezes de forma sutil, o membro é afastado para longe, depois para bem longe, até estar seguramente distante. É como se às pessoas fossem frutas podres e tivessem que se unir em espécies, mas de maneira menos orgânica.

Eu tinha intenção de falar que a vida é engraçada e que me cansa ter que falar com os outros (não todos) como se eles fossem crianças, daquele modo "deixa que a mamãe te ajuda", em que, notado qualquer sinal de beiço, se deve voltar atrás e fazer de novo a cortina do paraíso cair sobre a realidade. Simplesmente não flui.

E tem coisas que eu prefiro nem entender, porque concordar com elas seria negar a minha inocência diante dos fatos. Quisera eu me passar por ingênua ao invés de ignorante. Mas não sou eu quem decide isso. E eu me sinto um metro e meio de angústia quando as minhas palavras não chegam nem perto da consciência de quem deveria ouví-las.
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