sábado, 12 de abril de 2008

pt. 11

- Você quer que eu acredite nessa história? Francamente, uma criança mente melhor do que você! - Arthur passou a mão pela testa, acariciando os fios do cabelo. Apesar da expressão fechada, não estava necessariamente irritado. Apenas não entendia porque Thomas estava tão concentrado em inventar uma verdade para o colega encrencado. - Um de vocês fez algo de muito errado, muito errado... nunca vi uma atitude dessas antes vinda do grandão, Antoine, - e lançou um olhar ao rapaz que, vestindo apenas a calça, girava numa cadeira do escritório. - se eu fosse você me preocupava.
- Ele não mentiu, chefe.
- Não vou insistir. - Lançou um último olhar, um tanto ameaçador, para o segurança. - Só espero que você não tenha desrespeitado nenhuma das minhas regras, meu jovem. Nada de sair à luz do dia. Melhor: cada passo seu deve ser informado para mim previamente. Ainda estamos num esconderijo, você não vai querer pôr em risco a segurança do local, não é? - Cruzou os braços. - Não... Você não seria tolo o suficiente. Não quero que ninguém conheça seu rosto. Ninguém. Isso é fundamental.
- Mas, cá entre nós, não é estranho eu ter desaparecido assim da empresa, digo sem motivo aparente?
- Eu não te disse que foi sem motivo aparente.
- Haha. Você me matou também? Forjou meu assassinato? - Antoine se divertiu, pensando em como sua vida poderia mudar ainda mais. A descarga de adrenalina aumentava a cada dia que realizava uma nova missão para Arthur.
- Talvez.
O rapaz ficou sério, firmou os pés no chão e, estático, refletiu sobre com quem estava lidando. A alguns passos de distância, sentada num sofá antigo de couro marrom, Agatha escutava atenta a conversa dos três. Pela primeira vez ela não se sentia diminuída. No fundo, não fazia idéia do que estava prestes a acontecer dali adiante. Não se impressionou com a resposta de Arthur. Observava o ambiente, curiosa. Então era ali que o velho genioso passava as horas... Tanto poder o dele, tanto lixo no quarto abafado. Se sentia incomodada pelos constantes olhares de Thomas e já não raciocinava direito: há algum tempo atrás ela estava aos berros, desejando a morte de Arthur. Um pouco depois, pensou em salvar sua vida e, agora, pouco se importava com sua presença.
- Thomas, leve-o daqui.
- Hey, espera, eu não fiz nada! - Os braços do rapaz foram espremidos entre mãos gordas e escuras. - Eu posso ir sozinho, eu... - Sua boca fora tapada e os olhos vendados. Em questão de segundos já estava no corredor, sendo carregado pelo forte segurança.
Arthur suspirou, fechando a porta com um tapa seco. Era muita informação para a cabeça de Agatha, percebia. Sabia que, ao permitir que ela conhecesse parte do lugar onde estivera presa e, principalmente, deixando-a presenciar algum diálogo que não a envolvesse (o que a faria pensar sobre o comportamento padrão dele), conquistaria um pouco de consideração. Só não entendia o porquê dela não reagir ao ver Antoine ser expulso da sala daquela forma. Será que não compreendia o que o destino faria dele em seguida? Seria uma vingança contra o sujeito que não lhe ajudou quando ela precisou? Medo de voltar ao quarto espelhado após se intrometer num assunto em que não estava incluída?
- Ele vai morrer?
- Um dia.
- Porque se sujou com catchup?
- Querida, eu dei ordens para que ele me pedisse permissão para sair.
- Ele disse que a merda toda aconteceu na cozinha.
- Eu conheço o Thomas desde a minha adolescência, acha que eu me deixo enganar por aquelas palavras tolas?
- Você não confia no Antoine?
- O Thomas deve segui-lo. Sempre. O Antoine não é o primeiro garoto que se aventura por aí pelas minhas costas.
- Você não respondeu a minha pergunta.
- Você não entendeu onde eu quero chegar. - Após breve silêncio, onde os dois se encararam sem piscar os olhos, continuou a falar. - Você mudou, menina. Em segundos, mas mudou.
- O Thomas te contou onde ele foi? Onde eles foram...
- Depois saberei dos detalhes.
- Que nojo, você arma essas confusões entre seus próprios funcionários. Garanto que o Antoine pensava que o Thomas era um cara legal.
- Certas medidas são necessárias.
- E o que vai acontecer com ele?
- Nada. - Puxou uma cortina, que cobria um grande monitor empoeirado. Ali estava Antoine, sedado numa cama. O quarto espelhado parecia outro visto de fora. - Uns dois dias vivendo sua vida e depois estará de volta do susto. Ele é um bom rapaz.
- E eu, o que vai acontecer comigo agora?
- Não pensei nisso ainda. Não previ que Antoine fosse passear, não previ meu desmaio.
- E os planos-B, não existem?
- Você me responde: existem?
- Hum?
- Eu sabia que você carregava um estilete.
- As câmeras... - Pensou alto. - Porque você ficou sozinho? Quer dizer, o seu segurança particular estava fora daqui...
- Você está livre, livre por dois dias. Para circular aqui dentro, é claro. Duvido que isso represente uma ameaça para mim.
- É, tem razão. Eu não te odeio tanto assim.
- É claro que não. - Caminhou rapidamente em direção à saída. - Bom, vou falar com Thomas. Nos vemos no jantar.
- Porque, de repente, isso ficou tão fácil?
- Isso o quê?
- O jogo. Seu jogo.
- Porque eu também não te odeio tanto quanto eu pensava. - Ele falou isso em tom baixo e seco, como se sentisse repulsa ao se mostrar um pouco afetivo. - Não, isso não é uma declaração de amor. Eu apenas estou grato pelo que você não fez ainda.
- Pelo que eu não fiz?
- Eu ainda não te causei dor o suficiente para a sua lâmina me ferir. Destruir sua vida social é só o começo. Agora falta eu descobrir suas motivações.
- É esse o plano, então?
- Só o início... do plano-B.
- E como ele termina?
- Não parece óbvio? Bom, tenho que ir. - Antes de desaparecer, sorriu pacificamente. - Agradeço se o que conversamos não chegar aos ouvidos de Antoine. Ele ainda é novato nisso... no jogo.

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