sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Linha tênue.

Ela prometeu não chorar; ele prometeu não partir. Ele partiu e ela chorou, inconformada. "Foi ele quem quebrou o trato primeiro", pensou. Mas sabia que aquela não tinha sido exatamente uma escolha... assim como, sabia, ele entenderia - se isso fosse possível - que ela estava em situação semelhante, exceto pela distância de tempo que afastava os dois. O espaço entre eles não era maior do que alguns metros, visto que ela estava ao pé de sua lápide.

O sol estava se pondo - a tarde não fora muito animadora. Mais um desses dias com cara de nada. Ela ficou ali pensando, fazendo aquelas coisas que a maioria das pessoas parece fazer - pelo menos nos filmes: lembrar de uma ou outra frase que o falecido costumava dizer, numa tentativa de imortalizar seu pensamento, por mais insignificante que fosse a mensagem. Como se toda palavra dita merecesse glória. Realmente: algumas coisas só recebem valor depois de perderem o que faz com que sejam concretas.

Existe toda uma idealização em cima do estilo de vida onde se escondem certas emoções, ditas "fraquezas", do olhar de outrem. Ele não sabia que ia morrer, bem como ela não imaginava que, de um modo só, fosse quebrar duas promessas. Ou quem sabe três, quatro... Não ficaria com ele para sempre, nem morreria por não tê-lo por perto, não conteve suas lágrimas, nem soube alimentar sua imagem de invencível - mas ele fez o mesmo, o maldito. E se foi assim, sem dar aviso: verdadeiro absurdo!

Passou pelo portão arriscando a tentativa de um plano B - se atirar na frente do caminhão de lixo, que fosse -, mas sabia que a diferença já existia. E o problema maior não seria enfrentar a vida como ela é, a morte que chega repentina ou a dor de um adeus silencioso, mas a impotência que havia em tudo aquilo. Quebra-se a rotina, quebra-se os desejos.


terça-feira, 28 de outubro de 2008

Colornight

Eu fecho os olhos e vejo manchas coloridas. E elas se juntam, se misturam e se separam de forma tão aleatória que é como se eu sentisse cada um dos meus olhos se voltar para um eixo independente do outro, como se eu fosse uma iguana ou um desses bichos verdes. E, se eu eu penso nessa coisa de que não faz sentido ou não existe possibilidade de ser real o movimento, as cores todas desaparecem e fica um preto borrado tão amargo que se torna inevitável levantar as pálpebras. É como se a razão interferisse diretamente na magia da coisa. E toda a situação é uma coisa tão particular, mas tão particular... eu adoro brincar com isso, mas acredito que passe despercebido para grande parte das pessoas. Como quando a gente fecha os olhos ao deitar num lugar descampado, num dia de sol forte. A luz praticamente cega, então os olhos se fecham e dão lugar para um laranja com bolas amarelas maravilhoso. Ou não, fica meio vermelho - e os olhos ardem e pedem pelo azul. O azul de sempre, confortável, macio, brincalhão... que se converte em roxo e verde, às vezes em rosa... O azul de sempre, que surge mesmo no escuro. Aliás, os feixes azuis estão por toda parte. E eu acho isso uma coisa bizarra. Quer dizer, eu nunca sei o limite... até onde a física (ou outra disciplina) explica e até onde a coisa passa a ser fantasia, ou sobrenatural. Pelo menos o fenômeno dos círculos brincalhões, de cores variadas, acontece sempre... ao contrário do contorno luminoso de coisas vivas e mortas, que só aparece nas horas menos convenientes - ou, pelo menos, não quando se deseja. Tipo quando o assunto está muito bom e de repente você fica meio off da conversa porque está concentrado nas mãos da pessoa, que de repente ficaram com uma linha colorida. Não é nada muito doente pensar nisso. Dá até pra comparar com aquele e-mail que circulava por aí, há uns milênios atrás... com uma imagem de jesus meio torta, em preto e branco. Daí, quando se piscava olhando para uma parede branca, se via a imagem bonitinha dele. Eu misturei os relatos, porque eu não acho que tenha tanta relação a coisa das luzes coloridas de quando fechamos os olhos e brincamos pelas superfícies com a coisa de ver linhas fixas, que seguem pessoas e enfim. Baby, tô com sono. Hoje a minha mão tá verde-amarelo-fusquinha.


ESSA COR É PROPOSITAL PARA INCOMODAR OS SEUS OLHOS E TE OBRIGAR A PISCAR MAIS.
(Mas eu sei que você sabe selecionar o texto com o mouse e acabar com o problema.)

que tri, essa imagem é muito parecida com a de baixo.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

dis-simulando.


Tinha uma impressão digital aqui na tela do monitor e eu "apaguei" ela com o meu dedo. Ok, era só uma maneira interessante e monótona de iniciar um texto, que por sinal é só mais um. Mas that's ok. Eu cheguei muito acabada e me permiti parar de fazer um prova (de biologia, em que faltam umas cinco questões para acabar) e, bem, adiar as outras cinqüenta questões super gostosas de química e geografia para outra hora qualquer, quando minha cabeça estiver longe de parecer um tomate (?). Na verdade eu falei das questões mais para me satisfazer mesmo do que para para "impressionar", se é que isso cabe aqui. Eu acho que ninguém vive direito sem passar pela etapa de se descabelar pelo vestibular, mas isso é só um pensamento interno, não vou explanar o drama construtivo. Na verdade eu vou ficar falando sobre nada, até me dar vontade de parar. Eu demorei três vezes mais para chegar em casa, depois de ficar umas duas horas num hospital ouvindo sobre coisas MUITO abstratas. A experiência foi meio estranha, em parte porque foi meio difícil esquecer que as pessoas não falavam alto nem nada por quase o mesmo motivo das paredes serem verdinhas. E, por mais que eu não pensasse nisso antes, eu passei pela portinha da saída olhando para uns dois velhos que estavam ali em pé, não sabendo se eram estranhos esperando por alguém ou, enfim, por um exame ou sei lá. Isso me lembrou de uma cena, uma vez, que eu vi em outro hospital há um ano ou por aí. Mas eu não queria entrar nessa coisa de falar de ambientes que te fazem pensar ou sentir, nem sobre porque Psicologia pode ser útil. Tudo pode ser útil, não vou entrar nessas de achar o que eu gosto especial. Apesar de suspeitar profundamente de pessoas que adoram ler livros enormes e bizarros só para beijar os pés do autor, ou estudar engenharia cartográfica numa sexta à noite, mas tudo bem: existe louco para tudo - e, para cada um, um psicólogo. Digo. Ok, isso foi uma brincadeira cretina. Hoje eu usei suspensórios legais sem me sentir corcunda. Peguei o ônibus mais cheio da minha vida também, mas por incrível que pareça poderia ter sido muito pior (deve ser priminho do T4, ainda não ficou grandinho o suficiente para se comparar ao mestre). Eu já nem sei o que queria falar. Só sei que precisava escrever. É sério, tem vezes em que eu me sinto tão incompreendida. Não no sentido dramático, mas ai! Eu ainda acho que as pessoas poderiam ter mais noção do bom senso - e menos do senso comum, mas eu vou parar por aqui. Tanta gente junta não pode estar tão errada, né. Sei lá, aula de filosofia e lógica e sei lá mais o que te faz ficar meio na Lua. Teorias discutindo a possibilidade da máquina ter pensamento próprio, decisões que independem da mão do homem; determinação de limitações para conceitos pré-formados... e, nisso, a conclusão de que é praticamente impossível a satisfação com a própria autodefinição. "Definir-se é limitar-se" - quem o disse não foi gênio, só manjava de latim. Grande merda. Quer dizer, eu pago um pau para latim e certas coisas que, enfim, fortalecem algumas crenças individuais, mas todo mundo tem o direito de pensar algumas coisas aleatoriamente e não explicá-las. Eu vi Olga ontem e O Nome da Rosa (pela trigésima vez), o que me fez ficar sonhando acordada um pouco - não com o tom de fantasia da Disney, só aquilo de te roubar a atenção durante ações cotidianas, tipo lavar as mãos com água fria (e como é bom com esse calor!). Eu não gostei de algumas coisas do primeiro filme, mas elas foram minoria. Na verdade fiquei com vontade de testar de novo algumas coisas. Quer dizer, tinha toda a questão do nazismo na história e, sem choro ou algo assim tão concreto, de alguma forma eu me senti sensibilizada. Tipo que eu vi a Lista de Schindler, gostei e tudo mais mas não consegui sentir nada muito profundo. Talvez por estar acompanhada de umas trinta cabeças que não fechavam a boca (eu não lembro dos detalhes, mas bem...). E ultimamente eu tenho me deparado tanto com sirenes de ambulâncias e carros da polícia e afins, e isso me deixa meio perturbada. A história da Eloá me deixou meio pensativa também. Que pressão que a mídia faz, cruzes. 90% da culpa do mundo vem desse poder distorcido da comunicação. Ah, eu também fiquei tendo idéias radicais sobre como educar crianças. É sério, meus filhos serão um exemplo de disciplina! E nunca vão fazer aquelas orgias com direito a presente (H.I.V.), como eu li outro dia. Que merda, as pessoas que fazem essas idiotices e depois sou eu quem tem que rever os conceitos. No fundo, me deprime pensar que eu estou fugindo de algumas coisas - mas é mais fácil pensar que eu estou encarando outras e tentando fazer o esforço valer. As minhas unhas se foram de novo (eu ainda as tenho nos dedos, ok?) e eu não sei o que dizer ainda sobre a dança. Ir ou não ir, eis a questão. Nesse ponto, eu tenho certeza que só eu entendo a minha dificuldade - não por maldade, mas porque as pessoas não têm a mesma vivência. Talvez eu fique esperando ouvir coisas sem dar a entender ou mesmo merecer que é preciso que alguém diga alguma coisa. O meu cabelo tá tão feio e eu ando tão indisposta para Literatura. Queria dar um pulo nas minhas futuras férias, com anime, sorvete e boa companhia para risadas e passeios divertidos - mas talvez isso sirva de motivação para baixar a cabeça, fechar os olhos e esquecer tudo o que não é o que eu preciso saber agora. Não sei agir em despedidas - e essa imagem me lembra alguém.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Camomila

E ficou a mexer a colher, observando o redemoinho de achocolatado que se formava sobre o leite morno. Olhava para o conteúdo da caneca sem realmente ver nada, indiferente. E quem se importa se o pó é dissolvido totalmente? Ela nem pensava nisso, não naquele momento. E, se é verdade que as coisas só existem quando consentimos sua presença e participação na nossa realidade, aquela colher, aquela mesa e todo o cenário estaria comprometido se dependesse apenas da vontade de Luísa. Contudo, felizmente ou não, aquela cozinha ainda era bem concreta, com todo o cheiro característico de pão a que tinha direito. Não foi obra minha: veja bem, eu nem participo da história - apenas apresento os fatos. O que não posso é dizer o mesmo de Ian: a culpa do pequeno apartamento não se transformar em ruínas foi toda do rapaz, que ainda lembrava de cada centímetro do lugar. Cada centímetro é realmente um exagero, ainda mais para ele: alguém que está sempre preocupado, ansioso, perdendo chicletes que caem dos bolsos, certamente não sabe dizer muito sobre a riqueza de móveis e paredes nuas. Ela costumava gostar disso, costumava achar adorável a desatenção do cônjuge. E não é que tenha deixado de gostar da característica... o caso é repetição do ocorrido no início: passou a olhar sem realmente ver. E essa não é uma história para narrar como é possível que um relacionamento tão forte tenha suas bases, suas fontes de afeto, destruídas ao longo do tempo ou pela convivência acumulada - como se dissolve achocolatado no leite. Se engana, também, quem imagina que os dois estejam juntos vivendo uma realidade mágica, de contos de fada. Fisicamente, Ian e a namorada parecem irmãos: os cabelos loiros do sol, desgranhados, encantadores e macios. Carregam dores diferentes no olhar: os olhos dela são mais cinzas, mais parecidos com a tempestade. A íris verde do olho dele não é capaz de falar muito por si só, mas traz um brilho irresistível. E caminhavam juntos no calçadão da praia, de mãos dadas, passos retos e constantes, porém com destinos diferentes. Dificilmente se cruzavam em sonhos e devaneios de apaixonados. Luísa tomava muita água durante o dia e muito café durante a noite, para se manter acordada. Ian chegava de madrugada, fazia torradas e sentava ao lado da amiga e amante no tapete felpudo da sala, para saber as notícias do dia - que nunca eram muitas, mas serviam de aperitivo para a lista de músicas que os embalava num sono aconchegante duas horas depois. A rotina mudava em sextas e domingos, quando pediam pizza ou dormiam em outras casas. Ele não gostava que a namorada visitasse Marcela, mas não interferia na amizade das duas. Por sua vez, ela não gostava de tê-lo distante, com o celular desligado: a verdade é que ele não dizia onde ia. Nunca disse. E por maior que fosse a certeza dela, sempre existia uma voz que repetia a dúvida "ele volta?". E, naquela noite, ele ainda não tinha chegado. Dentro de três horas o amanhecer seria inevitável - e, conseqüentemente, a tempestade também. Não falo da tempestade que vem do céu, mas daqueles olhos tão femininos e pequenos de pupilas dilatadas. Pouco importava o leite derramado ou a tal da Marcela, que a ficara esperando na porta de uma casa noturna: Luísa fazia do redemoinho marrom o seu relógio, onde a inconstância servia de ponteiro. A manteiga ficou sobre a mesa limpa, do lado dos pães - de cujos aromas já não eram os mesmos. Talvez fosse mais fácil resumir tudo com uma frase que expresse saudade, mas o sentimento humano vai além das palavras. Tampouco era tristeza o que sentia a bela moça. Digo bela, mas ela pode ser feia também - pouco importa sua aparência. Ninguém é tão bonito às quatro horas da manhã. Nem mesmo Ian, que girou a chave na fechadura uns dezoito minutos depois de Luísa adormecer sobre os braços. E, por mais desligado que ele parecesse, entendeu que havia algo errado: ao invés de café, chocolate; ao invés de um beijo macio e quente, um pedido silencioso de colo. Eu não hesitaria em dizer que a jovem se sentia como uma colher ou qualquer coisa material que precisa da devida atenção para se sentir viva, mas não seria justo com ela expressar a minha visão como sendo uma verdade universal. Só ela conhecia o que estava escrito nos olhos verdes do rapaz de cabelos de camomila - e o segredo e a moral da história dependem, primeiramente, dessa informação.


terça-feira, 14 de outubro de 2008

Ele.

Ele foi lá, sentou na cadeira e ficou só observando. Naquele lugar, ele não passava de um mero personagem perdido no cenário; aqui, ele pode ser quem quiser: é o personagem principal. Único e principal.

E ele quis que fosse assim, curto e rápido, sem floreios. Vontade seja feita.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Solitudine


Eu não sei se deveria me desculpar pelos últimos dias, quando a minha cabeça seguiu na direção oposta ao corpo, e o coração foi para o outro lado e, assim, foi realmente difícil que alguém me encontrasse inteira por aí, sem faltar um pouco de senso de humor ou sensibilidade ou mesmo um pingo de atenção e raciocínio. Ao menos meu alongamento melhorou. Sei lá, na real seria pior ainda já começar o dramalhão com isso de pedido de desculpas. Quem realmente tinha que ouvir isso já ouviu pessoalmente. Entre outras coisas, de repente mais óbvias e de mais fácil entendimento, o que me tira o sono é aquela reconstrução nostálgica de coisas que foram e não foram, do que falta ser dito e de como algumas palavras realmente não serão ditas. Eu não me sinto tão abalada com a distância, mas com a impossibilidade. Quando alguém está longe, ele pode continuar perto - basta vontade, lembrança, já não sei. Mas isso não me conforta agora. (Drama). E eu falei disso pra umas três pessoas e de repente não foi como eu queria que fosse, na maioria, e eu não esperava muito mais do que isso mesmo, afinal sou eu que tenho que sentir o que eu tenho que sentir (ótimo uso de palavras, dona Ivy), nem existe razão em esperar que mais alguém se fira com isso. E o fato é que talvez não mude nada mesmo, afinal a distância já existia. Só a impossibilidade, essa sim, nunca tinha se apresentado. E, num momento onde tu se sente um lobo gordo entre ovelhas meigas, ver pessoas se perderem no caminho, tipo água escorrendo pelos dedos, é realmente uma merda. Ainda mais quando é uma daquelas que te fizeram crescer e honrar o valor de uma amizade. So here i go...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Olá! Só passei pra dizer tchau.

E, hoje, no ônibus, eu encontrei um conhecido que me perguntou com uma cara suspeita se eu continuava a mesma. E já foi consentindo que sim, que eu não mudei. E eu pensando no que pensar. Porque eu não sei bem como ele me via ou como as coisas eram exatamente para saber o que foi modificado ou não. E, grande merda, não me importa (aquela velha história de "hey, babe, você não paga as minhas contas"). Mas eu me senti indignada um pouco pelo tom de deboche e um pouco por eu me sentir ofendida (sendo que foi tudo fruto de, sei lá, desconfiança). E, num dia como hoje, uma coisa bobinha dessas me deixou pensando uma série de coisas. Ouvir o cara falar com uma guria sobre coisas aleatórias e lembrar de quando era eu a "ouvinte oficial" (a pessoa pra quem ele tava dirigindo as palavras, não uma qualquer que escuta a conversa dos outros no ônibus), de quando tivemos conversas boas e construtivas sem existir esse olhar de "antes e depois". Eu não senti saudade, de um modo afetuoso, mas senti um pouco de remorso ao lembrar que um dia existiu respeito (eu não isso pela história do ônibus) e que ele se dissolveu por razões infelizes. Tá, mas isso foi uma linha. A página de hoje é pensar besteira, conciliar fatos que seriam melhores se "simplesmente não fossem", pensar em escrever um monte de coisas e depois me arrepender por ter atos insensíveis, mas também ser emocional demais. E é meio estranho quando tu pensa em uma coisa e de repente ela aparece na tua frente com o mesmo jeito de sempre, só que para te dizer que isso nunca mais vai ser assim. Eu já não entendo nada.

"E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração..?"

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Shining trough...


E eu sentei ali por uns minutos ou, talvez, horas, ou dias... Pouco importa. O bizarro foi aquela sensação que há muito eu não sentia, sobre tudo e sobre nada, aquela coisa sem nome que é o poder de se sentir realmente bem não pensando em nada, não vendo nada, não sentindo nada - e ao mesmo tempo tendo a certeza de que cada segundo estava sendo aproveitado ao máximo. Vento no rosto. Vento nos cabelos, um pouco de luz nos olhos - uma pequena confusão para manter a certeza de que somos humanos. Vento e barulho de gente, mas ainda assim o mais intenso silêncio. As coisas mundanas realmente perdem o brilho diante de um desses momentos de refúgio, que não são nostálgicos nem nos remetem ao futuro. E, só de lembrar, dá vontade de fazer isso pelo resto da vida - o que me conforta é que não é nada que possa ser planejado, com a possibilidade de dar certo ou errado, mas algo totalmente espontâneo. Tipo aquela chuva gostosa de verão, ou aquela música perfeita tocando em algum lugar repentinamente.

E eu olhei pro lado e vi outro de mim, ali parado. De olhos semi-fechados, com vento nos cabelos. E nada precisou ser dito, nada precisou ficar mais claro: a sintonia é causa e conseqüência. Liberdade e companhia, tudo no mesmo pacote. Impossível não se sentir realmente bem.
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