Sou do tempo em que o príncipe encantado era aquele que lutaria bravamente pela princesa - ou, pelo menos, sofreria muito com a dor de sua perda. Digno de um final estilo Romeu e Julieta. Quando eu falo em sofrer, quero dizer arrancar os cabelos, chorar soluçando com o rosto vermelho e todas esses gestos dramáticos de quem só consegue expressar o desespero em ações, ainda que pareçam limitadas. O sentimento é tanto que não há espaço para razão, para palavra ou frase. E a recíproca seria verdadeira. Oh, o drama da distância, da saudade, dos empecilhos...
Por mais que a tecnologia tenha melhorado muito os meios de comunicação, eu continuo com um resquício desse velho modo de pensar. Que lindo seria acordar com pedrinhas batendo no vidro da janela. Sei lá, eu não estou falando de flores nem nenhuma declaração necessariamente formal de amor. Mas acho interessante pensar nesse modo "antigo" e mais lento de viver intensamente os relacionamentos. Eu penso que de nada adianta se revestir de armaduras - válido é viver, com todas as qualidades possíveis (e indesejáveis também). Se não der certo, paciência. Mas... antes do "paciência", deve existir a crise. A crise é essencial para a formação da identidade de qualquer um - mesmo que isso não apareça em nenhum livro de auto-ajuda. A graça de tudo é o barulho. Relacionamento sem barulho não existe - onde está o resultado da interação?
Fico pensando que hoje em dia qualquer distanciamento é muito mais acessível - apesar de parecer cada vez menos desejável. É só pegar um avião. Mas e o resto? O que fica? O que vai? Por um lado, penso que devemos fazer escolhas sem deixar que certas questões interfiram na decisão. Mas não sei até que ponto essa frieza é sincera ou mesmo benéfica. As vontades de ir e ficar podem coexistir, é claro, mas acredito que - mesmo que inconscientemente - esse período entre uma coisa e outra compreende o desejo de sentir que fará falta. Você vai por querer conhecer o novo, por querer pertencer a um novo espaço. Mas, para isso, como um conforto ou pura segurança, é desejável que uma parte fique - nem que seja um pedacinho - para manter viva naquele local a presença ou a lembrança de alguém que, sim, é importante.
Por mais piegas que isso seja, eu costumo achar compreensível aquelas cenas de filmes e afins em que alguém vai correndo até o aeroporto impedir alguém de embarcar. Ok, geralmente a pessoa decide isso minutos antes do horário do vôo, mas faz parte do suspense amoroso. Não lembro de ter feito nada parecido e nem lembro de nenhum caso com um conhecido. Mas gostaria que isso fosse mais comum. Que essa impulsividade, esse desespero, fosse mais expresso. Não que as pessoas não possam ir... Elas podem. Elas devem. Mas o barulho deve existir. Quantos relacionamentos não terminam por causa de uma viagem? Claro que eu entendo a realidade, os motivos e todas as conseqüências que as novidades podem trazer, mas questiono até que ponto se deve assistir a tudo isso. De mãos no bolso. Assim.
Talvez o que eu esteja tentando dizer seja simplesmente aquela velha história de dizer coisas reais e bonitas a pessoas queridas em tempo de ser ouvido. Mas eu gosto de pensar que é mais do que isso. Porque dizer já se trata de um segundo passo, em que a pessoa já está consciente de seus desejos e suas necessidades, e expressa isso em forma de ação. O primeiro passo é sentir. Sentir, morrer, se descabelar, chorar, ter pensamentos absurdos e catastróficos. Absorver sem utilizar o filtro da racionalidade. Voltar ao zero, sentir-se sozinho no escuro. Acho que todo mundo deveria se sentir assim um dia para, então, experimentar o amor.
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