quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ex-amigos II



Tem um assunto sobre o qual venho pensando que abrange uma série de pessoas que (ainda) são próximas ou que um dia já estiveram mais envolvidas comigo. É justamente sobre essa distância que, com ou sem motivo, começa a existir do nada. Há oito anos atrás, meus amigos eram outros. Diria que uma pessoa de todas as outras permanece intocável, com seu lugar garantido próximo ao "topo da pirâmide". Sim, é claro que existe a pirâmide. Para alguns, as pessoas mudam de posição ao longo dos andares o tempo todo; para outros, a organização ocorre de forma diferente. Eu acho que tudo depende do momento em que está se vivendo, mas há uma forte influência de experiências anteriores. "Bons amigos não deixam de ser bons amigos". Não sei se essa frase poderia explicar o que eu quis dizer. Ah, é aquilo de que talvez tua colega da faculdade entenda melhor algum problema teu em função de fazer parte de uma porção da tua realidade - mas teu melhor amigo de infância não vai ser menos importante, afinal ele te conhece muito bem e tralalá.

Na real, eu estou bem confusa. No fundo, não acho que o que mate a amizade seja a famosa distância (física). De repente, isso é uma desculpa comum e é mais fácil usá-la do que encarar uma série de outros fatores. A natureza da pessoa deve ser levada em conta. Eu disse isso por um motivo extremamente pessoal e egoísta, porque eu não faço o tipo que procura as pessoas mais do que uma vez ao ano, apesar de me importar loucamente e sentir saudade e tudo mais. Eu me adaptei a ficar mais sozinha, o que não quer dizer que eu não precise ter pessoas ao meu lado. Essa necessidade é diferente da dependência - que eu considero algo destrutivo. Falei isso porque já fui bem criticada quanto ao meu jeito "não procuro lifestyle". Não estou querendo parecer teimosa ou incapaz de ceder ou mudar, coisas assim... Eu acredito que amizade verdadeira não tem isso de "cobrança", mas intimidade: confiança para entender que "tudo bem" uma pessoa procurar a outra por qualquer motivo, a hora que for, para qualquer coisa - sem medo da resposta. Mesmo que aconteça o inevitável, que os amigos já não pertençam mais à rotina como no passado, eles vão se sentir acolhidos nos poucos momentos vividos juntos. É nisso que eu acredito. Existe o estranhamento, as diferenças, as incompatibilidades de horários, de opiniões, de gostos musicais ou de filmes ou de livros. Mas o "algo maior" supre isso. É assim que deveria ser.

Encontrei uma pessoa na rua ontem e não soube, na hora, se um cumprimento seria bem-vindo. Cheguei em casa e me deparei com uma "discussão" (conversa, sei lá), que me deixou um tanto chateada. Vejo as fotos espalhadas pelo quarto e penso "oh, a fulana! nunca mais soube da vida dela", coisas do gênero. Por um lado, tudo isso me deixa angustiada. Por outro, sinto vontade de jogar tudo para o alto, de não ter mais que encarar esses fins reticentes e silenciosos. Finais... não sei até que ponto existe mesmo um ponto final. Seria mais prático, talvez, se existisse um contrato e a gente soubesse quando nossos relacionamentos vão expirar [?]. O fato é que a pessoa-que-eu-vi-na-rua me deu um oi e um sorriso amarelo, e eu fiz o mesmo. E eu estou evitando a minha discussão com outra pessoa. Acredito que isso seja considerado um defeito, apesar de eu não concordar, mas eu tenho a mania-mulherzinha de pensar que o outro deve entender o que fez de errado comigo. Se eu percebo que existe uma intenção, mas que ele não consegue entender porque eu reagi de forma negativa a alguma ação dele, eu explico, é claro. Mas primeiro existe o "reflita, ciclano". Haha, que sádico isso. Enfim, estou evitando a tal discussão porque, pra mim, a relação já estava morta e enterrada. Então, já não tenho o mesmo carinho e a mesma paciência que teria tempos atrás. Eu não preciso de mais drama do que eu já tenho - não preciso e nem desejo. E, apesar de acreditar no "perdão" e pensá-lo como algo nobre, acho que há limite pra tudo sim. Eu sou a rainha do rancor, não é tão fácil deixar tudo bem apenas dizendo "ok, desculpa" mil anos depois do ocorrido, como quem diz "tá, tá, eu me arrependo por essa coisa aí que tu disse (que eu nem lembro o que foi, na verdade), vamos voltar logo a ser o que éramos". As coisas não funcionam assim MESMO.

As fotos a gente esconde. Guarda numa caixa, mostra pro namorado, inventa uma legenda, sei lá. Elas continuam presentes, mas não tão à vista. Já esses sentimentos de "não sei o que esperar de tal pessoa" permanecem por um longo tempo, até termos certeza de que ela já não se importa. Acho que pra mim esse é o fato crucial. Não faz sentido eu me importar e não haver reciprocidade. Já não vejo isso como sinal de egoísmo, mas praticidade. O negócio é levantar a cabeça e tocar a vida. Quando se percebe uma intenção de reaproximação, existe a comoção. Existe a nostalgia, as lembranças boas (talvez mais brilhantes do que as ruins). Existe a vontade de voltar no tempo, a saudade boa. Mas aí colocamos os pés no chão e temos de encarar aquela pessoa como uma nova: ela mudou, nós mudamos, tudo mudou. Restam as tentativas de adaptação... E, nesse meio tempo, há outro fator - talvez esquecido na maioria das vezes - que é primordial: "por que tentar de novo?". Solidão não me parece um bom motivo. É meio triste dizer isso, mas acho que existe discretamente o predomínio da idéia "em que podemos ser úteis um ao outro?" - quando a resposta não parece razoável, não há acordo. Sei lá, estou confusa. Sentimental, mas tentando enxergar tudo de maneira racional. Uma coisa que me marcou muito foi o pensamento de que há uma enorme diferença entre "ser alguém" e "ser o alguém". Ok, isso vale mais para relacionamentos amorosos entre casais e tralalá, mas acho que cabe aqui também. Quero que a pessoa goste de estar próxima de mim por eu ser quem sou, não por eu ser compatível com aquela situação. E lá vou eu com a idéia de 'pessoa substituta'... Na real, o texto se transformou em algo nada neutro, o que não era a intenção inicial. Já escrevi sobre isso há quase três anos, o que me faz pensar que esse problema de se afastar das pessoas e do mundo é um tanto crônico.

"most of our lives we try so hard
to find the time
i won't care for you
like i'm really supposed to
there are things i'll do
that could really hurt you
don't you just love goodbyes?"

Um comentário:

Aline Leitão disse...

Nossa! Estou passando por isso :/
Minha melhor amiga vai morar no Sul, mas sabe, já fazem uns dois anos que mesmo ainda sendo quase-vizinhas, quase não nos vemos e temos tempo pra bater papo. E mudar de cidade mexeu comigo, porque durante doze anos tive as mesmas boas amizades que hoje só vejo por fotos e trocamos recados monossilábicos. e isso é tão comum :s


se puder, visite o http://abracoseapernas.blogspot.com/

vou gostar :P

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