Sem saber o quanto faria sentido
para mim, uma pessoa querida me mostrou uma poesia de sua autoria em que identifica
um relacionamento amoroso como um “compromisso com a ilusão”. Achei essa expressão
ao mesmo tempo linda e assustadora, perfeita para pensar sobre uma situação que
estou vivenciando, que parece mais intensa em função de estar presa no plano
das idéias, do imaginário. Será que é perceptível minha confusão? É tão difícil
não saber se o que eu penso corresponde à realidade. Tenho tantas idéias que,
seja qual for a mais plausível, não deve se parecer com a verdade. E tenho me
questionado muito sobre a influência disso no que eu sinto. Eu amo uma pessoa? Uma
idealização de pessoa? Amo como ela faz eu me sentir? O que interfere nesse
sentimento? Nunca pensei de forma determinista e inflexível sobre
relacionamentos. Cada pessoa é um planeta singular, cada interação representa
um universo. Lembro de ainda bastante jovem, de forma um tanto dramática, me
questionar se eu deveria desinvestir de uma possibilidade de relacionamento em
função de um envolvimento temporário da pessoa por quem eu nutria expectativas
com outra. É necessário e obrigatório “desistir”? Me questiono o mesmo novamente,
mas agora contrariada de tal forma que começo a pensar que sou surpreendente
mesmo para mim. O “compromisso com a ilusão” tem a ver com construir algo de
forma conjunta, expectativas e planos a dois (ou a três, quatro... depende da
concepção de família e de até onde chega esse compromisso). E, mais do que
sonhar junto, é se enganar junto. Enfrentar os problemas, mas também deixar de
percebê-los em alguns momentos. A completa transparência pode ser mortal, bem
como a cegueira do escuro. A luz é o que possibilita os nuances, os sabores, as
aproximações, os encontros e desencontros. É a luz quem possibilita a dança dos
afetos, do fascínio e da frustração. Mas tudo isso se torna imperativo, pois é
necessário se comprometer com um ideal de felicidade, amor, interação, envolvimento.
Eu não sei o que de fato está acontecendo. Mas, na verdade, a gente nunca sabe.
Nunca tem certeza. E, se for pra viver se corroendo por dúvidas, questiono por quanto tempo é possível essa existência. Não consigo identificar o momento em
que a curiosidade ganhou status de desconfiança. Logo eu, que sempre confiei no
que me diziam, me vejo agoniada e ao mesmo tempo decepcionada por depender de
respostas que não são minhas. Não gosto dessa sensação, mas não vejo saída. E parece
irreversível, o que só piora meu medo. Então, dependendo do que eu descobrir,
devo alimentar mais ou menos os meus afetos? Eu posso controlar isso? Deveria poder
fazê-lo? Só gostaria que fosse possível retornar ao ponto em que as dúvidas
eram vagas e não incomodavam, eram apenas afirmações sobre um planeta que não é
o meu. Estranho estar tão apaixonada por um universo, independente de quem seja
realmente seus planetas.
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