segunda-feira, 16 de março de 2009

Mentira!

- E então, o que era verdade?
- Nada. Eu já disse que eu menti.
- O tempo todo?
- O tempo todo.
- E a verdade? Nem tudo foi mentira, sempre tem uma verdade.
- Não, não tem. Não teve. Tudo foi mentira.
- Tudo o que aconteceu? Como você consegue...?
- ...Deitar a cabeça no travesseiro? Eu sempre consigo.
- Não! Como você consegue ser tão ingênuo?!
- Eu não sei o que você entende disso, mas quando alguém planeja uma coisa que foge da sua real vontade, ele está mentindo a fim de...
- Não... Intenção. Sempre existe uma intenção, no mínimo. Ela é verdadeira. Mesmo que os meios não sejam os melhores, os fins sempre são verdadeiros.
- Tá, mas eu agi meio que sem motivação nesse caso, sabe. Pra mim foi indiferente.
- Isso que é estranho: não foi benéfico pra ninguém. Eu não ganhei com isso, você não ganhou, ninguém ganhou.
- Você preferia que eu tivesse agido por egoísmo?
- Eu preferia que você agisse com mais interesse, sabe. Pela vida, pelas coisas, pelas pessoas... olha a sua situação. Você está enganando a si mesmo...
- Não. Eu sei o que eu fiz, o que não fiz, o que omiti e o que cobri com mentiras imundas. Eu sei de tudo e não me sinto mal.
- Olha o teu sorriso como é idiota! Que porcaria de sorriso é esse, que não tem vida, não tem entusiasmo, não tem gosto de vitória? Tu conseguiu entrar em um jogo como um participante completamente inativo, que não pode ganhar nem perder.
- Eu não preciso te provar porque eu estou certo.
- Mas ao menos você precisa entender isso. No mínimo isso.
- Porque? Você acha que eu não sou capaz de bancar minhas ações?
- Eu acho que você é um idiota. Eu já te achava um porco por fazer o que fez, mas me olhar com essa cara e dizer que não tinha motivo nenhum pra isso foi o cúmulo. Você é burro, sabe. E eu tenho nojo de você agora!
- Nossa, como você me deixa angustiado. Sabe, o mundo não é feito de surpresinhas de amor, onde tudo é sincero e lindo e cheio de emoção. Se eu quero sexo, eu quero sexo. Não procuro carinho. Se eu quero comida, eu quero comida e não...
- Chega desse blablablá! Você é homem, e daí? Isso não é argumento. Não te julgo mal pelo que você fez ou deixou de fazer, mas porque você é vazio. Completamente vazio.
- Só porque eu não tenho frases prontas ou não repenso todas as minhas ações vinte e quatro horas por dia não quer dizer que eu seja um vândalo, ou senhor vazio - como você prefere.
- Mas você mentiu! Mentiu o tempo todo! E não foi nem por diversão, foi por nada. Por nada... você destruiu tudo por nada.
- Se tudo era mentira então nada existiu na realidade.
- Não interessa isso agora... Essa foi só a conclusão. Mas a introdução e o desenvolvimento são coisas que não podem ser apagadas. Pra mim era de verdade. E continua sendo, mesmo agora. Eu não consigo tornar irreal o que eu vi acontecer.
- Isso já é problema seu.
- Covardia, isso é uma tremenda covardia! O que você ganhou com isso, me diz. Por que diabos fez isso?
- Olha, eu só fiz, ok? Chega de perguntas... minha cabeça não é recheada de respostas e justificativas. Eu só fiz.
- Só fez? Assim, como se não fosse nada?! Como se fosse o mesmo que passar um trote?!
- Sou eu, entende. E eu não preciso de você pra me encher o saco.
- Até que enfim uma mentira das boas. Achei que fosse custar pra chegar.
- Ahn? Eu não preciso de você. Não preciso mesmo.
- Então porque você simplesmente não foi embora?
- Não é óbvio? Você, pensando ser tudo verdade, ia me procurar até no inferno...
- Ah, mesmo assim ia ser mais digno.
- Mais digno do que revelar a verdade?
- É, mais digno. Pelo menos você não se preocuparia em ver minha expressão de espanto.
- Eu juro que não te entendo.
- É, eu sei.
- De qualquer forma, foi tudo mentira.
- Até aquele dia das pétalas de rosa?
- Sim, tudo mentira.
- Você é o quê? Ator?
- É, talvez. Daí, quando eu acho um papel legal, eu interpreto.
- Mas e você?
- Não existe eu.
- Isso não soou como mentira.
- Pode ser que também seja, eu ainda sou uma incógnita pra mim também.
- Estranho, mas eu sempre gostei disso em você. Que raiva...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Say that you'll stay.


Naquele momento em especial, eu não saberia descrever o que eu sentia. Mesmo que eu quisesse. Não é que eu não tenha tentado, mas eu nunca cheguei nem perto da definição. Os braços dele em torno de mim, os meus braços em torno do pescoço dele. Eu apoiei minha cabeça no seu ombro esquerdo de forma tão confortável e isso foi tão espontâneo e sincero. Não importava se eu deveria estar em outro lugar, com outra pessoa. Por mais erradas que fossem, de todas as minhas atitudes aquela tinha sido a mais certa. É meio estranho quando você está no centro de um enozado de histórias e não encontra fuga para seus problemas: foi naquele abraço que eu encontrei o refúgio tão esperado. Meus olhos continuaram abertos e, ainda que cruzassem com vários indesejados rostos conhecidos, pareciam não se aborrecer com nada. Nem lembro das músicas. Com certeza não eram boas. Não era o tipo de lugar que eu freqüentava. Mas, e não falo isso para alimentar um ar romântico, com música ou sem música tudo o que eu ouvia era um silêncio macio e nervoso. Sabe, é aquele silêncio de quem sente o sangue do outro correndo pelas veias, de quem poderia fazer de um piscar de olhos um estrondo, de quem está com o coração na boca. Independente de todas as palavras que eu tivesse ousado dizer ou escrever ou expulsar de mim numa forma de aliviar a angústia, aquele momento foi tão autosuficiente. Não se trata de inexpressão, mas de incredulidade. Ele, de cujas mãos sempre estiveram geladas, me abraçou de forma tão quente. Mas quente de verdade, sem pretensão de transformar isso em um outro acontecimento. Eu gosto de coisas despretensiosas, espontâneas, simplesmente puras. Ele me envolveu de tal forma que fora a primeira vez, talvez, que eu me senti realmente protegida. Ele não sabia o que eu estava pensando - e nem eu sabia, mas foi como se pudesse lidar com isso melhor do que ninguém, lidar com a confusão da minha vida e nem se importar com o sacrifício que isso significava. Eu nunca tinha me sentido satisfeita, mas por algum tempo isso saciou o meu desespero. E me deu medo também. Eu não gosto de pertencer a alguém, não gosto que me alguém tenha controle sobre a minha paz de espírito. Mas, naquele momento, eu nem me importei. O mundo poderia explodir e eu nem me importaria. Eu sabia o quão problemático podia ser se aquele abraço caísse na boca dos outros, sabia que qualquer manifestação teria conseqüências realmente devastadoras. E, o mais admirável talvez, é que ele conhecia isso tão bem quanto eu. Pelo menos naquela hora. E foi um abraço longo, sem medo do futuro ou de um passado insistente. Foi como se ele me impedisse de fazer qualquer movimento, de dizer qualquer bobagem ou mesmo uma verdade. Foi como se eu realmente tivesse alguém que se importasse e que, mesmo contrariado, buscava me entender. E, apesar de eu não ter sido o suficiente, ele nunca me deixou de lado. Foi o único que enxergou em meio a fumaça uma oportunidade. É tão mais fácil fugir, como eu fazia. Ele sabia que estava errado ao me abraçar, como se cansou de ouvir por meses e meses. E a única coisa que eu disse não tomou a proporção que deveria, mas foi totalmente sincera - foi fruto de um impulso que há tempos eu alimentava. Eu quis aquele abraço como ninguém, quis aquela verdade e toda a ansiedade que se fez presente. Guardei o momento em um baú e joguei a chave fora.

domingo, 8 de março de 2009

mistaken

você não vai entender.
e eu nem decidi ainda se quero que alguém entenda.
eu opto por não decidir, na verdade. é menos um erro pra cometer, sabe.
o fato é que, às vezes, eu penso estar com ele quando na verdade eu sou ele.
nós dois não somos "nós", nós somos eu e ele.
mas é como se fosse a mesma coisa.
não é que sejamos tão parecidos ou tenhamos infinitas afinidades, mas a nossa ligação é totalmente emocional.
é incompreensível para qualquer um, é motivo de briga, de ciúme - o suficiente para duvidar de qualquer sentimento.
eu mudei a vida dele, ele mudou a minha.
a gente não sabe disso porque a gente troca palavras, a gente sabe disso porque a gente sente.
ele foi amigo e também foi inimigo.
ele ainda é. só isso.
tem pessoas que estão e pessoas que são.
mesmo com toda a distância, de tempo e quilômetros, ele nunca deixou de ser.
e não é que eu sinta algum tipo de dor ou afeto, eu só sinto o que deveria sentir.
ele sente o mesmo.
é de uma inocência tão absurda acreditar no poder das lembranças...
mas é esse o sintoma que nos acomete - a mágica de um passado de pureza.
pureza nos gestos, nas ações, nos pensamentos.
não é minha culpa se ele faz parte de mim.
não foi minha pretensão arquitetar uma tempestade.
antes fosse tudo isso: seria mais fácil esquecer.
mas nem sempre o que passou, mesmo nesse contexto de passado como um vilão, deixa sombras tão amargas.
basta um pouco de luz para ver o que restou.
só a idéia de algo ter sobrado já resume a satisfação.
é bom se sentir vivo ao relembrar um momento.
são essas pequenas raridades do dia-a-dia que nos fazem diferentes dos demais.
eu e ele somos iguais, não em cabeça mas em coração.
e não é que não possamos nos encontrar em outras pessoas.
é só que fazemos parte um do outro.
e nunca vamos embora.

quinta-feira, 5 de março de 2009

FUSCA P

Eu fiquei escrevendo sobre a faculdade, mas no fundo eu preferia mesmo guardar pra mim algumas impressões. Quer dizer, não existe maldade ao falar sobre a minha felicidade infantil em ter aula de filosofia (lógica é tão legal!) ou sobre a primeira fuckin aula (eu quis dizer aula de verdade, sem aquelas baboseiras de apresentação), mas não falar de acontecimentos e tentar expressar idéias aleatórias me parece mais proveitoso, como já pareceu num passado não muito distante. Ok, só vou dizer que me senti meio infeliz tendo que responder perguntas do tipo "porque você quer cursar psicologia?", que por sinal eram um tanto previsíveis. Metade dos meus colegas pretende aliar psicologia com direito - se não acabar optando por um dos dois cursos; dois se interessam declaradamente por biologia forense, assassinos em séries, essas coisas; vários nem querem ser psicólogos. Hoje eu comprei um livro que me deixou feliz de saber que ele existia, sobre Beatles e filosofia. Não, eu não vou virar uma chata que só fala de filosofia (até porque eu falo de vários assuntos, huhu). O que eu sei é que as aulas vão me render milhões de tarefas, mas também boas e longas reflexões. Sério, é muito legal falar de coisas que, de modo menos aprofundado, eu poderia conversar com meus amigos. O "menos aprofundado" se deve à ausência de um professor de verdade na conversa... Não é o tipo de resposta que se dê, mas eu realmente gosto de psicologia porque eu acho que isso é totalmente fundamental. Sabe, é conhecer gente, conhecer o ser humano. Talvez não seja de interesse comum estudar Transtorno Obsessivo Compulsivo e outras psicopatologias, mas o resto das coisas é tão interessante e bonito. Tudo bem, eu tenho essa mania de querer achar motivo para tudo, procurar mensagens subliminares e etc, mas eu não entendo como alguns tópicos não são simplesmente conhecidos por todo mundo. Eu falo isso como uma não-conhecedora mesmo, que se revolta mas também se sente privilegiada de poder ter acesso a informações que, no fundo, podem falar muito de um pedaço de qualquer um. Eu não sei promover exatamente a psicologia, uma vez que existe um leque de cursos muito mais específicos e, aparentemente, úteis, mas eu realmente acredito no poder de conhecer a mente. É claro que os instrumentos acabam parecendo um tanto vagos para a diversidade de cabeças pensantes, mas com atenção e dedicação se conseguem resultados muito satisfatórios. Antes de desviar o rumo do texto, eu falava sobre coisas discutíveis entre amigos. Sei lá, a aula de hoje me fez pensar em Elizabethtown (a cena da Claire na banheira, falando no telefone - ui) e Engenheiros do Hawaii ("quem são eles?"). É legal se abrir para a visão das outras pessoas sobre a influência do meio, da sociedade, no indivíduo. "Como você sabe que você é você?". Por um ou dois segundos eu cheguei a pensar que eu adoraria receber dinheiro para passar a vida gerando essas discussões. O resto do tempo eu gastei observando as pessoas ao redor. É meio estranho estar entre estranhos num ambiente estranho onde tudo é novo. Os veteranos têm sido bem legais com a nossa turma - inclusive ainda é meio difícil diferenciar quem é bixo e quem já estava por lá. A idéia é não se fechar em 'pré-conceitos', relevar a primeira impressão quando ela é negativa e procurar buscar qualidades nas diferenças. Realmente, psicólogos são estranhos.

ps: FUSCA P é o apelido de UFCSPA que não pegou.
ps2: não fui eu que inventei.


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