domingo, 28 de janeiro de 2007

Look at me.

Quando eu era menor, assisti algum programa de tevê que dizia que, ao cruzar com um leão, o certo seria encará-lo bem no fundo dos olhos e ficar total sério e parado. Isso mostraria que você não tem medo dele, logo é tão forte quanto... E eu comecei a usar essa técnica com animais domésticos, na tentativa de privá-los de seus impulsos assassinos (ou me arranhar, morder, coisas assim...), ainda que achasse a idéia meio sem lógica. No meio da cidade, em Porto Alegre, atravessando a rua, seria totalmente impossível encontrar um leão solitário ou qualquer animal de tal porte. Fora isso, meus planos de ir pra África nunca chegaram a acontecer...
Eu cresci temendo olhares e procurando entender o que se passava na cabeça das pessoas por trás deles. E hoje uso a técnica do carinha da tevê com algumas pessoas. Bem infeliz, pois sim. Mas é legal imaginar coisas... do tipo 'quem piscar primeiro perde', sem que o outro saiba das regras... dá uma vaga sensação de que você tem total domínio da pessoa, que você é capaz de prever seus movimentos e até algumas falas. O mais engraçado é pensar que ela está longe de entender quais suas intenções ao olhar pra ela... poderia ser um simples detalhe, achá-la bonita, tentar mostrar sinceridade, timidez ou interesse - enquanto, no fundo, você está propondo um desafio.
Eu fiquei pensando nisso esses dias, pensando que é estranho e chato pensar que ninguém vê o mundo da forma que eu vejo. Não entenda isso como algo egocêntrico ou alguma coisa parecida... eu também gostaria de ver com clareza como é a realidade alheia. São várias delas em um só mundo - e, sim, isso é divino! O que eu quero dizer é que eu deixo rastros, deixo tudo nas entrelinhas... e é infeliz ver que não são todos que percebem ou buscam isso. São poucos também os que guardam um pedaço de si em segredo... Fazer da vida um livro é uma coisa, abrí-lo é outra. E, talvez, enquanto eu penso nisso, alguém esteja me observando de um modo chato, quase que compulsivo... e, quando eu me virar para a pessoa, para encará-la, ela pense que venceu seu desafio - afinal, eu pisquei os olhos primeiro ou, no mínimo, tenha feito os mesmos gestos que ela pensou que eu faria.
Estranho, não?

Um comentário:

Cristian Korny disse...

eu tentei fazer isso de olhar fixo e imóvel para um gorila uma vez no zoológico e ele me jogou um monte de cocô, eu entendi que podia estar sendo coverde em encará-lo enquanto ele estivesse preso e isso o ofendia, e assim o animal estava mostrando despreso pela covardia minha.

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