sábado, 1 de maio de 2010

Sobre preconceito com homossexuais.

Estou escrevendo motivada pelas observações que venho fazendo principalmente de meus colegas de aula. Na última semana, em especial, este assunto provocou uma série um tanto maior de comentários desprezíveis. Uma palestrante falava sobre homens terem um inconsciente feminino e mulheres terem um inconsciente masculino, algo do gênero. Uma menina perguntou como isso se dava "no caso dos gays". Não achei nada de mais a pergunta,a não ser pelo fato de que eu achei que ela queria dizer "pessoas que desejam mudar de sexo, pois não se enquadram psicologicamente e enfim no corpo em que nasceram". Mas tudo bem. Depois, lembrei de outra colega, que tinha a concepção de que os homossexuais, além de "serem assim em função da genética", eram, na verdade, homens que desejavam ser mulheres e vice-versa. Não podendo ter o desejo atendido, essas pessoas se comportavam como pessoas do sexo oposto e, assim, "como esperado", sentiam atração do modo heterossexual (e, logo, praticavam seu homossexualismo). Notei que os exemplos dados pelas pessoas geralmente são masculinos e que esses homens figurados são exemplos bem porcos de um estereótipo de homens extremamente afeminados, como se todos os gays se restringissem a essa imagem. A resposta da palestrante me satisfez: "isso não varia conforme a sexualidade, mas conforme o gênero. E só. Homens homossexuais ainda são homens." - claro, não foram essas as palavras exatas, só a mensagem. E essa pergunta deu início a uma agitação em considerável parte da turma (parecido com quando se fala de futebol), em especial aos meus colegas do sexo masculino. Já não são muitos, mas os que se fazem presentes parecem carregar o preconceito de todo um mundo. Sem exagero. Acho que minha maior crítica seria aos estudantes que não se esforçam para cumprir bem sua tarefa profundamente. Tenho que ter cuidado ao dizer isso, pois não compreendo bem os religiosos e costumo não ter paciência com homofóbicos. Falha minha. Religião eu respeito, mas homofobia é algo que eu não entendo e nem vejo razão para tal. É frisado durante o curso de Psicologia que, diante de um caso que não nos achamos capazes de cuidar, repassemos o paciente para outro psicólogo. E eu meio que torço para os meus colegas terem essa atitude. Torço mesmo. Tudo tem limite: brincadeira é brincadeira quando não se torna ofensiva. E, sinceramente, o que me incomoda mais é que não consigo levantar nenhuma hipótese plausível para explicar essa aparente perturbação que a idéia do homossexualismo traz a alguns, a não ser pensar que os homens que se afligem com isso não estão seguros de sua sexualidade. E não vejo problema nessa insegurança: o problema está em descontar isso nos outros. Ouvi de um colega, no ano passado, que sua repulsa estava no fato de que a função do sexo era a reprodução e que, assim, a relação sexual homossexual violava esse fim. Acho estupidamente ignorante essa afirmação. Camisinha pra quê? Pílula pra quê? Enfim. Estamos no século vinte e um! Nunca se valorizou tanto o orgasmo feminino. As revistas incentivam a masturbação, diversas fontes explicam melhores e diferentes formas de obtenção de prazer. É só ligar a tevê à noite e ver o quanto foi enriquecida a idéia de relação sexual. Sexshop, Kamasutra, pompoarismo, whatever: quem ainda pensa que o sexo é mesmo para procriação? Ah, fala sério. Conversei com minha psicóloga e ela vê a homofobia como conseqüência de uma experiência (homossexual) não resolvida ou reprimida. E isso não necessariamente quer dizer que um cara quis beijar outro: eu acho um tanto irônico os homens não buscarem prazer em todas as suas zonas erógenas durante a relação (mesmo heterossexual). Bunda, ânus, períneo, próstata: farinha do mesmo saco. E, mais do que evitar "sentirem-se agindo como homossexuais", essas pessoas parecem ter a necessidade de zombar de quem se mostra diferente. Seria isso necessidade de autoafirmação? Há superioridade em ser heterossexual? Eu sou contra o orgulho, seja qual for a respectiva sexualidade a ele aliada. Orgulho gay não me diz nada, nem hetero, nem bissexual, nem nenhum. E não vejo sustentação na afirmação de que os heterossexuais constituem a maior parte do todo. Se fosse para chutar, diria que os bissexuais formam a maioria (e não, não penso que "toda mulher é bissexual", como insistem certas teorias - penso que os homens foram educados a competirem entre si e esconderem suas emoções). Me preocupo com a forma com que esse tipo de preconceito é escancarado e fortalecido à medida que poucas vozes agem em resposta. Aliás, eu não compreendo essa falta de respeito, que faz com que não-heterossexuais tenham que se mobilizar para provarem que não são extraterrestres, nem inferiores, nem aberrações ou qualquer coisa do tipo. Na verdade, eu acho ridícula qualquer imposição que implique "provar" algo para alguém - começando pela ação de julgar as pessoas como culpadas, fazendo com que elas justifiquem sua inocência. Dessa perspectiva, os homossexuais são vítimas. Mas pretendo não insistir nisso. Não são "coitadinhos" como pensa a minha colega. O papel de homossexual na sociedade ainda parece absurdo: deixa-se de lado o indivíduo e centra-se na parte sexual. Como se tudo o que ele fizesse da vida fosse sexo, e de forma pecaminosa. Não falarei de Catolicismo... que interpretem como quiserem a mensagem do "Salvador", mas que sejam coerentes e não permitam mesmo o uso da camisinha (meu problema quanto a religiões está relacionado com essa modernização ausente ou presente de certas crenças) - afinal, "sexo é para reprodução" e toda forma de prazer deve ser proibida. Enfim. Sei que futuramente terei problemas em relação a esse assunto: não me farei entender e não estarei aberta para críticas. E acho lamentável que, na profissão que eu vou seguir, existam pessoas com idéias mais do que ultrapassadas e ignorantes. 

5 comentários:

Marianna disse...

ah, se eu tivesse escutado isso no meio da aula. >( espero muito que eles encaminhem pra outros psicólogos também haha e xuxu homossexualISMO implica doença, homossexualiDADE implica escolha, acho que é o termo mais adequado.

Ivy disse...

aimeudeus, ainda tem isso? :O
nho, thanks. :)

misty mate disse...

e é uma escolha?
ser "hetero", "bi", ou "homo" é uma escolha? (não que eu ache que seja um doença, lógico)

bah k'Ivy, fazia tempo que eu não lia algo que eu concordasse/entendesse tanto e que fosse tão bem escrito. gratz!

Jeferson Cardoso disse...

Ivy, por incrivel que pareça esse ainda é um assunto que gera muita polêmica.
Tenha uma boa semana.
Abraço do Jefhcardoso!
http://jefhcardoso.blogspot.com

Anônimo disse...

Baita comentário, Jef!
Puro brilhantismo!
(podia fazer só o merchan, nem ia ficar chato...)

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