E eu poderia ter dito "Quer merda, John! Você fudeu com tudo!", mas dizer "John" no Brasil parece forçado, e dizer que o tal John teria realmente fudido com tudo seria mentira. Então, por um tempo, eu esqueci que estava no Brasil e procurei fingir que desconhecia as porcentagens de responsabilidades entregues a cada pessoa envolvida (50% pra cada um, afinal éramos apenas dois). Eu disse "Porra, John, você sempre fode com tudo!", o que era mais mentira ainda. Quando algo chega ao ponto de ser 'mais mentira ainda', é sinal de que perdemos a cabeça. Totalmente. Sem voltar atrás. E o John me olhou assustado, mas daquele jeito convicto. Ele sabia que ele estava certo. Mais do que isso: ele sabia que ele estava certo e que eu estava errada. Completamente errada. 100% errada. Ele deu um passo largo para trás, e ficou me olhando com uma expressão séria. Não era parecida com a cara de um pai quando está irritado com o filho, nem aquele tipo de seriedade que pode facilmente ser amenizada e seguida de um movimento engraçadinho de sobrancelhas: quando eu digo séria, eu digo realmente séria. E ela não mudaria por nada, eu achei. E pensei "Putz, Lia, você sempre fode com tudo!". Meu nome não é Lia, mas juro que no momento eu me autonomeei assim. Acho que a vergonha foi tanta que eu queria fugir dali e o máximo que eu consegui foi tentar mudar de identidade, mesmo que isso servisse de escudo invisível que não dura mais de doze segundos. E, no final, foi só isso: uma dessas atitutes que a gente tem por impulsividade, impulsividade pura. E se arrepende depois. Mas aí já era tarde: eu já tinha fudido com tudo. É o que acontece quando a gente está convicto demais de que pode ser uma Lia. Ou não.
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