sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Satellite of Love

Sem saber o quanto faria sentido para mim, uma pessoa querida me mostrou uma poesia de sua autoria em que identifica um relacionamento amoroso como um “compromisso com a ilusão”. Achei essa expressão ao mesmo tempo linda e assustadora, perfeita para pensar sobre uma situação que estou vivenciando, que parece mais intensa em função de estar presa no plano das idéias, do imaginário. Será que é perceptível minha confusão? É tão difícil não saber se o que eu penso corresponde à realidade. Tenho tantas idéias que, seja qual for a mais plausível, não deve se parecer com a verdade. E tenho me questionado muito sobre a influência disso no que eu sinto. Eu amo uma pessoa? Uma idealização de pessoa? Amo como ela faz eu me sentir? O que interfere nesse sentimento? Nunca pensei de forma determinista e inflexível sobre relacionamentos. Cada pessoa é um planeta singular, cada interação representa um universo. Lembro de ainda bastante jovem, de forma um tanto dramática, me questionar se eu deveria desinvestir de uma possibilidade de relacionamento em função de um envolvimento temporário da pessoa por quem eu nutria expectativas com outra. É necessário e obrigatório “desistir”? Me questiono o mesmo novamente, mas agora contrariada de tal forma que começo a pensar que sou surpreendente mesmo para mim. O “compromisso com a ilusão” tem a ver com construir algo de forma conjunta, expectativas e planos a dois (ou a três, quatro... depende da concepção de família e de até onde chega esse compromisso). E, mais do que sonhar junto, é se enganar junto. Enfrentar os problemas, mas também deixar de percebê-los em alguns momentos. A completa transparência pode ser mortal, bem como a cegueira do escuro. A luz é o que possibilita os nuances, os sabores, as aproximações, os encontros e desencontros. É a luz quem possibilita a dança dos afetos, do fascínio e da frustração. Mas tudo isso se torna imperativo, pois é necessário se comprometer com um ideal de felicidade, amor, interação, envolvimento. Eu não sei o que de fato está acontecendo. Mas, na verdade, a gente nunca sabe. Nunca tem certeza. E, se for pra viver se corroendo por dúvidas, questiono por quanto tempo é possível essa existência. Não consigo identificar o momento em que a curiosidade ganhou status de desconfiança. Logo eu, que sempre confiei no que me diziam, me vejo agoniada e ao mesmo tempo decepcionada por depender de respostas que não são minhas. Não gosto dessa sensação, mas não vejo saída. E parece irreversível, o que só piora meu medo. Então, dependendo do que eu descobrir, devo alimentar mais ou menos os meus afetos? Eu posso controlar isso? Deveria poder fazê-lo? Só gostaria que fosse possível retornar ao ponto em que as dúvidas eram vagas e não incomodavam, eram apenas afirmações sobre um planeta que não é o meu. Estranho estar tão apaixonada por um universo, independente de quem seja realmente seus planetas.

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