faz tempo que não sei quem sou. esqueci de mim. apertei as narinas para dar um mergulho, mas não retornei à superfície. fiquei imersa na imensidão, no caos, na suavidade que amedronta. esqueci do mundo. e voltei sem entender ao certo quanto tempo tinha passado. às vezes, isso ainda acontece silenciosamente. sempre que eu retorno de um mergulho profundo, não reconheço meus dedos nem os fios de cabelos boiando ao meu redor. é como se eu sempre voltasse diferente. e dessa vez não tem sido uma exceção. não sei quem está ao meu lado. nunca soube. em nenhuma das vezes, tive certeza. certezas e pessoas não combinam, não formam um par. e o que mais me assusta é perceber que eu não me conheço suficientemente bem para entender todas as minhas motivações e justificativas. existe intenção, vontade, chuva de emoções. existe verdade, razão e sentimentos. existe o mar e todo o mistério que o envolve. tudo existe. não há o que não tenha sido inventado. me reinvento toda semana, toda quinta-feira, toda vez que encho a caneca de sucrilhos, toda vez que percebo meu rosto no espelho. e, cada vez que eu retorno e as dúvidas parecem ter se multiplicado, é inevitável me afogar. nem sempre o pé alcança o chão. nem sempre existe fundo.