segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Ilha

Para onde a gente vai quando não está aqui? Não falo da morte, mas do ímã que atrai nossos pensamentos mais complexos - aqueles que nos transportam para outra dimensão, além da realidade. Não é difícil se perder de uma conversa e navegar até esse lugar misterioso, enquanto a pessoa a sua frente parece mover as mãos e a boca sem fazer som algum. E, então, você concorda com as idéias dela, que não ouviu, com um sinal positivo com a cabeça ou uma palavra qualquer. Por mais desprezível que esse ato pareça, isso deve acontecer com todo mundo.
Será que todos vão para o mesmo lugar? Para a mesma ilha isolada? Será que a gente só entra dentro do nosso corpo, ainda que inconscientemente, e fica preso nos nossos limites? Será que cada um tem sua ilha isolada? Eu dava o nome de 'other side' mesmo, pro meu cantinho. Até por isso a extrema identificação com a música da Kt Tunstall. Tá, fora o dramalhão todo da música. Eu sempre me senti daquele jeito, mas não era isso que eu pretendia falar.
Sabe, talvez exista aquilo de você encontrar uma ou outra pessoa que compartilha do mesmo pedacinho de terra. Sabe, que tem o olhar semelhante, ou sentimentos que completam a idéia do vazio. Não é estranho? Mesmo o vazio é composto de nada... Ok, não vou insistir nessas idéias sacanas... Eu acho engraçado isso, de encontrar pessoas com quem tu se sinta à vontade num nível diferente, porque tu sente que existe mesmo a tal da compreensão e tu não precisa falar em outra língua. Sabe, isso é tão bom... não precisar formular tudo e simplesmente sair falando e falando... tem o lance de ser espontâneo e, claro, te faz falar bem mais do que tu pensou que falaria.
Algumas pessoas dessas são tipo a Alice, do Closer, que tu encontra no meio da multidão e tu olha por um segundo e já sabe que elas são especiais. Como se elas tivessem auras da mesma cor, que destoassem do resto. É tri pensar assim. Pensando em músicas tipo Belos e Malditos (Capital Inicial) e papéis de possíveis filmes ou livros, que retratam aquela pessoa-semi-anjo, que faz as coisas melhorarem (ou pelo menos tenta), sem necessariamente usarem isso para se auto-promoverem, sabe? Eu li não lembro onde que 'a generosidade perde seu valor quando você espera um reconhecimento', algo do gênero. Achei bem verdadeiro.
Ah, vamos, eu não sei o meu papel. Eu pensei que a gente só descobria uns segundos antes de cruzar o outro lado - realmente para a morte... "Ivy, Ivy, a vida não é um filme de duas horas".


domingo, 30 de dezembro de 2007

retalhos

eu ia começar o post falando de algo aleatório, tipo a migração das lagartixas. mas eu não creio que elas migram e, se fosse o caso, contaria com detalhes o mistério da dona barata aqui de casa. ela morreu (quer dizer...) há uns dois dias, e seu suposto cadáver saiu andando e desapareceu. reapareceu hoje, pelas três da tarde, em frente ao lixo deitadinha e feliz. daí pensei em criticar terceiros, pela vigésima vez, ou falar do verão. que eu acho péssimo, mas tudo bem. fora essas festas de fim de ano e essa loucura toda. bem vindo ao capitalismo, aos falsos valores cristãos e blablablá. cara, tem gente tão cara-de-pau por aí. do tipo que faz uma rebelião por algo mínimo, que te põe no lixo, pisa e joga molho em cima e depois fica por aí bem alegre, te mandando convites para festas e se sentindo ótimo por tentar se meter no seu mundo. poxa, e tem gente que aceita isso. eu não entendo, não entendo mesmo. bah, eu fiquei feliz de não ter sido vítima daqueles depoimentos de fim de ano/ formatura ou enfim, que não passam daquelas correntes que todo mundo já decorou e que, apesar da mensagem bonitinha, falemos a verdade: são um porre. letras rosas são um porre. sei lá. eu acho tão legal palavras 'próprias' e sinceras, do tipo "não sei o que dizer, mas você até que é tri". ah, eu adoro pessoas nervosinhas e coisas assim, porque soa tão mais meigo e especial. mas ok. bah, vi um filme hoje tão afudeee. Adrenalina. tentei pegar o filme mágico do guri esquisofrênico - coelho, mas não fui feliz. ah, sei lá. muito boas as tiradas do filme, as cenas clássicas e as mega psicodélicas. muito afude. muita vontade de ter um dia desses, com armas e mafiosos e carros roubados e muita correria. no sentido filme, lógico. onde tu é gostoso, sai vivo ou, pelo menos, morre de um jeito legal. tá, talvez eu quisesse algo mais oriental, tipo um samurai. mas ah, eu não sou digna disso também. me contentaria em ser o pai do cara (Drew), do Elizabethtown, mas eu não quero ser cremada. ah, não mesmo. então que me deixem de cobaia para estudos, mas ah... tá, eu queria um daqueles clássicos: caixão, gente bonita de preto, óculos escuros e choro. haha como se eu fosse uma diva. tá, é que eu não fui em muitos velórios, então não tenho noção de como funciona a coisa. pensando bem, prefiro morrer sem saber. enchi o saco. vamos falar de... borboletas! cara, vi umas oito hoje. elas estão se multiplicando! bah, baixei um filme jurando que era legendado, mas as pessoas resolveram dublar quando eu cliquei 'play'. que broxante.

ok, eu fui pendurar meias. vou postar isso assim e depois escrevo algo realmente divertido.
bem feliz que eu estou com algumas coisas e tópicos de hoje. x)



sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

The Wall

"No meio de uma grande alegria, não prometa nada a ninguém. No meio de uma grande fúria, não responda a carta de ninguém."

INTJ:
"[...] Outras pessoas podem ter dificuldades em lhe compreender, achando que você é uma pessoa distante e reservada. Na verdade você realmente não demonstra muito o seu afeto, e não costuma oferecer às pessoas elogios ou críticas positivas o suficiente – ou pelo menos na quantidade que essas pessoas necessitam ou desejam. Isso não significa que você não tenha um afeto real ou que você não se importe com as outras pessoas, mas que você simplesmente não sente a necessidade expressar essas coisas. Outras pessoas podem erroneamente achar que você seja uma pessoa inflexível e que não tenha uma cabeça aberta para idéias diferentes das suas. Nada poderia estar mais longe da verdade, pois você se compromete a sempre encontrar, de uma forma objetiva, a melhor estratégia para implantar suas idéias. Assim, você está quase sempre aberto a ouvir sobre uma maneira diferente de fazer as coisas.
Quando sob um bocado de estresse, você pode se tornar obsessivo com atividades repetitivas sem sentido, como por exemplo, se preocupar ter bebido líquido demais. Você também pode tender a se focar em detalhes que você normalmente não consideraria importantes para seu objetivo maior. [...]"

Esses dois anexos aí são de posts-rascunhos anteriores. Escrever de madrugada nem sempre é uma boa idéia.

Ah, eu fiquei pensando num monte de coisas. Tipo aquilo de ser legal o tempo todo. Ou a velha história das máscaras - que podem destruir ou promover uma pessoa. No fundo, a gente sempre espera encontrar pedacinhos nossos em alguém(s). É natural querer deixar marcas, ser lembrado e - por que não? - querido. Ah, não sou só eu que tem sonhos heróicos e coisas do gênero. Difícil é sobreviver às distorções no sentido das ações. A interpretação alheia poder levar todo o trabalho ao chão. Falando e fazendo as coisas certas, se alcança o trono facilmente. E eu perdi o rumo do assunto, porque eu comecei a escrever e ficou chato. Parabéns, Ivy.
Pensando seriamente em como deixar de ser uma parede (paredes não se movem, apesar de sustentarem as coisas. elas ganham importâncias distintas se comportam quadros ou rachaduras, podendo ganhar extrema beleza ou não cumprirem mais do que seu papel, talvez numa salinha de escritório). Sabe, às vezes faz bem um pouco de tempestade. Ando tão ligada a alguns filmes. Sensação de que o tempo passa, as pessoas passam e eu fico. Ou aquela mistura de Claire, Jenny, Clem, Claudia. Pessoa substituta, no mínimo. Ou sabe, aquela que está sempre ali, sempre observando, sempre vendo as coisas acontecerem - e nunca vivendo. Tinha uma pergunta infeliz dessas, no teste do Jung: algo do tipo se você interpreta a vida ou se vive.
Eu gosto de quando as coisas ganham um ar melancólico, nostálgico. Talvez o meu papel seja realmente esse (?).


segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Oi, merda

puta merda. tô superirritada. cara, porquê vizinhos existem? segundo algum cara idiota, que provavelmente mora numa casa afastada no campo, para pedir açúcar emprestado ou se socorrer em casos necessários. acontece que reunir a família de manhã, naqueles pontos da casa que dão um puta eco, é a idéia mais infeliz que existe. crianças que não falam direito ainda, adultos que nem estimulam isso - porque falam como bebês - e, enfim, barulho por nada. daí eles acham que têm direito sobre os horários que eles não respeitam. querem ouvir música alta de madrugada? acho que sim. já fiquei em guerra nas outras férias e nem me importo de começar de novo. que saco, que saco.
ainda chega um merda no msn. porra, pra que raios uma pessoa sei lá, de Natal, adiciona uma que mora mega longe? ok, isso soa óbvio... e é tempo de natal mesmo, ho ho ho. daí tá. eu me presto, porque eu adoro discutir com esses estranhos quando eu estou irritada. eles falam coisas sem nexo e não entendem nenhuma pergunta que tu faz. poxa, existe tanto profile-pinto e profile-bunda, porquê raios eles não se encontram e ficam felizes para sempre? fora que eu realmente não entendo algumas coisas do universo masculino - e eu odeio dizer isso, odeio mesmo. gosto de me sentir do outro lado da coisa e não entender as mulheres, mas hoje eu estou no meio.
legal, eu estou aqui no computador e os vizinhos vão ficando quietinhos. agora que eles deveriam fazer escândalos de alegria, pular e bater palmas porque devem ter acordado a última pessoa que ainda conseguia dormir no prédio, eles ficam calmos e meigos. que ironia do destino, oh god! me senti bem de não ter bloqueado o cara - no sentido de ser bem grossa e chatona e fazê-lo desistir de falar comigo. putz, que merda, eu sou arrogante. mas, ah, a maioria das pessoas merece. agora lembrei aquilo, de "cotas para os bons", e no fundo não rola. porque os bons se tornaram os espertinhos. nem todos os bons são bons porque querem ser assim. ás vezes é acidente. sabe, pessoas inocentes demais ou pessoas que só conhecem o negativismo do outro lado, sem pensar que o equilíbrio é sempre melhor que qualquer extremo.
ok, nesse ponto os vilões se ferram, porque eles não são equilibrados. eu fiquei discutindo com o cara só porque ele tinha um desses nicks positivos e quase-religiosos. bem ranzinza e estraga prazeres que eu sou. claro que eu não cheguei a mencionar isso pra ele, porque ficamos entretidos enviando e recusando convites do tipo 'vamos escutar nossas vozes'. mudando de assunto, acho péssimo aquelas pessoas que divulgam sinal de luto na internet, tipo no msn, no orkut, essas coisas... o problema não é nem colocar, expor pra deus e o mundo - vejam, como ele é meigo e atencioso, vejam como ele está sofrendo tendo que ver quadradinhos pretos até em horário de lazer... -, mas continuar a agir normalmente (ou pior, forçar toda uma situação dramática) e, pouco tempo depois, trocar de novo os nicknames e fotos. que coisa fingida, fácil, temporária. vai levar uma for no cemitério e fica quieto. vai chorar num cantinho, ver tevê, mas não posa de sensível.
ah sim, me esqueci de mostrar minha insatisfação para com pessoas que necessitam de outras para resolverem seus casos amorosos e todos os tipos de pegações. a não ser que tu saiba que vai ficar de vela e não tenha condições de pensar em ninguém para você levar contigo, eu acho o fim pedir auxílio-biscate para os amigos. eu falo biscate porque, daí, o troço é garantido. ninguém vai levar um pé-na-bunda e todos saem felizes - ou não. que coisa fraca! concordo que é uma injustiça, que os homens tem que correr atrás e aguentar a manha feminina... só que as coisas não foram feitas para serem bonitinhas mesmo. a própria Eva já não era um flor. falando em flor, hoje é dia de amigo-secreto (?). cara, que coisa descoordenada aquilo... ainda bem que eu tirei a minha mãe. acho que, junto com a minha vó, é a única desse lado da família que eu gosto.
sei lá. eu fico pensando numas coisas... tem um cara - eu não gosto dele - que disse que um gay chegou nele, só porque ele sabia que o cara era gay e estava próximo. considere isso uma mentira. agora me diz porque raios as pessoas adoram essas coisinhas bestas? ou aquilo de fingir chegar no topo, no primeiro lugar, de fazer as coisas erradas e ganhar um glória que você não merece? tudo bem, talvez eu seja meiga nesse ponto, mas é uma coisa que eu não absorvo. o mundo gay está cada vez mais próximo de mim. são pessoas, lugares, uma merda duma alça de uma bolsa que tem estampa de arco-íris. e daí? sério, as pessoas têm um medo desgraçado de uma coisa tão besta. e eu odeio aquela figura drag queen, algo misturado com zorra total, que é criado em cima do assunto. que mal tem se o cara dá o cu? (daí a pessoa que tá lendo dá uma risadinha ou pensa que a resposta está na cara - "ou no olho do cu, hahaha") ok, pergunto de novo: que mal tem se o cara dá o cu?
e então as pessoas organizam aqueles 'supereventos' para reunir a família, os amigos, os colegas de trabalho, os queridos que conheceu na igreja, os guias de viagem, a tia que fez o parto do afilhado, e o diabo... que saco. que mania de juntar tudo. eu chamo isso de egoísmo. ninguém quer saber se as pessoas vão se sentir bem, só vão convidando. a moral é tu ir se se sente convidado. para comer e beber, que seja. que tédio, não tenho cabeça de penetra de festa nem nada do gênero. e hoje vou rezar com estranhos. já não chega o fato de ninguém perguntar se eu sou católica, terei que fazer isso com um falso afeto para com pessoas que conhecerei hoje e que, mesmo estando há pouco tempo dentro do círculo familiar, têm mais importância do que eu. isso é muito irritante. alguém sente vontade de brincar de amigo-secreto assim? fora que tu só gasta dinheiro e paciência, é incrível. bom, vou me retirando, porque eu tenho que lavar louça. adoro lavar louça. sem ironias. vou ouvir música, cantar e dançar ensaboando pratos (que lindo, minha gente!). pensando seriamente em chegar de madrugada e fazer um showzinho para os vizinhos (muahahaha)... me aguardem!
ok, odiei essa despedida.
*CORTA*


O que dizer da Ivy?

"Sempre que ensinares, ensina a duvidar do que ensinas." (Ortega y Gasset)

"Ao papel dá pra confiar tudo, desde que se queime o que a ele é confiado. O papel, como nós, não passa de um safado!" (Silvério R. da Costa)

Eu detesto essas coisas padronizadas que a gente costuma dizer. Desde "parabéns" no aniversário até, sei lá, início de depoimento do tipo "o que dizer do fulano?". "Continue sempre assim/ sendo essa pessoa blablablá" também é péssimo! Porque a pessoa mudaria de uma hora pra outra? Porque parabenizá-la por mais um ano? Ok, soa óbvio, mas não pra mim. Não vejo exatamente lógica nisso... como se fosse muito difícil sobreviver - desprezando as criancinhas africanas e afins. "O que dizer do fulano?" Não diz nada, porra. Que saco. No fundo ando me irritando facilmente com esse excesso de elogios. É aquilo do post anterior: as pessoas, nossos amigos e tal, não são perfeitas. Eu fico incomodada de receber elogios que eu não encontro.
Eu estava meio indignada com uma situação clássica, do tipo pessoas que criticam ao cubo uma coisa e uma pessoa, daí decidem experimentar a coisa para poder inventar coisas sobre a pessoa e ter "argumentos" a partir da experiência. O tempo passa, nada acontece e as pessoas resolvem pedir auxílio para a velha pessoa, para experimentar a coisa. Pode ter ficado confuso, mas não importa. Talvez eu seja ciumenta demais, possessiva, egoísta, o que for... mas eu não tenho cara de fazer uma merda dessas. Não é nem questão de orgulho, mas semancol.
Eu tenho tido dificuldade em fugir de programas de casais. Ui. Tá, sério: se as pessoas não se conhecem, não são do mesmo círculo de amigos ou não têm nenhuma inicial-grande-coisa em comum não rola. Eu fico tímida, todo mundo fica sem assunto, os casais ficam loucos para irem para seus cantinhos separadamente e, enfim, é um cartão de embarque para o famoso silêncio constrangedor. Cara... amigos para um lado, bofes para o outro. Simples, prático, não dói e todo mundo fica feliz.
Eu ia tetiar sobre 'quem sou eu', mas fiquei lendo históricos de msn e perdi a vontade. Tenho que fechar 9 posts até 2008 para seguir meus planos de simetria. Adiôs!



quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Tribo 2008

Um Grande Amigo
Hoje em dia muito se escreve sobre amigos e amizade. Ditam comportamentos, agradecimentos, à tona centenas de palavras sustentando - numa imposição disfarçada - que amigo é isso ou aquilo, que faz assim ou assado. Para ser meu amigo não precisa falar só na hora certa, ouvir sempre com atenção, partilhar as dificuldades... Tudo sem esperar retribuição. Não quero onerar o meu amigo com a circunstância de um comportamento que às vezes nem eu mesma consigo. Pra ser meu amigo não precisa estar sempre ao meu lado nem contar todos os segredos. Também não precisa emprestar todas as coisas nem amparar todos os meus medos. Cada um tem seu jeito de se sentir, seu tempo de aprender... Sua forma de viver. Se eu aceitar tudo isso em você e você aceitar em mim, então seja bem-vindo! Sua sinceridade faz de você meu grande amigo.
(Rina Mári Furuta)

Por acaso, o textinho estava numa agenda, no dia do aniversário da Anita. :)

Dia da Mentira
Durante muito tempo em minha vida eu me gabava de sempre dizer a verdade. Havia um orgulho pessoal, uma afirmação de algo em que acreditava como um princípio ético fundamental. Hoje reconheço que nem toda a verdade pode ou deve ser dita, porque muitas vezes não vai ser compreendida ou sequer ouvida realmente. Mentir, em alguns contextos pode ser a alternativa mais inteligente diante das circunstâncias.
(Alex Xavier)

Grupos para o pior
As maiores barbaridades que se possa imaginar são cometidas em grupo. Do fascismo à fofoca, do preconceito ao racismo, nada como um grupo que se pretende homogêneo para estimular a intolerância e a crueldade. [...]
(Décio Mello)


sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Xadrez

Talvez eu não devesse me importar. Mas é um saco ver que as pessoas sempre exigem mais - não necessariamente um saco elas quererem mais de você, mas o fato de nunca ser o suficiente. Eu vou dizer "Bom dia, meu nome é Ivy. Estranho, eu sei (risada marota)." Vou dizer que ando estudando, que gosto de desenhar e acrescentar alguma coisa besta. Elas não estão interessadas nisso. Você pode ser um V (V de Vingança) sem precisar de um nome. As coisas que a gente sempre diz são as que menos importam. Numa entrevista de emprego vão te perguntar o que você já fez, não querem saber se você acha que o mascote da loja tem uma cara realmente publicitária. O esquilo do Zaffari não tem cara de bobão, como aqueles animais animados estampados em caixas de nuggets. Mas não querem saber o que você acha disso. No fundo as melhores conversas são aquelas realmente espontâneas, onde você fala sobre o que lhe vier a cabeça e a pessoa do seu lado só te acompanha, não te olha com aquela cara de "ela não é normal". Essas caras são as mais idiotas. Dá muita vontade de não ser normal mesmo, só pra poder me sentir feliz e longe de ter uma cara dessas. Silêncio é legal. Fica constrangedor, de repente, quando você está acompanhado. Isso é relativo, mas é verdade na maior parte das vezes. O ruim é que as pessoas estão sempre catando umas as outras, isso tira a naturalidade da coisa. É estranho ter de conseguir sucesso dentro dos padrões capitalistas e, ainda assim, dar a mesma (ou maior) importância à vida emocional. Você têm x anos para encontrar a pessoa ideal. Você nasce e está dada a largada. E aí você pensa que tudo vai fazer sentido. Talvez sim, talvez não. Depende da sua visão. É estranho jogar a responsabilidade de achar a tal da felicidade em cima de outra pessoa. "Você não pode me desapontar, me fará rir e vai gostar de fazer tudo o que eu gosto." Eu fiquei pensando em toda a conversa... pensei no Holden. É fácil de se identificar com ele. Agora eu percebi. Me senti besta quando eu não tive nada a acrescentar. Só coisas abstratas. Eu me sinto compreendida, deprimida, como a maioria das pessoas deve se sentir quando lê. É legal aquilo do livro servir para várias gerações. Que droga! É disso que eu to falando! (Uma janelinha desconhecida do msn piscou, eu abri e o convite de webcam já tinha sido aceito automaticamente. Eu não sei o fascínio que os homens têm com seus pênis. Que saco. Tudo bem que é o que eles têm "pra fora", já que as mulheres têm seios e nádegas mais avantajadas. Enfim, que saco. Talvez eu preferisse quando ainda era moda casar virgem. Não existia webcam.) Agora me estressei. O dia foi incrível, incrível mesmo. Voltei pra casa de lotação. Ela demorou um tempo para sair, porque estava cheia de baratas e pessoas gritando dentro. Umas três desceram. Sei lá, foi uma situação nojenta, onde você fica irritada com as baratas, o serviço público, as pessoas porcas e as pessoas que gritam. Mas eu não quero falar disso. Eu parei de tentar fazer perfis legais no Orkut. Primeiro porque o site já é um erro. Exposição por nada. Daí você fica limitado a escrever coisas e tentar agradar os possíveis leitores. Ou não. A merda é que ninguém é verdadeiro. Seria melhor se todo mundo fosse franco. Os mais sensíveis sofreriam mais inicialmente, mas depois aprenderiam a equilibrar as diferenças também. Então você perde a vontade de chegar e dizer coisas aleatórias, que te fariam uma pessoa talvez única. Algumas coisas são realmente melhores quando só existem no nosso pensamento. A delícia das coisas está na nossa interpretação.
Pensando se eu sou branca, preta, cinza ou um jogo de xadrez.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Verdades chatas

"Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale." (Filtro Solar)

E existe a teoria de que explicar seus erros para alguém, num pedido de desculpas, é o mesmo que se livrar de parte da culpa - já que a responsabilidade agora não está só no que aconteceu, mas no então segredo ou enfim. Como se a formalidade obrigasse a existência do perdão a partir do instante em que uma verdade se escancarou.

"Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou um via um lado das coisas e outro um outro lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso dessa dupla existência de verdade." (Fernando Pessoa)

"Preocupe-se mais com sua consciência do que com a sua reputação. Porque a sua consciência é o que você é, e a sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam, é problema deles." (Sei Lá)

Tetiando. É mais difícil dizer que você gosta de uma pessoa ou que não gosta? No sentido de que o sentimento não é recíproco e lalalá. Cara, adoro choradeira. Não que eu pensasse que eu fosse viver minha vida sonhando e/ou vivendo um grande amor ou coisa do tipo. Sempre me preocupei mais com o lado capitalista da coisa. Acho o máximo aproveitar as famosas pequenas coisas, mas ainda não sei aceitar muito bem aquela filosofia de "morrer por amor" dos filmes antigos. Ok, não sei se foi isso que eu quis dizer. Só que eu acho que as grandes coisas, tipo esse assunto mais emocional, só são boas e grandes porque aconteceram repentinamente. É claro que você vai tentar fazer algo para melhorar a situação, só que antes disso houve uma ação espontânea. Ninguém precisou de poções estranhas do amor, nem fez o golpe da barriga ou coisa que o valha para isso acontecer. E já que eu pensei nisso: não não, sem intervenção divina, por favor!

Hoje eu estava tagarelando about. Religiões são um saco. Quer dizer, toda a história escrita e repassada por gerações e gerações, toda a cultura, a arte e a intenção é realmente boa e comum. No fundo, apesar dos códigos serem diferentes, a mensagem final é semelhante. Os deuses amam seus queridos filhos, odeiam as cagadas que eles fazem - e, para essas, há punições -, são egoístas e pregam a solidariedade. Tudo bem cada povo é um povo, mas essas diferenças ideológicas são coisas do passado. O que mais me irrita é a interpretação literal que é feita sobre a Bíblia, por exemplo. Que saco. Hoje em dia, as coisas estão diferentes. Vestido branco não significa pureza. Mesmo os mais "crentes" não seguem sua doutrina. Isso é muito, muito irritante. O batismo virou uma espécie de status, eu acho. Não é essa a palavra, mas é tipo isso... porque não importa o que o outro faça da vida, se ele não tem as mesmas crenças ele é realmente um imoral. Tá, esse conceito entra em vários fatores da sociedade.

A fé é para poucos. No fundo, toda a idéia de fazer coisas bonitinhas e não magoar seus coleguinhas é uma ilusão de que no final vai ser tudo melhor. Aquilo de poder ter razão em implorar pelo julgamento divino na hora da morte. Quer dizer, ninguém quer morrer sozinho. Não existe o depois. Ok, entramos nas suposições da Ivy... mas enfim, não existe depois. O ciclo tende ao infinito. Morrer, nascer e por aí vai.

E então você nasce e te enchem de novas idéias. É sério, as crianças realmente perdem a inocência logo após nascerem. Os valores das pessoas ficam competindo entre si. É uma batalha de pensamentos que deixa qualquer um zonzo. Ainda que você realmente pense que vai livrar seu filho do mal se ele aprender a rezar antes de dormir ou se deixar de comer carne, essas atitudes são extremistas para um pequeno ser que não teve a opção de escolher o que quer. Se a questão é a idade, respeitar isso seria a solução. Mostrar as correntes existentes, não impor barreiras na visão do pequeno... é claro que ele vai ser influenciado, só que é menos injusto. Tudo bem, isso pode vir a comprometer todo o conjunto cultural mundial - mas, pelo menos, ele não vai se tornar um pseudo-alguma coisa. Se optar por seguir a ideologia budista, ele irá atrás disso por livre e espontânea vontade. É muito mais bonitinho e dá menos trabalho para a família.

Ok, isso tá chato. Eu gosto de forma especial do trecho do Filtro Solar que eu colei lá em cima. E aproveitando alguns tetos mais recentes, sei lá. No fundo eu me indignei com umas coisas. Não me coloque na parede, please. Ser ouvida é uma coisa, mas exigir informações que não condizem com o que precisa ser dito é algo extremamente irritante. Confundir uma pessoa que fala bastante com uma que fala qualquer coisa é uma barbárie. Eu adoro perguntas, adoro mesmo - só que existe um limite. Se tem uma coisa que me intriga é o excesso de confiança que as pessoas depositam nas outras. E alguma contradições, do qual eu mesma compartilho. Do tipo achar incrível e mágico uma pessoa ser fechada, misteriosa e diferentona - sendo que o que eu quero é conhecer realmente ela. Tá, não é necessariamente uma contradição, é algo até que bem comum. Você encontra o mapa que o leva até o tesouro, é natural querer abrir um buraco no lugar do x vermelho.

Tudo bem, eu só queria dizer isso que eu disse. Não precisa ser encarado como um sermão só que, por mais feliz que eu me sinta em responder as coisas, eu ainda tenho minha intimidade e gostaria de guardá-la para mim - ou reservar as melhores palavras para as pessoas certas. Tudo bem, soou durão. Hmn... É só que eu gosto de falar complicado, porque essa é a minha maneira de disfarçar algumas emoções, camuflar algumas informações essenciais para compreender o todo e, enfim, modificar a história. Eu odeio ter que explicar cada coisa quando eu não queria nem ter tocado no assunto. Pensando bem, eu mesma me chamaria de mentirosa tendo em vista aquela idéia de que "meia verdade é uma mentira inteira", ou sei lá. Aquilo de que omitir e mentir podem ter o mesmo significado. Mas, pra isso, eu penso num trecho de música dos Engenheiros que, por sinal, eu adoro: "quem mente antes diz a verdade". Concluo dizendo para ignorar esse último parágrafo, porque eu me atrapalhei e pus em jogo a consistência do que eu digo.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Blé.

Eu sou uma dessas pessoas que sempre estão muito cansadas para fazer algo ou que sempre se desculpam pela ausência alegando estar trabalhando, sem tempo, essas coisas. A diferença é que eu não trabalho, tampouco sou exatamente ocupada para poder me dizer cansada. As desculpas são efeitos de educação, que fazem a gente inventar pequenas mentiras para não ter de dizer o óbvio: "estou sem saco", "prefiro dormir vendo tv", "hoje vou sair pra dar uns pegas, beijomeliga", "hehe, no money", "eu iria se soubesse que ia me sentir bem", "tô gorda" e por aí vai... Sabe, é a segunda vez, a repetição de uma fase estranha com as mesmas pessoas de outrora. Daí você pensa "vou me dar uma chance de tentar de novo", ou simplesmente desiste de ignorar as propostas e parte para uma nova tentativa, que nem você acredita que dê certo. Sei lá.
Agora fiquei sem saco e com sono. Preciso de um "pecado original", bem nome de filme. Algo só meu...
Deletei o post anterior porque ele foi de muito mal gosto.


quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Livro do Desassossego

Eu tenho isso em uma folha. Achei tão realista e legal. Enfim, queria postar porque me identifiquei e porque a folha pode sumir por aí.
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A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação. O que sinto, na verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e quanto mais profundamente o sinto, tanto mais incomunicável é. Para que eu, pois, possa transmitir a outrem o que sinto, tenho que traduzir os meus sentimentos na linguagem dele, isto é, que dizer tais coisas como sendo as que eu sinto, que ele, lendo-as, sinta exactamente o que eu senti. E como este outrem é, por hipótese de arte, não esta ou aquela pessoa, mas toda a gente, isto é, aquela pessoa que é comum a todas as pessoas, o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus sentimentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza daquilo que senti.

Tudo quanto é abstracto é difícil de compreender, porque é difícil de conseguir para ele a atenção de quem o leia. Darei, por isso, um exemplo simples, em que as abstracções que formei se concretizarão. Suponha-se que, por um motivo qualquer, que pode ser o cansaço de fazer contas ou o tédio de não ter que fazer, cai sobre mim uma tristeza vaga da vida, uma angústia de mim que me perturba e inquieta. Se vou traduzir esta emoção por frases que de perto a cinjam, quanto mais de perto a cinjo, mais a dou como propriamente minha, menos, portanto, a comunico a outros. E, se não há comunicá-la a outros, é mais justo e mais fácil senti-la sem a escrever.
Suponha-se, porém, que desejo comunicá-la a outros, isto é, fazer dela arte, pois a arte é a comunicação aos outros da nossa identidade íntima com eles; sem o que nem há comunicação nem necessidade de a fazer. Procuro qual será a emoção humana vulgar que tenha o tom, o tipo, a forma desta emoção em que estou agora, pelas razões inumanas e particulares de ser um guarda-livros cansado ou um lisboeta aborrecido. E verifico que o tipo de emoção vulgar que produz, na alma vulgar, esta mesma emoção é a saudade da infância perdida.
Tenho a chave para a porta do meu tema. Escrevo e choro a minha infância perdida; demoro-me comovidamente sobre os pormenores de pessoas e mobília da velha casa na província; evoco a felicidade de não ter direitos nem deveres, de ser livre por não saber pensar nem sentir – e esta evocação, se for bem feita como prosa e visões, vai despertar no meu leitor exactamente a emoção que eu senti, e que nada tinha com infância.
Menti? Não, compreendi. Que a mentira, salvo a que é infantil e espontânea, e nasce da vontade de estar a sonhar, é tão-somente a noção da existência real dos outros e da necessidade de conformar a essa existência a nossa, que se não pode conformar a ela. A mentira é simplesmente a linguagem ideal da alma, pois, assim como nos servimos de palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em linguagem real traduzir os mais íntimos e subtis movimentos da emoção e do pensamento, que as palavras forçosamente não poderão nunca traduzir, assim nos servimos da mentira e da ficção para nos entendermos uns aos outros, o que, com a verdade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer.
A arte mente porque é social. E há só duas grandes formas de arte – uma que se dirige à nossa alma profunda, a outra que se dirige à nossa alma atenta. A primeira é a poesia, o romance a segunda. A primeira começa a mentir na própria estrutura; a segunda começa a mentir na própria intenção. Uma pretende dar-nos a verdade por meio de linhas variadamente regradas, que mentem à inerência da fala; outra pretende dar-nos a verdade por uma realidade que todos sabemos bem que nunca houve.

Bernardo Soares (Fernando Pessoa), Livro do Desassossego -
§ 260


terça-feira, 27 de novembro de 2007

Ex-amigos

Título sugestivo.

Dirão que você engordou, que seu cabelo está uma palha, que suas roupas mudaram (para pior) ou que você está se achando (se ficar impossível aceitar que você melhorou).
Reviverão velhas histórias suas, enfatizando versões que não condizem com a realidade.
Rirão disso com suas novas amizades e concordarão com os novos insultos que serão lançados.
Considerarão você um babaca, ainda que compartilhem das mesmas opiniões.
Culparão seus amigos, dirão que foram o motivo da 'separação'. Talvez alguns se salvem, 'alguns que ainda não provaram do seu veneno' ou que pensem como eles pensam - "afinal, são boas pessoas".
Muitos vão te olhar nos olhos, lançando desafios, outros buscarão dramatizar uma falsa-indiferença.
Vão achar que você não é tão feliz com as pessoas com quem se envolve, vão sonhar com momentos em que você fica exposto - e rirão de tudo isso como se não existisse nem um pingo de medo no riso.
Vão enfrentar seus pais, dizer que você anda estranho, que a(s) pessoa(s) com quem você se relaciona não te merece(m) (ou muito pelo contrário).
Serão eternos cultivadores de laços de desprezo.
"Porque nada começa nem termina assim por acaso."
Ah, os seres humanos são tão desprezíveis..!

Existem os que esquecem do que vivem e os que vivem apenas do que supostamente já esqueceram.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

"Tudo bem."

pelados somos todos iguais.
só pelados. e só nessa frase.

querem que a gente diga que é tudo bonito e engraçado porque está todo mundo acostumado a fingir que é assim que funciona mesmo. porque alguém um dia disse que assim era melhor e então começou a encenação. porque essa pessoa devia ser boa e de influência e porque a vida é vista como o lado bom e a morte como o lado ruim. porque ninguém sabe como é estar morto, então age como se estar vivo fosse o paraíso - sendo que você vive meigamente para ir para o paraíso na morte também. porque é mais fácil fingir não ver do que tentar mudar o quadro borrado. ou porque alguém disse que quadros borrados não vendem tão bem mesmo. (que povo mais capitalista...)


querem promover a união, sendo que ela só existe onde há plural. muitas minorias são feitas de singular. seria o plural das minorias? ou a singularização do plural? ok, só falei isso para brincar com as palavras... que sem graça.

só sei que não funciona.
política natalina de terceiro ano não rola.
porque no meu álbum as fotos são vazias. de gente e de emoção. e eu não acho que tenha que fazer muito mais do que isso e preencher tudo. as coisas só são boas se existem as ruins para servirem de experiência não repetitível.

quero poucos abraços, porque quero ir embora logo e comer algo gordo. porque eu gosto de comer e não gosto de pessoas. (também no sentido "pessoas") não espero realmente mais do qu
e desejo. vai ser bom me sentir uma mosca, entre as abelhas-rainha. não quero ter uma bunda listrada e amarela, não quero embuxar ninguém com mel e não pretendo me aglomerar nas árvores. vou só descer as escadas, sair e comer.

não tenho vontade de escrever o que me pediram, pois gosto de escrever coisas que eu gosto para dizer o que eu sinto. gastar tempo para fingir pertencer ao que eu não pertenço e posar de elegante não vai me tornar uma abelha, nem que eu quisesse. eu gosto de não pertencer. gosto porque fico livre para voar para onde eu quero, como as moscas são. elas são sujas e ninguém toca spray nelas. basta um gesto brusco e elas vão embora. e retornam. mas ninguém taca spray nelas.
tudo bem, isso parece desinteressante.
talvez se eu tivesse o cabelo azul minha vida parecesse mais poética. mas eu gosto de ter meu quarto de criança de seis anos e gosto de pensar que tenho cara de biscoito.
o que me deixa triste é pensar que quando a gente é espontânea algumas coisas mudam, algumas pessoas se afastam e fingem que está tudo bem.


terça-feira, 13 de novembro de 2007

Twain .

não gosto de olhar fotografias e me ver, sorrindo, ao lado de gente que não conheço. pessoas que estudam comigo, que freqüentam os mesmos lugares ou que, de uma forma ou de outra, se enquadram no meu campo de visão. e então me perguntam se eu me arrependo de ter feito poses, de ter abraçado quem não conhecia, de ter mostrado os dentes aos estranhos. a resposta é negativa. não poderia ser outra. sorrisos são espontâneos. se não são assim, não são exatamente sorrisos. a gente sai com cara de idiota, não sai com um ar de alegre.
não gosto de escutar determinadas músicas que me fazem lembrar de determinadas situações. não gosto de nomes estampados na memória - nomes que não dizem nada, mas que trazem infinitas recordações. não gosto de pensar que tudo poderia ser diferente. decepções são coisas estranhas, cara. por mais que você pense em soluções ou em atitudes que poderiam ter solucionado o problema antes desse tomar corpo, não se pode negar que o final de tudo não tardaria a chegar. pensar que não só aumenta a culpa. encontrar justificativas é um erro contínuo.
o ser humano é realmente egoísta. e tem razão em ser: se não vive para si, viverá para o quê ou quem? é claro que existem momentos em que nos deixamos levar pelo prazer de fazer bem a alguém. a divisão de coisas boas são, no fundo, sinônimo de multiplicação das mesmas. o equívoco está na hora de parar: caso a linha seja cruzada, o efeito pode ser péssimo e irreversível. a influência da emoção vai além da compreensão - ela é capaz de controlar pensamentos e ações. subestimá-la é mais perigoso do que parece.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Crise Tepeêmica

eu não vou marcar a escola. não fiz nenhum feito, não fui a melhor aluna. nem aprontei. fiz amigos lá. alguns vão continuar "lá", com essa idéia de passado mesmo. fiz inimizades. eu e todo mundo. não escrevi meu nome nas paredes, não quebrei nada. esvaziei um vidrinho do laboratório sem querer e quase colocaram minha cabeça à venda por isso. mas só por alguns segundos. nunca comi o cachorro quente do bar, pois ele tem cara de ser ruim - ainda que digam o contrário. a professora que eu mais gosto é uma filha da puta, que esquece o que diz e das mínimas noções de ética. esse ano eu não levei nenhum gol - porque esse ano eu não me arrisquei a ser goleira. não usei uniforme quando deveria, não lavei o cabelo o número de vezes que eu gostaria e não consegui estreiar meu esmalte pretão gostosão. eu vou escrever um texto com uma garota para um grupo de pessoas que provavelmente nem sabe minha idade, meu nome completo ou se eu tenho um sinal cabeludo e nojento na cara - é capaz de alguém dizer que sim. não gosto de coisas excessivamente geladas e, por mais que eu teime em dizer que gosto de coisas quentes, sempre assopro- as um pouco antes de beber. vejo maldade em tudo. até nas coisas mais bestas. poderia escrever pro Zorra Total. não tem nada que faça de mim um bom ou um mau exemplo. eu não sei dormir, ainda não aprendi a fazer isso na hora que eu quero e posso. me alimento mal - como só porcaria, duas vezes ao dia. não tenho paciência com meninas. nem com meninos, mas meninas exigem mais cuidado - o que é totalmente irritante. eu não sou gay, nem hetero. nem merda nenhuma. tenho preconceito contra gente preconceituosa e preconceito com um monte de gente que não merece - em relação a tudo, não ao fator opção sexual. digo que odeio essa perseguição do mundo arco-íris, onde o assunto se concentra nisso, mas também não fujo dessa rotina. pertenço ao sistema praticando a preguiça e a reclamação em volume baixo, porque não tenho coragem ou esperança de incentivar alguma mudança. falo demais e escrevo demais. me exponho demais e, ainda assim, consigo não ser ninguém.


sábado, 3 de novembro de 2007

Sinceramente?

Existiu um período em que eu falava muito isso: "sinceramente?". Era como se na outra parte do tempo eu me ocupasse falando mentiras às pessoas - ou à mim mesma. Não deixava de ser essa última opção. Eu sei que foi nessa época que eu tive meus ataques de franqueza - aquilo de dizer a coisa certa na hora errada. Porque às vezes a situação é mais delicada do que parece. E porque não é sempre que quem pergunta quer realmente saber a resposta - principalmente se essa não é agradável aos seus ouvidos... O "sinceramente?" era prenúncio de que alguma crítica estava a caminho, agora impedida de ficar calada. Nunca vi ninguém responder "não". Talvez a expressão desse alguma esperança de tempo bom. Mas sempre chovia.
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Sabe aquelas milhões de frases clichês que eu, você e todo o mundo crescemos ouvindo? Que o que tiver que ser será? Que quando for Amor a gente simplesmente vai saber? Pois é. São bobagem. São sim - até o dia em que você vai acordar ou se deparar com alguma situação ode seja impossível negá-las. Eu gosto de pregar que a gente não deve buscar um perfil específico, uma "pessoa perfeita". Até porque se for per
feita mesmo, a gente não vai estar à altura. E sempre existem milhões de porquês. Legal de verdade é aprender a lidar com as diferenças, conviver com uma pessoa que pense diferente, que tenha outras manias e ainda ter a coragem de não trocar o abraço dela por nenhum outro. Cada um tem um histórico de paixonites diferente. Eu acho que nunca me permiti mesmo. No sentido de cravar os pés no chão, não se entregar. Até porque existia dúvida no ar. Por mais bela que a vida fosse, era algo arriscado, incerto, inseguro. Perigoso mesmo é o período de discussões. Violência verbal, ás vezes física - de várias formas, pois sim. Sabe, aquilo de ver que nenhum dos dois está feliz, mas ainda assim lutar pelos 80%. Pelos 60, 50, 30... lutar pelo carinho que restou, pela amizade. Pelo tempo que foi bom e acabou. Eu estava colocando os tênis quando me liguei que não estava tudo bem. Aqueles sorrisos bobos não tinham conteúdo. Sabe, quando existem traços de uma pessoa que te irritam... esquece! Porque mudar não é a alma do negócio. Amor de verdade é quando você gosta e pronto. Chega, basta. É estranho. Porque você sente quando uma pessoa é especial, mas até descobrir o quanto é uma longa viagem. Se a atração é recíproca, existem aquelas três fases pós período platônico: a euforia, o desgaste e o medo. Você fica um tempo, gosta, desgosta e fica naquela indecisão de colocar tudo a perder. Se esconder isso já é difícil, dividir o momento é pior ainda: você lida com o seu sofrimento e o da pessoa. São dois pesos. Duas pessoas vendo o relacionamento acabar, sem ter muito o que fazer. É assim mesmo. Sabe, se decepcionar é bom. A gente fica mais pé no chão, mais racional e preocupado com o mundo ao redor. Ainda que não admitamos, nosso amor-próprio cresce muito. Porque nós ficamos cautelosos, exigentes... passar pelas más fases de novo está fora dos planos. O tempo que você fica sozinho é bom para se conhecer, encontrar seus limites. Ter seu dia de merda, de fodão e de normal. Tempo de grudar nos amigos, prometer a si mesmo uma pá de coisas e, enfim, renovar conceitos. Se decide procurar algo, não encontra. É a lei da boa vontade, que é inversamente proporcional aos bons resultados. Ficar sozinho também é sinônimo de fazer merda, é claro. O bom é que, aí, os erros geralmente não afetam mais ninguém. Sair da rotina, ficar sem compromisso. Até que um dia isso cansa. Ou não. Mas num dia desses com que você não está acostumado, num dia de chuva e coisas impossíveis, acontecem aquelas coisas que marcam mesmo. Sabe, você não precisa entender como aconteceu ou porquê ou sei lá. Porque você não quer ouvir a resposta. Você não tem medo de ouvir um "sinceramente?", apenas tem medo de acordar. E, sim, borboletas no estômago, na garganta, onde for - elas existem. Prepare-se para uma batalha diária: agora você luta com o tempo que demora a passar, não com o tempo que antecede o fim. Fim passa a ser uma palavra desconhecida. Talvez a face mais "vergonhosa" do Amor seja realmente aquela imagem dos pombinhos, tão bobinhos e ridiculamente apaixonados. Fazendo caretas, imitando vozes, dançando juntos, sendo meigos em excesso... Mas, sabe, não tem coisa mais feliz do que ser um desses "amorxinhos cuticuticuti". Ah, não tem mesmo. Palavra de escoteiro. (Eu sei que eu não fui escoteira, mas eu sempre quis dizer isso.)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Resposta

isso não é coisa para se postar num blog, mas eu não vou encher a guria de depoimentos e nem gosto de mandar e-mail. e não é nada que eu fosse esconder, só que enfim. como é destinado a uma garota x, provavelmente quem não for ela vai ficar boiando. :)

"eu ensaiei quinhentos discursos. pomposos, chorosos e raivosos. no final das contas, eu optei por nenhum. e agora eu não sei - de novo - o que dizer. é verdade que não nos conhecemos muito. e é verdade também que muito do tempo que passou de repente não foi bem aproveitado. isso não aconteceu devido a distância que se formou inevitavelmente, mas pela falta de procura mesmo, de ambas as partes. isso é natural. até porque eu não acredito exatamente que a convivência determine a força de uma amizade, se é que isso existe. até porque você é amigo ou não é. intensificar isso seria desmerecer algumas pessoas. até por isso, eu queria te corrigir (meigamente) quando li os nomes que você citou. a proximidade não muda a intensidade - não assim. nem sempre as pessoas ao nosso redor são as q
ue mais nos conhecem. eu não costumo correr atrás das pessoas. até porque eu raramente tenho o que dizer. eu falo sobre coisas no geral, mas falar de mim é estranho. não significa que eu não goste. e eu soube de muitas coisas referentes a tua vida, ao teu passado. coisas que eu gostaria de ter ouvido de ti, se algum dia eu fosse digna da tua confiança. e não quero dizer que isso vá ou não acontecer, só me senti estranha por não ter conversado sobre isso contigo. sobre isso de não correr atrás... sei lá, não é orgulho. no fundo é tipo aquela relação que os pais esperam ter com os filhos: "quando você precisar, saiba que eu estou aqui". de repente, meu erro foi não ser clara o suficiente. não só com palavras, mas sei lá. eu já sou meio grossa. eu sou sensível, mas não sei agir com delicadeza. e eu não gosto de pedir ajuda. por orgulho, por vergonha, por tudo que é troço. e porque, sei lá, eu gosto de ficar sozinha e essa história toda. mas isso não quer dizer que eu não goste de ouvir os outros ou participar da vida deles, dividindo experiências - e por aí vai. ah, no fundo a gente se conhece sim. eu vejo o gustavo todos os dias, mas isso não deixa de ser um detalhe. a gente já se desentendeu, já fez tempestade em copo d'água. já riu e já ficou em silêncio. a karol, sei lá. a gente não se fala todos os dias - no máximo um oi. mas, dentro das pessoas que eu trago da infância, ela é minha maior referência. e a gente não sai mais juntas - não com a mesma freqüência, não tem exatamente os mesmos gostos. a gente se fala pouco, se eu for pensar, mas é o suficiente para ver que estamos bem. eu sei que ela me considera, ela sabe que eu sinto o mesmo. talvez isso baste. não tem todos os privilégios de ter um parceiro a tiracolo mas, interior-filosoficamente falando, isso é realmente 'uma honra'. olha para a thays. eu posso ver ela todos os dias pela janela, na aula, sei lá onde. ela está sempre em todos os lugares - e nem por isso vivemos grudadas. na verdade, eu acredito que me relaciono melhor mesmo com aquelas pessoas que não estão na minha rotina. se pá todo mundo pensa assim. você acaba desvalorizando. ou não. mas simplesmente acontece aquilo que, a princípio, não deveria acontecer: você enjoa. não sei porque estou escrevendo tudo isso. não tem relação com o que você me disse. eu queria que você não pensasse que é "só mais uma", ou que está num nível inferior. sabe, no fundo nós nos fortalecemos com a situação toda. eu penso que sim - com o afastamento, a gente percebeu que algumas coisas estavam erradas, corrigimos os problemas e agora estamos vivendo nossas vidas. sim, eu quero estar mais presente. de verdade. e existem mil fatores que servem de empecilho. mas eu quero te mostrar que está tudo bem. quando eu te liguei, aquela vez, foi como o último depoimento: você fica meses em banho-maria, naquela ânsia de ir atrás ou não, do que dizer e todo o medo que isso envolve. não que eu quisesse te deixar na mão. sabe, aconteceram mil merdas contigo, comigo e a gente se ocupou - cada uma com seus problemas. no meio das nuvens, você percebe a claridade e aquilo fica te incomodando - naquele misto de chove, não chove - até que o sol surja. ok, exemplo péssimo. foi preciso que eu me tocasse que eu precisava de ti para me tocar que eu poderia te ajudar também. eu entendo muito bem quando você fala sobre determinado grupo de pessoas. se separar, perceber as intenções de cada um... é estranho. a sociedade toda está acostumada a julgar tudo. todo mundo faz parte disso, é inevitável. isso vira um problema mesmo quando pessoas queridas se mostram intolerantes, logo quando precisamos de uma palavra de força ou coisa parecida. eu não gosto de grupos por isso: todo mundo sempre pensa que tudo será lindo se todos concordarem sempre, mas para isso é preciso respeitar as diferenças, alcançar um senso comum que não agrida ninguém e que seja satisfatório para ambos... cara, isso não existe. eu não gosto dos teus amigos. aqueles em especial, que eu conheci e convivi. não gosto porque não foram bons pra mim. tu não teve as mesmas ações que eu, agiu diferente de acordo com as situações que tu teve que enfrentar. tu foi tu mesma e hoje tu tem pessoas maravilhosas ao teu lado. e provavelmente pessoas que te invejam, que não se sentirão felizes te vendo feliz e que, provavelmente, não valem realmente nada. eu não quis me meter mais na tua relação com essas pessoas. eu não tenho o direito, não faço parte disso, não sou nada além de um desses (teus amigos) dentro do todo. eu não vou negar minhas opiniões e meus insultos, mas não quero pensar que de alguma forma te influenciei com isso. até porque grande parte do que eu penso foi construída em cima de coisas bem relativas. eu me sinto bem sabendo que tu tá bem. é ótimo te ver namorando um cara legal, ou te ver nas fotos fazendo caretas - seja sozinha, comigo ou com outra(s) pessoa(s). eu me sinto meio coelho da páscoa dizendo isso. parece que eu sou uma banana. hahaha. tipo discurso de miss, que quer sempre a paz mundial. mas ok, eu sou boazinha. aquela ivy que não se importa com nada, que algumas pessoas estão acostumadas a enxergar, não existe. eu não sou malvadona como um dia eu quis, nem sou nenhuma flor de pessoa. tenho ataques de raiva, ódio platônico, arroto - mas também faço crochê e uso pantufas rosas. querendo ou não, dramatizando ou não, eu te vi crescer. bem mais do que isso. se existe alguém para mim que se pode comparar a uma fênix (pela história de renascer das cinzas, pela grandeza mesmo), essa pessoa é tu. porque eu te vi quietinha sofrendo e eu te vi forte e safadona um tempo depois. ok, esse safadona ficou estranho. mas enfim. eu não acho que tudo esteja 100%, mas eu me orgulho bastante de te ver assim. sabe, eu nunca duvidei de nenhuma palavra tua, eu sempre acreditei que tu fosse enfrentar todas essas coisas. e eu me amarro quando escuto tu me narrando os acontecimentos, por mais trágicos que eles pareçam. e eu realmente me sinto importante quando tu pede minha opinião. várias vezes eu fiquei sem ter o que dizer. eu penso em ti, penso sempre. não pensa que eu te considero menos. fotos de orkut e oi's na escola são coisas muito supérfluas. as minhas comunidades dizem coisas, de fato, mas toda aquela página é moldada. eu sou daquele jeito, mas também tenho uma vida offline, onde eu não sou mais ou menos humana que ninguém. me sinto mal por não permitir, de repente, alguma aproximação. se tu não me conhece o quanto tu gostaria é porque, sem querer, eu não deixei que isso acontecesse. eu estou tentando mudar isso. eu gosto de te ver rodeada por pessoas que são boas pra ti. e eu fiquei feliz de ter lido que temos muito em comum. fiquei mesmo. eu gostei mesmo do que tu escreveu e concordo. e, pensando melhor, eu também tenho coisas para te contar. a gente sempre tem, mas é difícil escolher o que é novidade ou não quando já nos acostumamos com algumas idéias. e eu gosto das nossas diferenças. eu gosto de pensar que, mesmo com todas as feridas, tu é uma pessoa pura. tu não se deixou levar, não se tornou uma pessoa pior depois de todos esses pontapés que a vidinha dá na gente. eu admiro mesmo teu senso de equilíbrio. a gente é tão igual e tão diferente. e tudo se tornou tão estruturado de repente. vontade de falar contigo. eu acho que falei tudo errado. mas o resto cabe a ti julgar, reservadamente. eu não quis escrever isso através dos depoimentos, porque bem... quantos, né?! o essencial está aí. foi bom ter te visto no teu aniversário. eu pareço um zumbi nas fotos daquele dia. haha. mas foi realmente bom poder te ver melhor. e tu me protegeu. na hora eu não reconheci, mas tu me protegeu - e eu sou grata por isso, de verdade. mas enfim. não duvide de mim. fora que eu sou teimosa. então se eu digo que 'tudo bem, eu enfrento o mundo e fico do seu lado' não ouse duvidar de mim, mocinha! hááá. e a senhorita estava equivocada... eu tenho músicas do araketu, do calypso, do magal e mais umas mil bregas - e realmente me divirto com elas. a apresentação da thays... bem, foi realmente da thays. haha. ela brilhou, cara. morri de vergonha por ela. mas foi bem engraçado. ela cantou tri bem. foi uma semi-despedida da velha thays na escola. ela não seria feliz sem antes ter feito isso. claro que os motivos pelos quais ela fez isso me estressam... mas eu aprendi a não me meter nisso, né. mas mas mas isso já é outro assunto. e te cuida."


domingo, 21 de outubro de 2007

Listas.

5 coisas irritantes:
- vendedores;
- risadas e gritos histéricos;
- carros que fazem chover na calçada;
- superdebemcomavidasempre life style;
- suco com fiapo da fruta. :x
5 coisas agradáveis:
- água fresca;
- dias cinzas;
- roupa velha;
- lamber colher;
- passar a noite em claro.
5 coisas úteis:
- miojo;
- fones de ouvido;
- fórmulas matemáticas;
- boina;
- agenda.
6 coisas típicas de verão:
- axé;
- pele cheirando a protetor solar;
- mosquito;
- festas em família;
- pés;
- suor.
4 coisas típicas de inverno:
- cachecol;
- preguiça;
- café;
- romance.
5 coisas fedorentas:
- vapor de banheiro;
- plásticos de revistas;
- meias;
- banho de perfume;
- cigarro.
5 coisas broxantes:
- feijão;
- cãibra;
- pneus em humanos;
- malandragem;
- crianças talentosas.
5 coisas neutras:
- batata;
- blush;
- comédia romântica;
- música de consultório;
- camisetas.
5 coisas excitantes:
- mãos;
- armas brancas;
- lençol gelado;
- cerejas;
- escuridão.
5 coisas tristes:
- idosos;
- grãos de arroz;
- touca de banho;
- publicidade ruim;
- exageros.
5 coisas vergonhosas:
- dourado não-fosco;
- glitter;
- o elenco de Malhação;
- bife que encolhe;
- pele descascando.
5 coisas práticas:
- band-aid;
- chinelo;
- lápis preto;
- adesivos;
- guardanapo.
5 coisas geniais:
- cd;
- batedeira;
- máquina de lavar roupa;
- camisas;
- pilhas.
5 coisas trouxas:
- limpador de língua;
- chapéu de turista;
- espanador de arco-íris;
- “rsrsrsrs”;
- gola alta e barriga à mostra.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Parte 3.

A viagem ainda demoraria longas treze horas, contando todo o percurso que Sherobi faria após o trem chegar na estação. O céu colorido pelo sol que se recolhia. Os olhos caídos da moça, que encostara o rosto no vidro da janela, não refletiam nada: nenhuma emoção, nenhum sinal de alegria ou dor. Ela ajeitou o cachecol, apertando-o em torno de seu pescoço branco e fino. Não estava contente com seu estado, com o rumo que as coisas tomaram, mas sentia-se satisfeita de não estar do outro lado das vidraças: o frio era tamanho que não se via ninguém pelas ruas próximas aos trilhos. Nenhuma tenda com nozes e castanhas à venda, nenhum esquilo pelo caminho, nenhum barulho que não fosse o do trem. Mesmo os passageiros estavam silenciosos. Nenhum rádio ligado, nenhuma voz, nem assobio, nem espirro.
Aos poucos, uma camada de névoa delicada começou a se cristalizar sobre a barreira transparente que dividia a cabine de Sherobi do mundo real. Não estava mais sozinha: um homem de aparência rude, com trajes marrons, que provavelmente não era da capital, sentou ao seu lado, fazendo-a encolher os braços. A mochila que estava em seu colo foi acomodada sob o assento do banco, que se revelava uma espécie de baú. Não gostou nem desgostou da companhia; sua indiferença ocupava toda a sua atenção.
O homem esticou a mão esquerda num gesto bruto e tirou do bolso da jaqueta de couro um pequeno saco de amendoins. Mastigou ruidosamente, enquanto apoiava os pés pesados sobre o banco à sua frente, onde ninguém havia sentado. A cabine de número 28 foi rapidamente preenchida com o cheiro de terra molhada que vinha das botinas do homem. A garota se incomodou com o espaço que sobrara para se escorar no encosto almofadado. Deitou a cabeça para trás e inclinou-se para ver o sujeito. Fingia estar mascando um chiclete, como se essa mania fosse capaz de intimidar as pessoas.
“Ei, você! Para onde está indo?” – Perguntou ao homem. Ele parecia ter cinqüenta, quase sessenta anos, ainda que estivesse corado e tivesse porte um tanto forte. “Vai parar na estrada de Michigami ou pretende atravessar a fronteira?”. “Como?” – Disse ele, se engasgando com o susto que levara. “O que quer saber, pirralha?”. “Oras... pirralha... há tempos não escuto isso. Saudade. Você não é mesmo da capital, como eu suspeitava.” – suspirou Sherobi, curvando-se até onde estava sua mochila. Abriu o zíper, puxou um cigarro da carteira e retomou sua postura inicial. Deixou-se cair um pouco pelo banco, de forma a privar seus olhos da visão – ou, pelo menos, da luz – que vinha da janela. Acomodou os pés no banco da frente, como o homem fizera. Este, por sua vez, estava em silêncio. Insistia numa careta rígida, como se isso o afastasse da idéia de que existia uma jovem ao seu lado, insistindo num diálogo.
“Vamos, diga o que quer. Não costumo conversar com estranhos.” – Ele disse, num tom ríspido. “Então foi isso o que sua vasta experiência de vida lhe ensinou? A não falar com estranhos?” – Ela perguntou, numa ironia que fugia da malícia da brincadeira. “Eu quero fogo, só isso. Fogo.”. “Você deveria respeitar as regras. Não é permitido fumar neste local, pirralha.” – Advertiu o velho. “Hum... outra lição de moral. Isso é uma ameaça?” – Perguntou a garota, apertando o cigarro com os lábios enquanto tateava as costas de seu casaco à procura do capuz. Vestiu-o, deixando de fora a franja e algumas mechas de seu cabelo escuro. Os olhos claros voltaram a fitar o sujeito ao seu lado. “Acaba de uma vez com isso. Me passa o fogo e estamos quites.” – Sherobi falou, como se a conversa estivesse sugando suas energias. “Quites? Eu te devo alguma coisa, garota?” – Grunhiu o velho, tirando do bolso da calça um isqueiro rústico, que parecia valer uma grande quantia. “Garota... ok, agora melhorou. Não é porque eu não me apresentei que eu sou uma estranha. Quer dizer, você já deveria me conhecer.” – Ela respondeu, inclinando-se para tocar a ponta do cigarro na pequena chama que se projetava aos olhos do homem.
“Como eu deveria te chamar?” – Admirou-se o velho, olhando com ternura por um segundo para a moça. – “Não sei porque estou te tratando bem, mas não se acostume. Você queria fogo, eu lhe dei. Agora seja breve com suas palavras e não estrague minha viagem.” – Disse ele, em voz baixa e firme. Olhava para a parede a sua frente, a divisória das cabines, feita com o mesmo material do assoalho. “Fogo... fogo é proteção. Eu pedi proteção. E sua viagem não significa nada, realmente nada. É insignificante, se compararmos o porquê de estarmos aqui...” – Lamentou ela, escondida pela sombra que o capuz projetava em sua face. “Sabe, você está certo. Nós somos estranhos, e nunca vamos nos dar bem. Eu não tenho vontade de te tratar bem.” – Num salto, ela se levantou e puxou as alças da mochila e da pequena mala que alojara numa prateleira superior ao banco. Parecia estar prestes a chorar, ainda que a expressão no seu rosto fosse de raiva.
“Espera, garota, o que está fazendo? O que está dizendo?” – Perguntou ele alarmado, equivocado com os insultos da jovem. - “Para onde está indo?”. “Para longe de você. Sabe, pensei em te seguir por Michigami, pensei em pedir para ficar na sua casa, conhecer sua esposa – se é que tem uma. Pensei em fazer parte da sua vida, mas agora eu não vejo o que me levou a vir até aqui. Estraguei a minha viagem e a sua também.” – Resmungou ela, evitando olhar o velho. Ele abrira os braços, impedindo que ela passasse ou chegasse até a porta da cabine. “O que você quer? Não vai me trancar aqui, seu velho!” – Ela berrou, voltando-se contra o homem – que imobilizou seus braços e empurrou-a no banco à sua frente.
Ao contrário do que ele esperava, ela encolheu pernas e braços e colocou a cabeça sobre as mãos. Era muito magra – magra e branca. Vestia uma saia comprida, o casaco de moletom cinza e coturnos surrados. Poderia ser confundida facilmente com qualquer drogada, menor infratora ou coisa que o valha, pois o aspecto delicado contradizia a idéia de que havia inocência naquele corpo.
O homem olhou para os lados, sem saber o que fazer. “Droga, pirralha. O que te fiz? A qualquer momento um guarda vai entrar por essa porta e te ver aí, soluçando. O que eu digo? Vão achar que eu tentei te estuprar ou coisa parecida, olha só a minha imagem!” – O velho ficou falando sozinho, perdido nas próprias idéias. Tentava entreter a garota a sua frente, não mais preocupado em se mostrar frio e intolerante, mas cuidadoso com o que suas palavras poderiam vir a causar.
“Quer um copo d’água?” – Ele perguntou, transcorridos alguns minutos. “Não.” – Sherobi disse, mais calma. Abaixou as mãos, apertando os joelhos contra seu corpo. Olhou para o chão e depois para o sujeito a sua frente. “Desculpe o transtorno. Lembrei que eu ainda não me apresentei. Você não me conhece, mas eu sou sua filha.”

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