terça-feira, 16 de agosto de 2016

Quando dois não é par

Eu não te amo. E a recíproca é verdadeira. E isso não deveria ser um drama. Se tem algo que a passagem do tempo faz é limpar um pouco o romantismo das coisas. O cru é mais honesto. Já basta o esforço diário para desempenhar um papel razoável no trabalho, no grupo de amigos, no meio familiar. Voltar para casa, para o quarto silencioso, é protetivo. Para mim e para quem precisa conviver comigo. E creio que seja o mesmo para as outras pessoas. Depois da urgência típica da juventude, de quem parece sentir o futuro distante - como se nunca se concretizasse -, vem uma certa calma. Não chamaria de tranquilidade, mas de movimentos e intensidades atenuadas. A rotina estabelece tédio e segurança. Toca o despertador na segunda, na terça, já nem importa o dia. O conhecido é confortável, fácil de acomodar. Também desacomoda, quando o sono não vem ao deitar. Dormir parece ser um parâmetro adequado para avaliar o momento pessoal de cada um... Se o sono chega antes que o corpo possa se ajeitar na cama é um sinal de que temos tido pouco tempo para pensar, para ponderar sobre o ontem e o amanhã, que o impulso tem prevalecido. Quando o corpo nos permite pensar demais, sem que os olhos se fechem, indica que nossas nuvens insistem em chover no mesmo terreno exaustivamente, até a última gota, como se não soubessem viajar e encontrar terra seca. E tem aquelas noites em que dormimos sem realmente descansar. Estranhos tempos estes, em que sonhar virou tarefa para se fazer acordado, mas limitada aos intervalos de outras atividades.

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