quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Mesmo que mude

"Ele vai mudar,
Escolher um jeito novo de dizer 'alô'
Vai ter medo de que um dia ela vá mudar
Que aprenda a esquecer sua velha paixão
Mas evita ir até o telefone
Para conversar
Pois é muito tarde pra ligar
Tem pensado nela
Estava com saudade
Mesmo sem ter esquecido que
É sempre amor, mesmo que acabe
Com ele aonde quer que esteja
É sempre amor, mesmo que mude
É sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou"


Eu achei que já tivesse escutado demais essa música para gostar de ouvir de novo, mas hoje fez um certo sentido. Sei lá, essa semana foi estranha. Odeio quando coisas que pra mim são invernais ocorrem no verão. E vice-versa. E acho que nunca vou me acostumar a ignorar determinadas notícias e tocar a vida como se nada tivesse acontecido. Nas últimas semanas elas têm chegado aos montes. Mas tudo bem.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Welcome home

Sleep don't visit, so I choke on sun
And the days blur into one

And the backs of my eyes hum with things I've never done



Sheets are swaying from an old clothesline

Like a row of captured ghosts over old dead grass

Was never much but we made the most

Welcome home



Ships are launching from my chest

Some have names but most do not

If you find one, please let me know what piece I've lost



Heal the scars from off my back

I don't need them anymore

You can throw them out or keep them in your mason jars

I've come home



All my nightmares escaped my head

Bar the door, please don't let them in

You were never supposed to leave

Now my head's splitting at the seams

And I don't know if I can



Here, beneath my lungs, I feel your thumbs press into my skin again


.Radical Face.


 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

It's nothing but time and a face that you lose


When there is nothing left to burn,
You have to set yourself on fire


God, that was strange to see you again,
Introduced by a friend of a friend,
Smiled and said 'yes I think we've met before'
In that instant it started to pour,
Captured a taxi despite all the rain,
We drove in silence across Pont Champlain
And all of the time you thought I was sad
I was trying to remember your name...

This scar is a fleck on my porcelain skin,
Tried to reach deep but you couldn't get in.
Now you're outside me,
You see all the beauty
Repent all your sin...

It's nothing but time and a face that you lose,
I chose to feel it and you couldn't chose.
I'll write you a postcard,
I'll send you the news
From a house down the road from real love...

Live through this, and you won't look back...
Live through this, and you won't look back...
Live through this, and you won't look back...

There's one thing I want to say, so I'll be brave...
You were what I wanted,
I gave what I gave.
I'm not sorry I met you.
I'm not sorry it's over.
I'm not sorry there's nothing to say.
I'm not sorry there's nothing to save!

______________________________________________

[ Your ex-lover is dead - Stars ]

Sobre amor em tempos de avião

Sou do tempo em que o príncipe encantado era aquele que lutaria bravamente pela princesa - ou, pelo menos, sofreria muito com a dor de sua perda. Digno de um final estilo Romeu e Julieta. Quando eu falo em sofrer, quero dizer arrancar os cabelos, chorar soluçando com o rosto vermelho e todas esses gestos dramáticos de quem só consegue expressar o desespero em ações, ainda que pareçam limitadas. O sentimento é tanto que não há espaço para razão, para palavra ou frase. E a recíproca seria verdadeira. Oh, o drama da distância, da saudade, dos empecilhos...
Por mais que a tecnologia tenha melhorado muito os meios de comunicação, eu continuo com um resquício desse velho modo de pensar. Que lindo seria acordar com pedrinhas batendo no vidro da janela. Sei lá, eu não estou falando de flores nem nenhuma declaração necessariamente formal de amor. Mas acho interessante pensar nesse modo "antigo" e mais lento de viver intensamente os relacionamentos. Eu penso que de nada adianta se revestir de armaduras - válido é viver, com todas as qualidades possíveis (e indesejáveis também). Se não der certo, paciência. Mas... antes do "paciência", deve existir a crise. A crise é essencial para a formação da identidade de qualquer um - mesmo que isso não apareça em nenhum livro de auto-ajuda. A graça de tudo é o barulho. Relacionamento sem barulho não existe - onde está o resultado da interação?
Fico pensando que hoje em dia qualquer distanciamento é muito mais acessível - apesar de parecer cada vez menos desejável. É só pegar um avião. Mas e o resto? O que fica? O que vai? Por um lado, penso que devemos fazer escolhas sem deixar que certas questões interfiram na decisão. Mas não sei até que ponto essa frieza é sincera ou mesmo benéfica. As vontades de ir e ficar podem coexistir, é claro, mas acredito que - mesmo que inconscientemente - esse período entre uma coisa e outra compreende o desejo de sentir que fará falta. Você vai por querer conhecer o novo, por querer pertencer a um novo espaço. Mas, para isso, como um conforto ou pura segurança, é desejável que uma parte fique - nem que seja um pedacinho - para manter viva naquele local a presença ou a lembrança de alguém que, sim, é importante.
Por mais piegas que isso seja, eu costumo achar compreensível aquelas cenas de filmes e afins em que alguém vai correndo até o aeroporto impedir alguém de embarcar. Ok, geralmente a pessoa decide isso minutos antes do horário do vôo, mas faz parte do suspense amoroso. Não lembro de ter feito nada parecido e nem lembro de nenhum caso com um conhecido. Mas gostaria que isso fosse mais comum. Que essa impulsividade, esse desespero, fosse mais expresso. Não que as pessoas não possam ir... Elas podem. Elas devem. Mas o barulho deve existir. Quantos relacionamentos não terminam por causa de uma viagem? Claro que eu entendo a realidade, os motivos e todas as conseqüências que as novidades podem trazer, mas questiono até que ponto se deve assistir a tudo isso. De mãos no bolso. Assim.
Talvez o que eu esteja tentando dizer seja simplesmente aquela velha história de dizer coisas reais e bonitas a pessoas queridas em tempo de ser ouvido. Mas eu gosto de pensar que é mais do que isso. Porque dizer já se trata de um segundo passo, em que a pessoa já está consciente de seus desejos e suas necessidades, e expressa isso em forma de ação. O primeiro passo é sentir. Sentir, morrer, se descabelar, chorar, ter pensamentos absurdos e catastróficos. Absorver sem utilizar o filtro da racionalidade. Voltar ao zero, sentir-se sozinho no escuro. Acho que todo mundo deveria se sentir assim um dia para, então, experimentar o amor.


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Fuck this shit.

"Acabei me sentando num banco, num canto um pouquinho menos escuro. Puxa, ainda estava tiritando como um filho da mãe e na parte de trás da cabeça, apesar de eu estar de chapéu, tinha uma porção de pedacinhos de gelo. Isso me preocupou. Achei que provavelmente ia apanhar uma pneumonia e morrer. Fiquei imaginando milhões de chatos indo ao meu enterro e tudo.  Meu avô de Detroit, aquele que fica lendo alto o nome das ruas quando a gente anda numa porcaria dum ônibus com ele, e minhas tias - tenho umas cinqüenta tias - e todos os nojentos dos meus primos. A tropa toda ia estar lá. Estavam todos lá quando o Allie morreu, a cambada toda de imbecis.  Tenho uma  tia imbecil, que tem mau hálito, que não parava de repetir que ele estava tão sereno no caixão. O D.B. é que me contou, eu não fui lá. Ainda estava no hospital. Tive que ir para o hospital e tudo quando machuquei minha mão. Seja como for, fiquei com medo de apanhar uma pneumonia e morrer, por causa daqueles flocos de gelo no cabelo. Me deu uma pena danada do meu pai e da minha mãe. Especialmente da minha mãe, porque ela ainda não se conformou com a morte do Allie. Ela não ia saber o que fazer com todos os meus ternos e equipamentos esportivos e tudo.  Só tinha uma coisa boa, era saber que ela não ia deixar a Phoebe assistir à droga do meu enterro porque é muito criança.  Essa era a única coisa boa. Aí pensei na cambada toda me metendo numa droga de cemitério, com meu nome num túmulo e tudo.  Cercado de gente morta.  Puxa, depois que a gente morre, eles fazem o diabo com a gente.  Tomara que quando eu morrer de verdade alguém tenha a feliz idéia de me atirar num rio ou coisa parecida.  Tudo, menos me enfiar numa porcaria dum cemitério. Gente vindo todo domingo botar um ramo de flores em cima da barriga do infeliz, e toda essa baboseira. Quem é que quer flores depois de morto?  Ninguém.
 

Quando faz bom tempo, meus pais vão freqüentemente ao cemitério e espetam um punhado de flores no túmulo do Allie. Fui com eles umas duas vezes, mas aí parei. Em primeiro lugar, não tenho o menor prazer em ver o Allie naquele cemitério maluco. Todo cercado de caras mortos e túmulos e tudo. Não é tão ruim quando faz sol, mas duas vezes - duas vezes - estávamos lá dentro quando começou a chover. Foi horroroso. Choveu na porcaria do túmulo dele, e choveu na grama em cima da barriga dele. Chovia por todo lado. O pessoal todo que estava de visita saiu correndo para os carros. Foi isso que me deixou doido. Todo mundo podia correr para dentro dos carros, ligar o rádio e tudo e ir jantar em algum lugar bacana - todo mundo menos o Allie. Não agüento um troço desses. Eu sei que é só o corpo dele e tudo que está no cemitério, que a alma está no céu e essa merda toda, mas assim mesmo não podia agüentar aquilo. Só queria que ele não estivesse lá. Quem conheceu o Allie entende o que estou querendo dizer. Não é tão mau assim quando tem sol, mas o sol só aparece quando cisma de aparecer."


J.D. Salinger


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

One more night

so good when it ends, they'll never be friends
one more night, that's all they can spend

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Fairy Tale

Little lady, your tale has an end
For your love to the skies was sent
He's turned into sparks
That shine with the stars...

...And, by night, he will always be there

For his lady to stare
And thus he's never died.


.
Essa música é uma das minhas favoritas no mundo.
Quis escrever mais, mas hoje é um daqueles dias em que nenhuma palavra traduz o que se passa internamente.



quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sobre perdão em tempos de morte

É meio estranho estar entre a idéia do "aproveite cada dia como se fosse o último" e a situação de ver os dias serem muito parecidos, mesmo quando existem surpresas (que nem sempre são boas). O hospital mexeu muito com a minha cabeça, isso é fato. Ontem eu saí dali, fui para um pub encontrar pessoas queridas e, por acaso, encontrei uma ex-colega de escola. E foi algo legal e super espontâneo e eu fiquei feliz. Eu fico fascinada com esse poder de pequenos momentos ou algumas palavras mudarem completamente o clima do dia. Enfim, realmente me emocionei. Foi tão inesperado! E, num horário qualquer, eu peguei um ônibus e o "poema" na janela mais próxima de mim se dirigia a algum passageiro em pé. O autor desejava que esse passageiro lesse o poema com uma gota de chuva escorrendo pelo vidro. Isso foi ontem. Hoje eu peguei mil ônibus, alguns lotados, e a chuva forte foi uma constante. E eu olhei para aqueles vidros embaçados cobertos de gotinhas de água e calor humano e tal e realmente fiquei emburrada quando lembrei do poema. É incrível como uma coisa pode ser linda num dia e péssima no outro. Pelo menos pra mim. Pelo menos às vezes. E nesses tempos de repensar a importância das pessoas, reesquematizar a vida em alguns aspectos, fiquei atenta a algumas palavras adultas. Viva o perdão, esqueça a raiva, a mágoa, o não sei que lá. Eu não sei até que ponto essas idéias limpas podem ser colocadas em prática. Eu sou a favor daquela sinceridade suja, de se descabelar por alguma coisa por sentir necessidade. Mesmo que depois se perceba que a situação não merecia tanto. Acho importante o momento presente, os impulsos, a confusão toda. Tudo bem, eu costumo agir como a Sra. Pretérito, mas realmente dou mais valor ao momento da ação, ao choque, enfim. Então, eu me sinto meio desafiada (e porque não 'ofendida'?) com essa história de perdoar, passar a limpo, etc. Não que eu viva em profundo caos e discórdia, hahaha. Tem uma frase de uma música que eu gosto que diz "Deixe de lado os compromissos marcados, perdoa o que puder ser perdoado, esquece o que não tiver perdão e vamos voltar àquele lugar...", e eu realmente consigo adorar isso, mas não é algo que habita a minha cabeça. Eu realmente acho que a base disso vem da idéia de que no fim, quando morrem, todas as pessoas são boazinhas. Não falo em céu, mas em fatos. Até o maníaco do parque de não sei onde tem família, sei lá. E eu acho que faz parte do mundo existir um equilíbrio. Se tudo for perdoado, vira uma bagunça. Eu sei que o propósito da coisa não é bem esse, não se volta tanto para a pessoa que fez algo errado mas sim para a vítima da história não guardar rancor e sentimentos que possam ser nocivos a ela. Blablablá. Tudo isso para dizer que, mesmo perto ou não da morte, consegui me manter razoavelmente neutra quanto a esse posicionamento. Perdoa-se o que é possível e fim de papo. Me incomoda muito essa pressão para que todas as pessoas sejam Bons Samaritanos e cultivem os mesmo valores e usem coroas de flores na cabeça (na verdade, as flores eu aprovo). Se alguém me conhece bem o bastante pessoalmente, sabe que é nesse momento que eu começo a delirar e dizer coisas do tipo "os chineses são os melhores", "as mulheres têm o direito de não terem filhos", enfim. Adoro me incomodar com certas imposições sociais. Desde colocar ou não os cotovelos na mesa até adotar uma postura ou outra diante de um filho homossexual. Andei vendo tanta porcaria na televisão que me revoltei internamente. É incrível como o mundo quer que as mulheres se sintam gordas. Parei por aqui porque, como viram, perdi o fio da miada. Beijos a todos!



quarta-feira, 13 de julho de 2011

Sobre certas músicas e seus ouvintes.

Eu fico meio angustiada quando vejo alguém curtindo muito uma música porque a considera romântica, sendo que a letra não faz sentido nenhum e/ou é total não-romântica. Tinha um amigo que implorava para que ninguém contasse a história de alguma música ou traduzisse alguma coisa da letra (é, ele realmente não era bom em inglês). Eu entendo ele, porque eu mesma me deprimo quando não gosto da letra ou percebo que, aos meus ouvidos, a mensagem destoa da melodia. E isso se torna bem comum à medida que novelinhas tipo Malhação ganham trilha sonora de Silverchair. Enfim. Isso não era para ser um texto nem algo muito emocionante, só um desabafo. Eu cheguei em casa e estava tocando "Last Kiss" (Pearl Jam) e isso me deixou um tanto deprimida. Sei lá, em férias invernais, um pouco de depressão cai bem. Mesmo que dessa vez não tenha sido nada muito espontâneo ou passageiro. Por sinal, hoje foi um dia de calor. Nada típico. E não é que eu pense que as músicas devam ser todas iguais e previsíveis e que todos os sentimentos devam ser demonstrados da mesma maneira, mas é que realmente me angustia como em um mesmo lugar as pessoas podem alcançar extremos de felicidade, dor e todas as coisas humanas.

PS: acho que é hora de reler de novo (de novo, de novo, de novo) o Apanhador.


(Merlin e Vivian)
(?)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Chá das cinco.

Virei o chá quente na mão, nas pernas, nos pés. O suspiro foi exagerado, proporcional à sensibilidade do meu dedo. Tá doendo até agora. Eu olhei pro lado e vi ele me olhando daquele jeito imparcialmente neutro, do tipo que até sente pena, mas não o bastante para dar um abraço - o suficiente para pensar "você vai ter que aprender a lidar com isso" (eu diria "com a dor", mas percebo agora o quanto essa diferença na escrita modificaria intencionalmente o significado...). A queimadura me serviu de motivo para poder suspirar, reclamar em voz alta, já que os outros problemas me exigiam postura de adultez. Mas, oras, o que é ser adulto? O que é ser grande? O que é a maturidade numa hora dessas - em que os ponteiros seguem seu ritmo torto por trás do vidro do relógio inviolável? Eu voltei reclamando da dor no dedo a viagem inteira. Ele reclamava do frio intenso. E seguimos trocando reclamações - a placa que não indicava a direção correta, não-sei-quem que tinha feito não-sei-o-quê. Foi a maneira encontrada para externalizar, de modo adulto (embora aparentemente bobo), a angústia, a raiva, a insatisfação. Os adultos não sofrem, não sentem medo, não têm dúvidas. Eles simplesmente enfrentam o que for. E eu desejei que fosse ele quem tivesse queimado o dedo, e que fosse só isso. Que fosse eu a fazer o papel de quem observa. Desejei mais, desejei sentir muita, mas muita dor. Desejei que aquele chá fosse capaz de concentrar em mim toda aquela dor que o silêncio entre nós dois guardava. Mas era só um chá. E, naquele momento, tínhamos que ser dois adultos. Era o que ditava a regra... uma vez conhecido o "efeito dominó", se busca impedir que qualquer peça caia. Mesmo que isso implique conter suspiros, soluços e lágrimas.

"Eu volto pra casa... e te peço pra ficar. Em silêncio... Só ficar."



sábado, 2 de julho de 2011

Oh, take me back to the start...



Come up to meet you, tell you I'm sorry
You don't know how lovely you are

I had to find you

Tell you I need you
Tell you I've set you apart

Tell me your secrets

And ask me your questions
Oh, let's go back to the start

Running in circles

Coming up tails
Heads on the science apart

Nobody said it was easy

It's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard

Oh take me back to the start


I was just guessing

At numbers and figures
Pulling the puzzles apart

Questions of science

Science and progress
Do not speak as loud as my heart

Oh tell me you love me

Come back and haunt me
Oh and I rush to the start

Running in circles

Chasing our tails
Coming back as we are

Nobody said it was easy

Oh, it's such a shame for us to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be so hard

I’m going back to the start


{The Scientist - Coldplay}

terça-feira, 21 de junho de 2011

Sobre sintonia.

"Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos
Castanhos...

Então me abraça forte
E diz mais uma vez que já estamos
Distantes de tudo"

          Espetou o dedo pela sexta vez naquela manhã de sol tímido. A agulha preguiçosa fazendo a linha se esconder e reaparecer pelo tecido gelado. Dessa vez, apenas abafou um gemido. Não saberia dizer se estava se acostumando com a dor ou se a incomodava o fato de se espetar sempre no mesmo lugar. Observava o sujeito dormindo por cima das lentes do óculos, ressabiada. Estava acostumada com seu ronco, mas era só ele começar a tossir que ela se assustava e mais uma vez escorregava a agulha no mesmo ponto do indicador. Ela não sabe o horário exato em que ele chegou em casa - ele, muito menos. O cheiro forte de bebida não deixava dúvidas de que a noite tinha sido longa. Ela não se importava com isso. Desejava apenas que ele acordasse inteiro para ela. De que vale o fim de semana sem boa companhia.

          O sol de sábado nascia morno, espantando o frio da estação. Ela esfregava um pé no outro por debaixo do cobertor. As pernas macias de juventude. Terminou a costura e finalizou com um nó bem forte, segurando a linha com os lábios cerrados. Continuou a olhar para o cara que dormia esticado no sofá. A camisa para fora da calça, um pouco desabotoada. As meias e o calçado no chão. Levantou-se de imediato da poltrona e sentou-se próxima ao sujeito. Passou as mãos em seu rosto e deu-lhe um beijo demorado na testa.

- Vou preparar o café, querido.

          Ele abriu os olhos confuso, procurando a origem da voz doce. Viu a moça se afastar do sofá, com a saia rodada moldando-se pelo vento. Sentiu uma forte pontada na sua cabeça, uma dor muito forte, que durou alguns segundos. Com os olhos fechados, tateou seu corpo. Abotoou a camisa e colocou a mão no bolso traseiro da calça, percebendo ali algum conteúdo. Encontrou um pequeno pedaço de papel amassado, com um número de telefone escrito em vermelho. Não se lembrava de ter conhecido alguém na noite passada. Mas isso já tinha virado rotina.

          Ela trouxe a bandeja de prata com um bule de café e duas xícaras. Percebeu o papel na mão do noivo, mas não esboçou nenhuma surpresa. E não é que estivesse acostumada com a cena: de fato, parecia mais uma negação. Serviu o café, acrescentou dois cubinhos de açúcar e provou. Muito quente. Esperou que ele fizesse o mesmo, para então perguntar como tinha sido a noite com os amigos. Sem tom de cobrança, tudo da forma mais natural possível. Ele não disse muita coisa. Ela baixou os olhos e comentou que tinha costurado aquela camisa. Aquela camisa. Nunca tinha acreditado na história de marcas de batom no colarinho até lavar aquela camisa.

          Ele bebeu o café,  folheou o jornal, mas estava inquieto com a situação. Não era a primeira vez que se sentia constrangido ao perceber que ela ignorava o que estava acontecendo no relacionamento dos dois. Nunca tocaram no assunto, mas o chateava perceber que ela não se manifestava. Por mais que essa atitude passiva fosse melhor do que uma tempestade. Mas ele não sentia que ela se importava. E já estava vivendo a idéia de que poderia mesmo passar os anos desse jeito - enchendo a cara no bar, dormindo com estranhas e chegando em casa ao amanhecer. Foi quando ela se levantou do sofá de imediato, esboçando um sorriso inocente.

- Eu estou grávida. 

          O café se espalhou por todo lado. Ele a abraçou como há tempos não fazia. E a alegria era sincera. Mais tarde, rasgou o papel que tinha encontrado em seu bolso e jurou para si mesmo nunca mais repetir a noite anterior. Passados os nove meses, descobriu que não era seu filho.




Ps: visivelmente, a música mais uma vez não tem nada a ver.




sexta-feira, 17 de junho de 2011

A love once new has now grown old.

Me dei conta da emergente necessidade de fixar conceitos, contextualizar fenômenos, justificar tudo o que fosse possível e imaginar todas as hipóteses para o que ainda não fora testado. E não gostei disso. Digo isso não de uma maneira séria e repreensiva, mas risonha, do tipo que diz que a vida não é só isso. Não é o fim do mundo quando as coisas acontecem de forma diferente da planejada. Não importa. No fundo, não importa. Eu gostaria de acreditar que eu vou parar de colocar fatos em tabelas e fazer cálculos mentais sobre a probabilidade das coisas. Mas eu me conheço e sei o quanto gosto de ver as coisas categorizadas - não que eu me fixe no sim ou no não, eu tenho bastante abertura para o talvez. Mas isso não satisfaz. Não é tudo. É querer dizer que aquele fenômeno, com aquela pessoa, ocorre sempre do mesmo modo. Mas não. Um dia fez porque analisou os fatores e achou que seria melhor, no outro foi por impulso, mesmo sabendo que as coisas iam ser estragadas. Falo isso porque me peguei vendo um ou dois programas sobre traição, e eu já escrevi aqui muito sobre isso. Que eu diferencio os "tipos de traição" e coisa e tal. E li o que um amigo escreveu sobre não acreditar realmente no amor, essas coisas. Eu não acredito em nada de forma tão concreta. Eu acho. Ando tentando abrir a cabeça, estudar um pedaço de algo oriental que me desperta curiosidade. E o que eu percebi com tudo isso é que a desconstrução dos conceitos acaba sendo muito mais importante do que a tentativa de construir algo novo ou, pelo menos, que pareça ser coerente e verdadeiro. Eu não quero pensar que eu vou casar, ter filhos, viver e morrer com a mesma pessoa - por mais que isso não me pareça ruim no presente momento. Mas eu também não quero afirmar que não vou fazer isso. E é essa mesma questão em vários aspectos. Pessoas consideravelmente doentes têm a mania de aconselhar que se deve viver um dia de cada vez. E eu não vou contestar. É mais difícil mesmo sustentar as idéias por muito tempo, com os constantes desafios impostos ora ou outra. De repente, faz parte do crescimento pessoal essa liberdade, esse desprendimento de uma determinada forma de comportamento - essa liberdade para pensar e agir, sem ter que prestar contas ao espelho. Só posso dizer que eu me sinto bem.

Ps: o título não tem nada a ver. Estava ouvindo Simon & Garfunkel e achei inspirador. 



sábado, 4 de junho de 2011

Coletivo vivo

Acontecimentos importantes. Acho que pela primeira vez me senti parte de verdade de um grande grupo. Sentimento de pertencimento, não de coesão. Ver o grupo se unir, buscar a justiça entre seus membros, pensar ações e ter em vista as conseqüências para tal, encarando tudo de peito aberto - isso tudo é motivo de muito orgulho. E, nesse caso, representa muito mais do que a luta de estudantes. Não são alunos enfrentando uma professora, mas um curso enfrentando a arrogância de outro. Porque o que está em jogo não é uma nota, mas a necessidade de diferenciar os objetivos das diferentes profissões. Nas últimas semanas, aprendi a respeitar mais cada colega que contribuiu para que alcançássemos o resultado que está sendo construído. Conseguimos provar nossa importância, mostrar que temos voz e que não, não somos inferiores em nada. Não somos frustrados ou mimados ou qualquer coisa infeliz desse conjunto de idéias, mas exigentes e empenhados em obter o melhor. Sempre.


Esse início pode ter sido um tanto brega, mas realmente representa o sentimento que tenho vivido nos últimos dias. Porque infelizmente ainda existe gente que pensa que a escolha por outro curso da área da saúde se deu devido a incapacidade de passar em um vestibular para o curso de medicina. E ainda existe gente que baixa a cabeça para tudo, que apenas segue as regras sem refletir sobre o que está fazendo. E, não seria natural se eu deixasse de falar isso, ainda existem pessoas que colocam em risco o todo para suprir suas vaidades. Mas isso continuará acontecendo em todos os lugares. E o que eu devo fazer é respeitar esse tipo de coisa, por mais que eu não concorde. Gritar é se deixar perder a razão. O caminho é jogar xadrez.


Enfim. As mudanças já estão chegando. Palmas para nós.



terça-feira, 31 de maio de 2011

João e Maria



Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?



 
Não sou fã do Chico, mas acho essa música fascinante. E, de certa forma, combina com os últimos tempos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Can't believe how strange it is to be anything at all...

Voltarei a escrever em breve. Tô numa fase mais reticente e menos verbal. Faz tempo. As coisas vão bem. Acho que é o que importa.
Vontade de mudar tudo isso aqui e deixar só os posts que se parecem comigo hoje, mas isso não faria sentido nenhum agora. É importante sair de si para se encontrar, ah sim.

Aí vai uma música maravilhosa, nem sei se já postei. :)



In the Aeroplane Over the Sea
Neutral Milk Hotel

What a beautiful face
I have found in this place
That is circling all round the sun
What a beautiful dream
That could flash on the screen
In a blink of an eye and be gone from me
Soft and sweet
Let me hold it close and keep it here with me, me

And one day we will die
And our ashes will fly from the aeroplane over the sea
But for now we are young
Let us lay in the sun
And count every beautiful thing we can see
Love to be
In the arms of all I'm keeping here with me, me

What a curious life we have found here tonight
There is music that sounds from the street
There are lights in the clouds
Anna's ghost all around
Hear her voice as it's rolling and ringing through me
Soft and sweet
How the notes all bend and reach above the trees, trees

Now how I remember you
How I would push my fingers through
Your mouth to make those muscles move
That made your voice so smooth and sweet
Now we keep where we don't know
All secrets sleep in winter clothes
With one you loved so long ago
Now he don't even know his name

What a beautiful face
I have found in this place
That is circling all round' the sun
And when we meet on a cloud
I'll be laughing out loud
I'll be laughing with everyone I see
Can't believe how strange it is to be anything at all



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sobre algo bom.

"Hi, I'm love with you." - talvez, se eu pensasse em inglês, fosse isso que eu devesse dizer. Mas não faria sentido se eu te dissesse isso considerando o escasso número de palavras que trocamos, apesar de esse tipo de certeza vir muito mais da linguagem não-verbal e de todo o conteúdo abstrato que envolve as interações. Depois que eu gostei de ti com o cabelo bagunçado e a boca suja de leite, pouco poderia ser feito para neutralizar meu encantamento. Eu gosto do teu cheiro e de como parece que todas as estações te encontram ao longo do dia: outono ao acordar, verão durante o dia, primavera ao entardecer, inverno ao dormir. Gosto da tua impaciência, da maneira com que roças a unha na mesa durante o almoço. E gosto de te ouvir cantar, mesmo que isso signifique que minhas músicas favoritas perderão completamente o ritmo original. Então, eu prefiro não te dizer nada - porque falo muito mais de sentidos e sensações do que qualquer outra coisa. Não falo em coisas concretas e imutáveis, mas em pequenas ações que, ao longo do dia, são capazes de transformá-lo. Não mantenho nada em segredo, afinal não há o que esconder. Mas também não te surpreendo com gritos: por que limitar o que nem nome tem?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

@PropagandasDaDepressão

Vi umas duzentas vezes sem querer o comercial da Camila Pitanga em que ela fala que antes só interpretava papéis menores, mas que Rexona deu a ela a confiança necessária para ela ganhar papéis importantes. Eu fico triste com esse tipo de propaganda. Não tanto quanto me deprimo com comercial de cerveja, é claro, mas fico triste. Por mais que isso faça parte do contexto de atores de novela, eu não sei até que ponto eu conseguiria conversar com alguém normalmente, sentada de pés descalços no sofá da sala, sabendo que essa pessoa fica me lembrando a cada 3 minutos na televisão o quanto a vida dela mudou com um desodorante. Apesar de eu pensar que, realmente, problemas pequenos podem tomar uma proporção absurda quando não se encontra a solução, essa propaganda em especial me causa um desconforto, sei lá. Só não ganha daquelas propagandas de produto de limpeza. Meu deus, eu não queria ser uma daquelas atrizes por nada nessa vida! Como me passa infelicidade assistir aquilo. Nem os comerciais de produtos de higiene bucal me deixam tão traumatizada! As pessoas ficam com um sorriso radiante porque agora não precisam trocar a cestinha daquele negócio cheiroso que se põe no vaso sanitário. E outras vibram porque agora existe spray automático de inseticida. Acho que eu precisaria de uns quatro daqueles por cômodo se a minha casa fosse também moradia de mosquitos. Eu sei o quanto é exagerada e cheia de vieses essa comparação, mas as propagandas de perfume são tão melhores. Sério, mostrar pessoas bonitas e moderadamente felizes, com uma música decente, acho que funciona muito mais. Claro, aí não se tenta implantar uma necessidade - é simplesmente um perfume caríssimo que vai te fazer lembrar Paris, algo assim. Mas pelo menos não dá vergonha. Assolan, Vanish, Lojas Marabraz, Casas Bahia... eu não sei até que ponto é bom memorizar essas coisas. Porque eu não tenho uma lembrança agradável, pelo contrário. E isso me fez lembrar das propagandas de remédio, em que comprimidos pra gripe ou dor de cabeça têm seu nome falado por diversas pessoas, como se realmente algum dia alguém fosse fazer um musical no escritório com um Benegripe da vida ou "chamar a Neosa". Bah, que post deprimente. Isso que nem comentei ainda as propagandas de absorvente e as briguinhas entre supermercados. Em primeiro lugar, a Ana Maria Braga não vai no Carrefour. Ela tá sempre na Ilha de Caras ou lançando audiobooks de piadas com o Louro José. E, quanto aos absorventes, sei lá. Eu nunca deixei de fazer nada por estar menstruada e duvido que a maioria das mulheres seja diferente. No máximo evitar a piscina e tecidos brancos, mas nada tão suicida quanto as propagandas mostram. Porque, se a menstruação traz infelicidade, é em função da TPM, das cólicas e de todos os sintomas típicos e atípicos do universo dramático e ansioso feminino - o absorvente é a última coisa que vai me dar problemas. Enfim. Acho que vou correr pra ser uma das 100 primeiras e comprar logo minha Tekpix, meu Cogumelo do Sol e meu UltraCorega, beijos.


Ps: NADA ganha da vergonha alheia que eu sinto quando vejo os comerciais da Dolly e do Pó Pelotense.



segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Reciclagem emocional

Com o que ele me escreveu eu poderia reutilizar folhas e mais folhas para imprimir trabalhos e poupar a natureza da morte precoce. É tanto papel! Outra pessoa poderia dizer que "poderia limpar a bunda com isso", mas aí eu já acho exagero. Mas a verdade é que, se eu e ele lêssemos juntos as coisas que escrevemos certamente sentiríamos um misto de vergonha por nós mesmos e um do outro individualmente. Eram palavras de adolescentes, e adolescentes sempre dramatizam demais as coisas. E, por esse exagero todo - e outros motivos -, não acho que valha a pena guardar essa papelada como se fosse uma peça rara em um museu. Esse assunto começou quando eu precisei imprimir uns slides pra estudar uma disciplina impossível e revirei a casa atrás de mais folhas. E encontrei aqueles rascunhos em caligrafia-de-madrugada, rasurados com caneta Bic preta. Compartilho a idéia de que folhas sem pauta são mais bonitas, então é natural que as frases formem diagonais pelo espaço. Como eu precisava muito imprimir aquele material, peguei umas páginas que eu mesma preenchera. Parecia que assim eu seria menos fria e mais sentimental. Só que, no fim da história, eu esqueci esses slides em algum lugar, o que não me deixa confortável. Eu acho que o romantismo vem justamente dessa idéia de substituir sentimentos por um vazio, para então suprir esse vácuo com algo belo novamente. Quer dizer, se alguém ler o que eu escrevi por aí, pode ser que ache útil e bacana. Mas o fato foi que, mesmo sem querer, foi uma coisa que eu descartei. Claro que eu descartei bem antes, quando deixei de sentir o que eu escrevi que sentia, mas é engraçado pensar nesse tipo de coisa como se pudesse ser materializável. Comecei com as páginas chorosas que nasceram do meu próprio punho esquerdo para, então, tirar da inércia as páginas que ele escreveu com o punho tatuado. E eram folhas e mais folhas, de uma quantidade absurda! Pensei em ligar pra ele e dizer "você não tinha nada pra fazer, ein?", mas como eu sabia de toda a verdade, de como era a vida dele naquela época, seria um tanto sem sentido eu fazer uma pergunta. Ainda mais assim. Me dei conta de que eu nunca mais escrevi aquelas coisas, e isso me deu uma certa tristeza, como se eu estivesse deixando de viver as novidades de um novo romance. Mas isso não durou muito. Comparando os velhos e os novos relacionamentos, é gritante a evolução. E acho que o fato de me surpreender com coisas diferentes me mostra o quanto mudar de ares pode ser bom. Se, antes, as declarações iam e vinham através de cartas inacabáveis, hoje elas chegam através de imagens e cenas que não necessariamente vão estar gravadas em vídeo ou papel, mas que se mantêm na memória e são revividas com os cinco (ou seis, ou mil) sentidos. Pensando assim, comecei a olhar para aquelas folhas com certa pena, como se elas fossem realmente limitadas. Limitadas ao fracasso do esquecimento na gaveta, das traças, do fogo de um fósforo. Nem lembro das coisas que eu disse ou que me disseram. Tanto faz, elas viraram verso de algo mais importante - o presente. E todo esse pensamento meleca sobre reutilizar folhas que um dia significaram declarações de afeto me fez lembrar de uma teoria que nega o pecado e, portanto, o perdão. E o sentido nisso tudo é que é válido agir como bobo, ser adolescente e também se desfazer dessas emoções. Ser e deixar de ser sem culpa. (Mas limpar a bunda com as folhas é maldade!)



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...