quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sobre meninas e lobos.

- E então, o que você vai contar?
- Como assim?
- A gente acabou. Que história você vai contar pros seus amigos?
- Nenhuma. Nenhuma ainda, ainda não sei, tenho que pensar...
- Pelo menos você foi sincero, não disse que ia contar "toda a verdade".
- É que, sabe, eu não acho que eles tenham que saber.
- Ok, retiro o que eu disse. Você não precisa dar uma de bom samaritano agora e se importar comigo. A nossa história acabou, entende? Não vai pegar mal se você me cobrir de adjetivos maldosos e essas coisas.
- Mas não é isso que eu quero fazer. Você foi importante pra mim e tudo o que aconteceu foi nada. É normal acontecer esse tipo de crise, cansar, sabe? Eles nem tem o que entender.
- E toda a parte das coisas que você perdeu enquanto estava comigo?
- Eu não perdi nada.
- Certeza?
- É. Eu juro que tento entender de onde você tira todas essas idéias conspiratórias.
- Não... não é isso. É só que, bem, nós estamos quebrados, entende? Mesmo que a gente tente, não seremos amigos agora, assim de repente. Pra dizer a verdade nós seremos nossos piores inimigos pelos próximos meses.
- Porque nós namoramos?
- É, porque você me conhece bem e eu te conheço bem também.
- Nós não nos conhecemos bem, é por isso que a gente está se afastando.
- Mas ainda assim nós temos informações confidenciais um da vida do outro.
- Que seja. Mas eu não pretendo atrapalhar os seus planos.
- E o ciúme?
- Eu nunca tive ciúme, você sabe.
- É, eu sei. Que lixo.
- Sabe, você estava certa quando falou que eu preferia meus amigos.
- É, eu sei. Isso é típico de vocês... as mulheres são mais impulsivas e deixam as amigas de lado facilmente, mas vocês...
- Eu fico feliz com isso. Quer dizer, não por você, mas por estar do lado de cá. Certos ou errados nós nunca saímos um do lado do outro.
- E o que eles diziam quando a gente brigava?
- Depende. Já me mandaram correr atrás de você e já me mandaram te esperar ligar, ir pra uma festa, sei lá.
- Eu sempre tive medo de invadir o território, sabe. Eles são teus amigos, não meus.
- Poderiam ser nossos se você tentasse. Mas eu fico agradecido, na verdade, por você ter respeitado isso. Eu te admiro bastante.
- Admira...
- Não tanto quanto eu já admirei. Sabe, esfriou mesmo. Eu achei que fosse ficar pior num dia como hoje, mas eu estou bem.
- Isso é porque eu estou conversando com você ao invés de soluçar.
- Foi você quem começou, não deveria soluçar mesmo.
- Não é bem assim. Eu estou tentando ser forte, só isso.
- Eu não sei qual é a dificuldade nisso.
- A dificuldade é que você usa sua sensibilidade com a mesma freqüência que usa cosméticos.
- Eu entendi que além de frio eu sou sujo, mas existem outros jeitos de dizer isso.
- Você não fica nem um pouco triste?
- De saber que agora estamos livres para buscarmos a felicidade em outros lugares?
- Nós sempre estivemos livres.
- Não é verdade, gata.
- Eu esperava que você se mostrasse mais sensibilizado. Nós passamos bastante tempo juntos.
- Eu fico te olhando e pensando que, por mais bonita que você seja, eu vou desejar não te encontrar por aí.
- É, vai ser uma merda mesmo te ver com aqueles caras, dando risadas. Eu vou saber que você está bem e você vai ver que eu sou totalmente o oposto.
- Essa sua mania de sofrer sempre me aborreceu.
- Eu sei.
- A vida é mais Blockbuster que isso, sabe? Não adianta você ganhar um Oscar se o filme é anônimo.
- Tem sempre alguém que vai querer assistir o filme.
- Não é legal assistir teu sofrimento habitual. É todo dia, por qualquer coisa. Eu não tenho que fingir que gosto mais de você, isso é legal.
- Puxa...
- Não, não, desculpa! Eu quis dizer que era um saco repetir aquele discurso sobre saudade e amor o tempo todo. Você tem que ser mais segura, os caras gostam disso.
- Meu ex está me dando conselhos - que fim de carreira!
- Ai ai...
- Mas e então? É isso que você vai dizer? Que eu te chamei para uma conversa e a gente acabou?
- Na verdade, eles vão sentir um pouco de pena de você eu acho. E depois a gente vai sair pra beber.
- Porque alguém teria pena..?
- Suas amigas não vão ter pena? Eu imagino que o seu remédio seja me rebaixar por aí.
- É, no início é assim.
- Bom. Ótimo. Olha, tem mais alguma coisa que você queira dizer?
- Eu... não.
- Então, se cuida.
- Eu espero que você encontre alguém legal, sabe. Melhor do que eu...
- Já encontrei. Então tá, a gente se fala.
- Mas...
- É, eu acho que elas vão sentir pena.

Rachadura

Meu luto involuntário me agride. Não me sinto tentada a descrever o porquê. Alguns sentimentos simplesmente não são tolerados - não falo de sentimentos "grandes", como o amor e afins, mas sentimentos pequenos, desses que duram alguns instantes e depois se dissolvem, como se nunca tivessem existido. Não que eu não pense que o amor (e afins) possa tomar essa forma, mas falar disso não cabe agora. Eu estou num momento muito "intro" e procurando reavaliar algumas coisas. Eu não consigo me posicionar de forma positiva - o mais próximo da alegria que eu chego (nos meus textos) são aqueles gestos que, à primeira vista, não dizem nada: momentos carpe diem do cotidiano, geralmente. Quer dizer, pra mim é importante acordar e comer torradinhas, por exemplo. O dia que eu tiver que substituí-las por outra coisa me deixará longe do meu primeiro prazer diário. Ok, eu fiquei de escrever sobre meu luto pessoal. Eu até me admirei, porque se ele acontecesse há meses atrás, possivelmente não duraria menos que três dias e seria fruto de algum ressentimento doentio. Eu tenho medo de implodir e escrever me faz bem. Mesmo que seja para dizer essas merdas. É como se eu fosse um copo cheio que não pode deixar a água transbordar (?) - isso me lembra um trecho de "Verônika decide morrer", um livro que eu acho tri legal e, pelo que eu vi, virou filme (com a Buffy). Eu ando confusa, sabe... a gente nunca sabe o quanto os outros estão dispostos a se arriscarem pela gente. Não exatamente "pela gente", mas, enfim, por um bem-estar coletivo. Eu deveria conhecer e respeitar meus limites em relação a isso, mas é como se eles tivessem encolhido com o tempo e, agora, eu tivesse que não só fazê-los voltar ao tamanho original como também aumentá-los ao máximo. É meio estranho pra mim fazer silêncio, sabe. Não que tudo nele seja errado, mas a calmaria toda me incomoda. É como se fosse o prenúncio de uma tempestade violenta o tempo todo. E eu sei que isso é só comigo. Quer dizer, a gente sempre melhora quando dá um sorriso, mas é preciso força para quando não contamos com esse auxílio. (Agora pensei numa campanha bem idiota do tipo Bolsa-Sorriso, com planos de "assistência dentária" - ok, isso ficou horrível -, implantada pelo Lula.) Nesses últimos dias eu conheci duas pessoas que me deixaram bem pensativa: um senhor na rua e um amigo da minha mãe. Descobri que todo mundo que ainda não tinha "virado gay" virou gay. Mas tanto faz: esse é o tipo de coisa que não faz ninguém se sentir melhor. Eu fiquei pensando e eu acho um porre essa mania que os mais velhos (e os jovens também) têm de querer que os jovens saiam o tempo todo: eles mesmos pregam essa regra da vida vazia, de pessoas vazias buscando se encontrar em coisas mais vazias ainda. Quer dizer, não é que eu veja isso desse modo todo o tempo, mas me aborrece ver que a minha opção não é respeitada. Os adultos têm essa mania de querer que a gente corrija os erros das vidas deles nas nossas - isso não é pecado, soa até bonitinho... mas incomoda. Tem horas que eu não sei se a busca pela nossa felicidade (individual) não é totalmente egoísta. Chega de divã por hoje.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

"...mas as letras dele são boas."

"Quando eu fui ferido, vi tudo mudar
Das verdades
que eu sabia
Só sobraram restos que eu não esqueci
Toda aquela paz q
ue eu tinha...

Eu, que tinha tudo, h
oje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia luz,
pensando...
Daria tudo por um modo d
e esquecer...

Eu queria tanto e
star no escuro do meu qu
arto
À meia-noite, à meia luz, s
onhando...
Daria tudo por meu mundo
e nada mais...

Não estou bem certo q
ue ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

Como ser mais livre?
Como ser capaz d
e enxergar um novo dia?

Eu, que tinha tudo, hoje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia luz,
pensando...
Daria tudo por um modo d
e esquecer...

Eu queria tanto e
star no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz, s
onhando...
Daria tudo por meu mundo
e nada mais..."

_
Guilherme Arantes.


Em homenagem ao outro Guilherme, que também escuta escondido.
Aiai, adoro essa letra...


terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Polyamory

Nadaver. Ando meio afastada da ficção, tentando me nutrir de emoções reais. Hoje eu li um pouco de um livro sobre linguagem corporal e, ontem, vi uns dois documentários no Discovery: um sobre sex appeal e outro sobre poliamor. Ambos interessantes, porém o que explicava 'a ciência do sex appeal' era mais um aglomerado de informações quase numéricas, do tipo que tu até acha interessante e lógico, mas não é válido nem fácil de narrar para alguém. Falaram de beleza, de simetria, do número da perfeição, das pequenas mudanças no corpo durante o período fértil da mulher, das diferenças gestuais de homens e mulheres e blablablá... foi como ter uma aula sobre seres humanos, do tipo 'como identificar um homem na rua'. Mas valeu. O outro documentário, que foi da GNT e não do Discovery (lembrei agora), é de uma série que sempre aborda temas polêmicos relativos a sexo e as novas formas de família. Dessa vez não foi diferente: o poliamor é diferente da poligamia, que estabelece uma relação mais aberta e, aparentemente, mais sexual. Tá, é aquela idéia de oposição à monogamia. Já o poliamor é o caso de casamentos com mais de duas pessoas. Não necessariamente vários casais morando juntos: o exemplo dado foi o de uma família de três pessoas, em que uma mulher se casou com um cara há uns dezesseis anos (já afirmando que não seguiria o modelo clássico...) e, uns anos depois, se apaixonou por outro homem. Se casou com ele também e, então, os três moravam juntos. Depois de um tempo os homens afirmaram que se apaixonaram também um pelo outro e então se casaram também. E estão os três, há dez anos, casados entre si. O cara que entrou por último tem uma namorada (que não é dividida...), que freqüenta a casa mas é colocada sob uma hierarquia: a família (os casamentos) está em primeiro lugar. A primeira coisa que se pensa é que os três vivem numa orgia sem fim, aquela coisa de que os três chegam em casa tirando a roupa e etc (palavras do cara), mas no fundo é bem o contrário: cozinhar, limpar a casa, administrar as despesas, e tudo o que se faz normalmente. O sexo fica em segundo plano e raramente é feito em conjunto. Os envolvidos têm momentos a sós com cada um de seus parceiros e nem sempre todos os que compõem o círculo formam necessariamente um casal. É um modo de vida diferente, é claro, e achei interessante falar disso. Apesar de parecer uma coisa de outro mundo, isso se aproxima da idéia divina de amor. Pelo menos pra mim. Porque é bobagem ter preconceito com casais do mesmo sexo ou, enfim, com tudo o que não é o esperado pela idéia de maioria. E quem disse que só se ama uma pessoa na vida? Existem muitas barreiras ainda a serem quebradas... talvez, num distante século do futuro, se possa encarar com naturalidade as escolhas alheias sem nos sentirmos atingidos e ameaçados por elas.
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