E ele abriu os braços rapidamente, protegendo aquele pedaço de solidão. Sabia que se completavam - ao menos nessa semelhança, em que um concluía a tristeza inacabada do vazio do outro. Seria um abraço silencioso, não fosse o soluço abafado. Normalmente ele sabia o que fazer, mas essa situação foi totalmente inesperada. Olhou ao redor, pensou em acomodá-la em um banco, mas não fez nada além de acariciar seus cabelos, um tanto nervoso. Paralelamente, seus pensamentos beiravam o branco - não havia o que precisasse ser nítido, uma vez que era ele quem deveria manter o controle. O vento gélido não foi suficiente para acabar com o calor daqueles corpos tão colados, unidos não só pelo toque da pele. Algum outro narrador mais piegas enfatizaria que os dois corações batiam juntos, mas falar isso com tanta emoção seria denunciar que eu nunca vivi tal sentimento. Falar na terceira pessoa pode ter um sabor especial, sabendo que posso acrescentar detalhes e enfeites que não passariam de fantasia aos olhos de quem lê caso eu me posicionasse como a mocinha desabrigada que busca refúgio nos ombros de um alguém. Nos ombros de um alguém. O ponto é que encontrar 'alguém' vai muito além de trocar carícias e palavras, muito além das verdades e mentiras que se cruzam nos olhos, muito além de conhecer uma pessoa e gostar dela - aprender a gostar, como diriam alguns. Diferente do que se lê em poemas ou se percebe em uma novela global, o processo do autoconhecimento nem sempre é individual, simples ou descritível. Ás vezes, é preciso buscar em um abraço o pedaço que falta, que insiste em gritar - uma vez que o soluço se silencia, a terceira pessoa (ou eu, como quiser) -, sabe que está diante de 'alguém'.
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