segunda-feira, 29 de março de 2010

Free (lady)bird

E a gente rolou na grama, substituiu a imagem da lua pela luz alaranjada de um poste, se assustou com uma aranha esquisita que surgiu do nada, procurou coisas perdidas no escuro, forçou silêncio e deu risada. E fomos felizes.

Eu dizia que não, ele não dizia nada. Eu comecei a dizer sim, ele continuou sem resposta. E ficamos nesse diálogo imaginário, até que outras pessoas falassem por nós. Já éramos "nós" antes de ser. E éramos felizes assim. Talvez não tanto quanto se poderia ser.

E fugimos da mágica, acreditamos que o mundo externo ao da sala de cinema estava enlouquecendo, comemos qualquer coisa e voltamos à solidão de sermos dois. Sempre gostei das conversas e gargalhadas que nascem na distância entre um lugar e outro.

Entregamos o ouro: nós éramos os ladrões. E música vai, música vem, acabamos percebendo que certas músicas vêm de dentro. E que, das janelas para fora, nada mais importava: talvez a felicidade esteja em saber dar importância ao que é necessário ficar. Fogos de artifício.

Ele foi algumas vezes, mas nunca senti como se ele não estivesse. Para que fim serve o Natal quando se pode ter um Kwanzaa? Sempre fomos felizes com nossas palavras, apesar de elas constituírem um papel limitado. Ah, mais música!

A gente sempre deu voltas e voltas. E nos enrolávamos, nos abraçávamos, nos adaptávamos sem esforço, nos divertíamos criando sombras na parede. Esquecemos do tempo, da Coca, da rotina, das pessoas. Nos libertamos dos problemas indesejáveis e cultivamos nossas críticas comuns.

Fui vista, vi, gostei, gostamos, amamos. Senti, sentiu, sentimos. Meu pé com formigas, as mãos dele com feridas: se quiséssemos até poderíamos nos fazer rimar. Mas rimar pra quê? A graça é continuar com nossos defeitos tão harmoniosos. Continuar sendo feliz - progressivamente.

E colocamos os casacos, enlaçamos os dedos, tropeçamos por aí. Batata frita, música, café, jornal, sarcasmo: o mundo se torna melhor quando nos mostramos abertos ao que ele tem. Que seja ontem, hoje, sempre. Que tenha cheiro de cebola, gosto de xampu. Que seja, simplesmente seja.

E ele voou, eu voei, nós voamos. Nós sonhávamos o abstrato, hoje sonhamos o concreto. Canos de concreto. E rimos, e nos fazemos bem, e constituímos algo maior do que a soma das partes. E sentimos o que queremos dizer, dizemos o que pensamos sentir, "não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer".

A gente não sabe para onde vão os patos ou o que faz com que certas pessoas destoem do normal, não tem nossos nomes na página dos aniversariantes, faz cara feia nas fotos e discorda sobre cheddar e ervilha. E é feliz desse jeito, de outros jeitos, de vários jeitos.

Não sei se acredito em sorte ou acaso, mas o fato é que eu sempre quis me sentir como me sinto hoje.



sábado, 20 de março de 2010

nenhum sentido.

o que mais fere não é nem a ação que sucede a intenção, mas a expectativa por parte de quem vai ver tudo acontecer. ela ainda faz parte de um sonho - não necessariamente um desejo, mas uma tentativa de tornar plausível o futuro tão virgem. talvez fosse mais eficaz investir em uma pílula preventiva do que encontrar a cura para as decepções, os desamores, as coisas todas das quais sentimos certa saudade apesar não terem sido concretas. nada de modificar a memória... a solução está em tentar anular qualquer esperança. mesmo quando o que de fato acontece é melhor do que esperávamos, existe a angústia do sofrer por antecipação. um tanto dramático isso.

se, por um lado, acredito que nada vai bem quando existe algum problema amoroso a ser resolvido, de outro ponto de vista não consigo entender como uma relação boa  é, sozinha, capaz de suportar todas as nuvens negras do resto. apesar de as novidades terem um somatório positivo, nos últimos tempos estive lidando com situações não necessariamente novas mas, nem por isso, menos tensas. estou falando de vários assuntos intercalados, de várias pessoas e das redes que as conectam. cada ser com sua peculiaridade, sua individualidade, seu diagnóstico. cada pessoa com sua arma.

estava ouvindo repetidas vezes a mesma música, e me dei conta de que existe uma identificação que não existia antes. não ando vendo "motivos" para algumas pessoas, não consigo mais vê-las com algum sentido. e acho isso um tanto triste. e o que me atormenta é que ainda me sinto presa a um laço imaginário, a um quê moralista que me preenche com essas expectativas inevitáveis. mensagens dúbias não produzem bom efeito em mim. tudo vai indo bem e eu tenho conseguido me satisfazer. surpreendida agradavelmente. acho que o melhor para mim é não esperar nada de ninguém. deveria ser assim sempre.


sexta-feira, 12 de março de 2010

Re:

Nossa, como eu odeio essa mania alheia de querer transformar tudo em minha responsabilidade. Ainda mais quando as respostas para as perguntas não serão nem "sim" e nem "não" - devido à indiferença, não à indecisão. Porque nem tudo pra mim é importante a ponto de ficar, ou relevante o bastante para que eu sinta sua falta. Eu detesto essa postura inconveniente de quem me pergunta o que eu tenho para oferecer: já não é mais questão de ter, mas de querer. Não vou me esforçar para manter o fantasma-de-alguma-coisa, sabendo que este aparece quando lhe convém e só. E nem tenho tempo para essa bobagem. Se minha presença é necessária, que isso fique claro. Minha condição é fazer parte do todo: sem censura, sem segredo, sem silêncio. Ou isso ou nada.


quinta-feira, 11 de março de 2010

Por um Amor menos "perfeito", mais real e irreal.

Comercial de margarina nunca fez ninguém feliz. Eu gosto é de amar com turbulência, tempestade, intensidade. Ser e deixar livre, o que não significa esquecimento. Saber ser altruísta, mas reconhecer que um pouco de egoísmo, de vez em quando, não mata. Nada de perfeição, apenas naturalidade. Eu sou feita de emoções e quero saber que quem desejo não se mostra indiferente aos fatos - porque também sou racional, e priorizo o equilíbrio de forças. Mau-humor, cara feia e mão gelada: quero sentir todo o gosto amargo e humano. Quero entender todos os detalhes, e desentender também: quero ter o que não saber, quero me afogar no outro sem a preocupação de gostar do que eu vejo. Ter o desprendimento necessário para saber o que é voltar; manter a distância mínima e ainda sentir saudade. Rir, chorar, falar o que se deve e o que não se diz. Me colocar em primeiro lugar, em segundo, entre o "nós". Quero ter a certeza de que cometi todos os erros do mundo e que eles só me fizeram crescer. E também o orgulho de encontrar o melhor entre minhas ações. Ações impensadas, planejadas, desorganizadas, sujas, belas, sinceras: de cada momento, seu melhor. Comédia, muita comédia, e drama. Para mim, gostar de verdade exige essa confusão. A única certeza sobre o Amor é que ele é atemporal - e não necessito que isso tudo faça sentido: ele é o pai dos verbos.


sexta-feira, 5 de março de 2010

about priscila

acho chato que alguém deixe de parecer racional em função da identificação forçada com algum signo. é como buscar uma personalidade única num gosto extremamente comum. acho chato mesmo: ultrapassado, com cheiro de mofo, entediante. e acho estranho, muito duvidoso, quem quer mostrar seu lado excêntrico e "free bird" se escondendo atrás de imagens que não dizem nada. nada. pé, cabelo, dente torto: parabéns, você não é pretty! contudo, o mais intrigante de tudo é ver que um diálogo que nasceu e morreu em três dias permaneceu na memória por mais de ano. ouço o nome dela e demoro a recordar que a conheci - acho que ela, por sua vez, nunca tirou meu nome da cabeça e é capaz de reproduzir cada frase que eu não disse com perfeição. perfeição de dor-de-cotovelo, proveniente de uma história que nunca aconteceu e nem teria chance alguma de se transformar em um projeto ou qualquer coisa que o valha. e só me recordo de todo o blablablá devido a profunda dor de cabeça que isso me causou: falar português em terra de tupinikins nem sempre dá certo. "da terra" - pior de tudo, é que ela gostaria de ser definida assim. tão fixa, de olhos e ouvidos fechados, centrada em fazer crescer mato. não gosto de mato, não gosto de nada que não sofra transição. e, principalmente, não gosto de nada que não cresça, que não aceite seus erros. despejar bosta no ouvido dos outros realmente parece mais legal. e é por isso que ela continua fazendo isso sempre que possível. e, com a freqüência que ocorre, fico me perguntando se, pelo menos para esse fim, ela se move e esboça algum empenho. nossa, mudei a vida de alguém! sem querer, mas mudei. mas, para variar, ela mais uma vez não entendeu o que devia fazer: ao invés de espernear e tentar ser feliz de um modo meigo (já que originalidade é algo mais difícil de se conseguir), optou por continuar perseguindo minha paciência, a fim de eliminá-la com golpes baixos. não sei se toda essa perturbação é resultado de carência e teimosia apenas - desconfio que a raiva tenha algum motivo orgânico (seria mais fácil para eu aceitar o comportamento dela). seja como for, todas as tentativas de fazer com que eu me sentisse menos do que eu sou não foram nem um pouco satisfatórias. na boa, eu esperava mais. bem mais. acho chato (entediante mesmo) quando alguém que não te conhece fala de um amor quase experimental. e diz que você não sabe o que faz, que é isso e aquilo e que *pausa para pensar em algo que pareça provocar bom efeito* não presta. realmente, eu não presto pra esse tipo de gente. e assim será. acima de tudo, me incomodo com quem tenta me reprimir, "me ensinando" o que não sabe. acho chato, sabe? chato. mais chato ainda é ver o quanto uma discussão abostada pode influenciar alguém a tentar te afastar das pessoas. chato não, acho essa parte a mais engraçada. no duro. e o nome dela não era priscila, mas patrícia. uma vez falei isso errado, o que fez eu parecer mais insensível ainda. nem me importei. o problema em ser "insensível" é que isso te deixa longe da possibilidade de ser indiferente. bem chato.



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