Sempre quis escrever isso, mas o Fabrício Carpinejar foi mais rapidinho (ah tri). :)
" Todos os amigos serão unânimes: não fique com ele. Não sou o primeiro que pede conselho, muito menos tenho a pretensão de ser o último. Mesmo com o desânimo decidido dos próximos, permanece buscando uma resposta. Não aceita que o digam para esquecê-lo, para começar outra história. Sua insistência indica que já tem a solução, apenas quer um fiador.
Eu me candidato ao posto. Você já o perdoou pela traição com sua amiga. Consumiu uma catarse emocionada e justa, com palavrões, lembranças arremessadas e ofensas. Cumpriu o trajeto mais complicado. Mas não permite a reconciliação porque não se desculpou ainda. E talvez não consiga se perdoar por se sentir burra e tola. Pensa que a infidelidade é algo contra você. Guarda a convicção de que ele fez de propósito, para humilhá-la.
Não é isso, ele a traiu simplesmente em função de um desejo e atração por uma segunda mulher. É mais uma afirmação narcísica. Cuidado, não pretendo aliviá-lo da terrível falha no relacionamento, e sim fornecer um ponto de vista diferente, de que a traição não significa vingança ou traduz represália. Apesar do envolvimento pessoal, a infidelidade é o mais impessoal dos erros.
Acredito que se enxerga mesmo como planeta girando em torno do sol. Quem é enganado é o centro do mundo. Carrega a miragem de tudo o que ele pensa ou deixa de pensar é para atingi-la. Continua confiando que ele reage às suas fantasias, quando na verdade nem deve conhecê-las. Expulsar um amor da imaginação é mais dolorido do que tirar um filho do ventre. Sabe o que faltava? Que ele fosse sua invenção. Infelizmente, é real e não partiu de sua carência.
Confessa que não tem título nenhum: “não sou namorada, não sou amante e não sou amada, não sei o que sou para ele”. Mas age como namorada, amante e amada, obedecendo a uma representação bem definida. Ele foi avisado do compromisso e de sua necessidade? Ou está esperando que ele transcreva seu pensamento e siga o script? De repente, o sujeito não alcança a gravidade de sua percepção. Nem deve entender o que anseia.
Durante o namoro, temos que matar nossa companhia para aceitar que ela possa se manifestar do seu jeito. O que explica a carta de tarô. Não precisa repeti-lo - permita que ele a complete. O aprendizado é delicadamente rude.
Está ferida pelo amor público, por aquilo que ele não demonstrou aos outros - não tanto pela saudade da história que construíram. Não descobriu apenas que é um homem comum, o baque é que se viu tão comum quanto ele. Não a valorizou e glorificou como gostaria, como sonhou desde a infância.
Sua cicatriz vem de um romantismo descumprido, de uma idealização arruinada. Ele não é o melhor para você, é o necessário no momento para desafiar suas próprias limitações e condicionamentos.
Tentaria novamente. Opção cômoda é sofrer e aceitar, resignada, a separação onde não começou a união. Insistiria uma vez, duas vezes, até cansar de projetar o passado na tela de seu quarto. "
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