Eu saí da cama e evitei minha cara de bunda no espelho do banheiro, procurando escovar os dentes centrada no ralo da pia que, por sinal, estava cheio de cabelo. Sentei na cama para calçar os tênis, colocar desodorante. Eu ia colocar um blusão laranja, mas sempre ouvi que a cor da roupa entrega o nosso humor ou coisa assim, que tem o poder de afastar ou chamar gente para perto, então eu resolvi trocar para um moletom cinza liso com capuz: nada mais inexpressivo que isso. Eu comi alguma coisa e só percebi que estava chovendo quando já estava lá embaixo. Eu geralmente gosto de chuva - o problema é que as outras pessoas não sabem se portar debaixo d'água. Elas pisam nas poças e dirigem de maneira equivocada. Eu geralmente me aborreço com isso, sabe, mas hoje eu acho que não tinha mais nada que pudesse piorar o que eu estava sentindo. Nem calor, nem metrô lotado, nem vendedores do tipo fanáticos religiosos. Tá bom, talvez eles. Mas não apareceram. Sabe, inconsolável talvez fosse o mínimo. Eu quero dizer que nem mesmo alguém que já esteve na mesma situação poderia dizer que sentiu o mesmo. Eu vesti cinza para ninguém achar interessante a minha presença - e não é que eu precisasse de muito esforço para tal -, mas sempre existem os teimosos que insistem em puxar assunto. Teve uma velha e ela comentou sobre uma garota que passou por nós duas, só que eu não concordei com o que ela disse e me fiz de surda. Quer dizer, que saco essa gente. Eu juro que não gosto de ser desagradável, mas vontade sempre existe. Eu botei os fones de ouvido e tentei me esquecer de tudo, de quem eu era e da minha realidade. Não deu tão certo, mas eu não vou dizer que podia ser pior porque não podia. O fato é que eu estava péssima. Nesses dias que a gente se sente gorda e fraca ao mesmo tempo, sabe? É claro que você não sabe. Como eu disse, ninguém sabe. Às vezes, eu acho que eu nasci para ficar sozinha. Nas outras horas, eu não penso em nada e escuto música.
Um comentário:
acho que o final foi repetido.
Postar um comentário