As pessoas deveriam ter uma relação com seu estado emocional proporcional a relação de uma lagartixa com seu rabo. Ele sim se regenera - sentimentos não.
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Hoje eu estava conversando com uma pessoa e ela disse coisas que, até certo ponto, me identifiquei. Depois de um tempo, o assunto já mais adiantado, ela começou a parecer um ser totalmente arrogante. Eu questionei-a, disse que ela agia de maneira egoísta, era insensata. Ela me olhou e disse 'sim, eu sou'. Não me supreendi com a sinceridade brutal ou coisa do gênero, mas com a falta de consciência que existia naqueles atos. Claro que isso é a minha opinião mas, de fato, não compreendo.
Essa pessoa e eu temos uma outra pessoa em comum, de quem somos muito próximas. Ela sofreu coisas e, em um determinado momento da vida em que tudo lhe indicava um caminho, ela seguiu por um outro toalmente contrário ao que a razão mandava. Eu me orgulho disso, me orgulho de poder admirar e ser admirada por uma pessoa diferente do padrão. Em todos os sentidos.
Vai fazer uma semana que uma terceira pessoa fez uma determinada 'confissão', se assim posso dizer, para sua amiga e orientadora. Ela poderia ter sido encorajada, recebido força, estímulo, proteção. Mas novamente a situação oposta ocorreu. Nesse caso, foi algo que me surpreendeu horrores. Não esperava que um comunicado fosse capaz de gerar repressão. Ou, nesse caso, traição.
A partir do momento que você confia em alguém e dá a liberdade e a segurança para essa pessoa confiar em você, vocês estão entregues aos laços de afeto e respeito um do outro. Quando cria-se um nó ou as pontas, puídas, se desfazem, todo o acordo é quebrado. Algo praticamente irremediável, sabe.
De repente, eu que estava sendo a pessoa mais feliz do mundo, mergulhei num profundo mar escuro. Não falo em depressão, nos medos de sempre, solidão ou coisas assim. Apenas acho que, a partir do momento em que somos todos únicos dentro do universo individual que é a realidade de cada um, o mínimo que pode ser exigido é respeito e igualdade - palavras chaves. E ponto!
Eu não sinto falta de uma boca para beijar, uma música para escutar, uma festa para ir. Sinto falta de ver olhares no mesmo nível do meu, de me sentir igual - sem precisar me curvar, sem precisar provar minha superioridade. Algumas perguntas, ainda que discretas, poderiam salvar a alegria de muitos, ainda que fosse pro alguns segundos. Mas não: estamos acostumados a pensar pelos outros, 'adivinhar' seus pensamentos e fazer o que achamos que será melhor para o próximo - sem pensar se isso é o melhor de verdade ou se é o mais viável.
O mundo é uma escola, está certo quem afirmou isso. É na escola que a gente erra, aprende, faz provas, conhece gente, fecha a cara, freqüenta na maioria do tempo. Mas é simplesmente a escola. Quem está nela não vê a hora de sair, se aventurar, ainda que não faça idéia do que realmente o espera lá fora. Eu achei outro dia uma música sobre o Apanhador realmente perfeita. Traduzi e tudo e fiquei feliz que alguém tivesse tido a capacidade de escrevê-la.
Todos fazem campanhas, vendem sorrisos, levantam os braços - mas isso é sinônimo de não fazer nada. E quem fica escrevendo ou se masturbando o dia inteiro na frente de um monitor está tão avançado quanto estes novos protestantes. Pessoas que não olham para o mundo como ele é ou foi, mas como ele deveria ser. A essência de tudo está no seu passado. Passado.
Eu descobri o vazio em tantas pessoas, mas tantas pessoas. E descobri tesouros em outras. O que eu sinto nunca foi sentido e afirmo isso com a mesma certeza e fé que faz um homem acreditar em figuras divinas. Eu gosto de me sentir especial e gosto que os demais se sintam livres para sentirem-se como quiserem. No fundo eu não me importo - e isso não faz de mim mais ou menos egoísta do que eu quero ser e sou.
Hoje recebi notícias de que não gostei nem um pouco. Descobri coisas de que não gostei nem um pouco. Não descobri coisas, o que me deixou desgotosa em parte. Mas, o mais importante: hoje eu tive certezas. Fazia um tempão que eu não confiava em nada. No momento estou dividindo pedaços de mim com tantas pessoas. Acho que estou em tornando imortal e ao mesmo tempo eu mesma.
Descobri que querer é poder e que, mesmo quando tudo está certo e algo de muito errado acontece, mesmo quando o mundo dá voltas boas e ruins, devemos guardar nosso conhecimento e nossas experiências para quem realmente merece ouvir. Não é uma questão de amizade, bom-senso ou vontade, mas uma questão de respeito a mim mesma.
Tem gente que nasceu para ser palco, gente que nasceu para ser platéia. Eu nasci para dirigir a joça e decidir quando e qual será o espetáculo. Isso não é arrogância, prepotência ou nada de muito desagradável, apenas auto-conhecimento. Agora eu sei controlar minhas palavras, olhos, mãos. Já estava na hora de olhar para frente, parar de pensar no cabelo e tirar fotos com gente nova. E que minha mãe não se meta, pelo menos nisso.